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"Posso trabalhar com quem o Brasil escolher para governar", diz Macri

Ele lembrou que sua primeira viagem após ser eleito foi ao Brasil, mesmo após Dilma ter apoiado oficialmente seu opositor

Filme "Mundos Opostos"Filme "Mundos Opostos" - Foto: Divulgação

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, afirmou nesta quarta-feira (28) que, apesar das mudanças radicais na condução da política adotadas pelo presidente Michel Temer, o governo brasileiro é de continuidade.

"Independentemente de quem tenha sido convocado para o gabinete", disse em entrevista a jornais brasileiros, entre eles a Folha de S.Paulo. Prestes a receber Temer -este em sua primeira visita oficial-, Macri diz poder trabalhar com o Brasil tendo qualquer dirigente. Ele lembrou que sua primeira viagem internacional após ser eleito, em novembro do ano passado, foi ao Brasil, mesmo após o governo petista ter apoiado oficialmente seu opositor, o peronista Daniel Scioli.

A ex-presidente Dilma Rousseff chegou a receber Scioli em Brasília antes do pleito e disse que só não se encontrou também com Macri por não ter recebido um pedido de audiência. "Brasil e Argentina estão acima da política conjuntural", frisou. "Posso trabalhar com quem o Brasil escolher para governar. De resto, não cabe a mim participar. Mas, se me perguntar qual figura me desperta mais respeito na política brasileira nos últimos 20 anos, claramente é Fernando Henrique Cardoso."

O ex-presidente brasileiro esteve em Buenos Aires na última semana, quando fez uma visita a Macri. Sobre o encontro, o argentino disse que apenas ouviu seu colega. "Eles é uma pessoa para se escutar." Macri voltou a defender que o processo de impeachment de Dilma respeitou os passou constitucionais. "Não estou de acordo [com a tese de que houve um golpe no Brasil], mas não sei se considerar [essa hipótese] é algo absurdo".

Enquanto alguns países da região não reconheceram Temer como presidente -como a Venezuela- ou o fizeram com algumas críticas -como o Uruguai- a Argentina foi o primeiro a afirmar que o novo governo era legítimo.

Questionado sobre os possíveis protestos com os quais Temer deverá ser recepcionado no país, o presidente disse apenas que todos têm direito a se expressar na Argentina. A visita do par brasileiro a Buenos Aires, agendada para a próxima segunda-feira (3), deverá focar na revitalização do Mercosul.

VENEZUELA


O presidente argentino foi incisivo sobre a participação da Venezuela no Mercosul. Para ele, o país não acrescentou nada ao bloco e, se não se adequar a todas as regras até dezembro, deverá ser eliminado.

"O Mercosul seguiria adiante de uma forma mais fácil sem a Venezuela de hoje do que com essa atual Venezuela. Hoje, o país não cumpriu os requisitos que tinha que cumprir para ser um membro ativo do Mercosul. Se, em 1º de dezembro, não os cumprir, deixará de pertencer ao Mercosul."

Assim como defendeu o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, nesta semana, o argentino também afirmou que se deve aplicar a maior pressão possível sobre Nicolás Maduro para que ele respeite os direitos humanos na Venezuela e realize o referendo revogatório ainda este ano.

"Devemos aos venezuelanos uma defesa irrestrita de seus direitos, que hoje são violados por um governo que atropelou as instituições democráticas. (...) Sinto que o governo de Maduro radicaliza suas posições em vez de gerar uma abertura ao diálogo."

Macri e Maduro, que costumam trocar críticas com frequência, estiveram pela primeira vez em um mesmo lugar na última segunda (26), em Cartagena, onde o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) assinaram um histórico acordo de paz. Segundo Macri, eles não se viram.

CRISE ECONÔMICA

Questionado sobre a crise econômica pela qual passa a Argentina (a queda do PIB foi de 1,7% no primeiro semestre), Macri destacou que parte do problema se deve à situação brasileira.

"Se o Brasil deixa de cair, nos ajudará, porque o país é o principal comprador da Argentina. Então há uma parte importante da recessão que tivemos no último ano que se explica pela crise brasileira."

Macri voltou a repetir que a desaceleração argentina também decorre da situação em que sua antecessora, Cristina Kirchner (2007-2015), deixou o país. Para ele, a Argentina está bem quando se considera essa herança. "Não é fácil começar um governo depois de uma década de inflação altíssima, deficit fiscal forte, perda de reservas e de competitividade."

A opção de política econômica de Macri foi estabilizar a economia -com unificação e desvalorização do peso, pagamento dos fundos abutres e retirada de subsídios a serviços básicos, como luz e gás- para que as empresas realizassem investimentos que estimulassem o crescimento.

Até agora, no entanto, houve uma redução de 3,3% e 4,9% nos investimentos em máquinas e equipamentos no primeiro e no segundo trimestre deste ano, respectivamente. O presidente disse desconhecer esses números e que as informações que tinha era que, desde que assumiu, empresas se comprometeram a injetar US$ 40 bilhões no país. "Isso mais que duplica a média dos últimos anos."

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