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Papa se nega a comentar acusações de abuso contra cardeal McCarrick

Papa Francisco foi acusado de ter encoberto a atuação do cardeal americano Theodore McCarrick, acusado publicamente de cometer abusos sexuais

Papa FranciscoPapa Francisco - Foto: AFP

O papa Francisco considerou desnecessário neste domingo (26) comentar as graves acusações feitas contra ele em um texto, segundo o qual o pontífice teria encoberto durante seu mandato a atuação do cardeal americano Theodore McCarrick, acusado publicamente em julho de cometer abusos sexuais. "Não vou dizer nem uma palavra sobre este caso. Acho que o comunicado fala por si só", declarou o papa, ao ser perguntado a respeito no avião que o leva de volta a Roma, após sua visita à Irlanda.

Ex-embaixador do Vaticano em Washington, o arcebispo Carlo Maria Vigano, acusou o papa Francisco em carta aberta publicada no fim de semana, de ter anulado as sanções contra o cardeal McCarrick e de ter ignorado as advertências internas sobre o comportamento sexual do cardeal com jovens seminaristas e párocos.

"Li esse comunicado esta manhã", declarou o papa aos jornalistas que o acompanhavam na aeronave, em alusão à carta. "Leiam com atenção o comunicado e julguem vocês mesmos", disse. "Vocês têm a capacidade jornalística suficiente para tirar conclusões. É um ato de confiança. Quando passe um pouco o tempo e vocês tiverem as conclusões, talvez fale, mas gostaria que sua maturidade profissional faça o seu trabalho. Isso lhes fará realmente bem", aconselhou o pontífice aos jornalistas.

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"A corrupção alcançou o topo da hierarquia da Igreja", diz Vigano em sua carta, na qual pede, inclusive a demissão do papa Francisco. Seu texto, de 11 páginas, foi difundido simultaneamente no sábado em várias publicações católicas americanas de tendência tradicionalista ou ultraconservadora, assim como em um jornal italiano de direita.

O Pontífice assegurou, por outro lado, que sofreu muito ao conversar no sábado com oito vítimas irlandesas de abuso sexual. O papa se reuniu durante uma hora e meia com vítimas de abusos cometidos por clérigos, religiosos ou membros de instituições católicas."Sofri muito. Acho que tinha que escutar essas oito pessoas. E dessa reunião saiu a proposta - que fiz eu mesmo, mas que elas me ajudaram a fazer - de pedir perdão hoje durante a missa, mas por coisas concretas", explicou.

O papa mostrou-se particularmente comovido com o destino de moças solteiras que foram obrigadas, maciçamente e com a cumplicidade de instituições religiosas, a entregar seus filhos à adoção."Nunca tinha ouvido falar disso", admitiu. referindo-se ao encontro com duas pessoas que foram adotadas ilegalmente. "Foi doloroso para mim", afirmou, embora também tenha destacado o "consolo de poder ajudar a esclarecer as coisas".

Entre as vítimas estava sua ex-conselheira sobre abusos do clero contra menores, a irlandesa de Marie Collins, que aos 13 anos sofreu abusos sexuais de um sacerdote. Collins renunciou à comissão antipedofilia, lamentando os obstáculos criados por alguns nomes da Cúria. Também criticou o abandono, por parte do Vaticano, de uma proposta do papa de criar um tribunal especial para julgar os bispos que cometeram ou acobertaram abusos.

"Vimos que este tribunal não era viável nem prático pro causa das diferentes culturas dos bispos que devem ser julgados", afirmou no domingo o papa, ao sugerir em troca a formação, para cada caso, de um júri composto por prelados. Francisco recordou que "muitas vezes são pais que acobertam os padres que cometem abusos e se convencem de que isto não é verdade". É necessário "falar com as pessoas justas", um juiz ou um bispo, recomendou, e fazer uma investigação em caso de suspeitas, respeitando sempre a presunção de inocência, completou.

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