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Portugal decreta três dias de luto em homenagem ao ex-presidente Mário Soares

Soares foi um dos principais artífices do retorno da democracia a Portugal e de sua posterior integração à Europa

Para ingressar no curso é preciso ser morador de IgarassuPara ingressar no curso é preciso ser morador de Igarassu - Foto: Ivonildo Pedro

O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, anunciou neste sábado (7) que o governo decretou três dias de luto oficial, a partir de segunda-feira, pela morte do ex-presidente Mário Soares. Será feito um funeral com honras de Estado.

António Costa fez o anúncio em Nova Deli, na Índia, onde faz até quinta-feira uma visita de Estado.

O ex-presidente de Portugal Mário Soares morreu hoje aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde se encontrava internado desde o dia 13 de dezembro.

'Pai da democracia portuguesa'

Pilar da vida política portuguesa no século XX, Mario Soares, que morreu neste sábado, aos 92 anos, foi um dos principais artífices do retorno da democracia a Portugal e de sua posterior integração à Europa.

Fundador do Partido Socialista, ministro das Relações Exteriores, duas vezes chefe de governo, 10 anos presidente antes de ser deputado europeu, Soares era considerado o "pai da democracia portuguesa", por ter encarnado a história recente do país.

"Sou um pobre homem que teve a sorte de ter tomado uma posição e acertado", disse, em entrevista publicada em fevereiro de 2015, rejeitando o rótulo de imortal.

Este bon vivant de aparência aprazível, grande sedutor, humanista e amante dos livros tinha o carisma dos líderes de que não perdem o contato com as pessoas.

Filho de um padre que abandonou a batina, definia-se como agnóstico e dizia acreditar "na humanidade e em sua capacidade de se aperfeiçoar".

Homem de convicções e lutas, Soares, nascido em 7 de dezembro de 1924, em Lisboa, tinha 18 anos e estudava Filosofia e Direito quando se comprometeu com a oposição à ditadura de Antonio Oliveira Salazar.

Licenciado em 1957, o jovem advogado defendeu vários opositores do Estado Novo (1933-1974), o que lhe rendeu três anos de prisão. Detido novamente pela polícia política em 1968, foi deportado para a colônia africana de São Tomé e Príncipe e condenado ao exílio em 1970.

Descolonizador

Instalou-se, então, na França, onde lecionou em várias universidades. Em 1973, participou da fundação, na Alemanha, do Partido Socialista português, do qual foi o primeiro secretário-geral.

Quando aconteceu a revolta militar de 25 de abril de 1974 e a Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura e à guerra colonial, Soares pegou o primeiro trem para Lisboa, onde foi aclamado como herói.

No governo interino da junta militar, encarregou-se de organizar a independência das colônias e se opôs à tentativa dos militares ligados ao Partido Comunista de tomar o poder.

Ministro das Relações Exteriores até 1975, Soares foi nomeado chefe de governo em 1976, após as primeiras eleições legislativas.

Renunciou em 1978, antes de voltar a se tornar primeiro-ministro, em 1983, aplicando uma política de ajuste e reformas sob a tutela do Fundo Monetário Internacional (FMI), o que abriu caminho para a adesão do país à União Europeia, em 1986.

Soares foi eleito presidente no ano seguinte, para um primeiro mandato de cinco anos, antes de uma reeleição triunfal em 1991, com mais de 70% dos votos no primeiro turno.

Deputado europeu de 1999 a 2004, tinha 80 anos quando travou sua última batalha política, ao se candidatar às eleições presidenciais de 2006, que perdeu para o conservador Aníbal Cavaco Silva, também ex-premier e grande rival de Soares.

Contra o capitalismo selvagem

Este revés foi particularmente duro para Soares, que ficou em terceiro lugar, atrás de seu ex-companheiro de estrada Manuel Alegre, líder histórico do PS, que se candidatou como independente.

Decepcionado, Soares se retirou por alguns meses da vida pública, mas rompeu rapidamente o silêncio para opinar com regularidade na imprensa.

Quando o país foi duramente atingido pela crise da dívida e se encontrou à beira da falência, em 2001, denunciou a falta de solidariedade dos grandes países europeus, que, segundo ele, "esqueceram-se do projeto dos pais fundadores" para se renderem ao "capitalismo selvagem".

Sob a aura de senador, tornou-se um dos críticos mais ouvidos da política de rigor implementada pelo governo anterior, de centro-direita, sob a tutela de UE e FMI.

A partir dos 90 anos, dedicou suas últimas intervenções à defesa do ex-premier José Socrates, acusado em um caso de corrupção.

Após a morte, em 2015, de sua mulher e mãe de seus dois filhos, a atriz Maria Barroso, suas aparições públicas se tornaram cada vez menos frequentes.

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