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Presidente turco nomeia reitores e provoca tensão nas universidades

Governo afirma que substituir as eleições de reitores por uma nomeação direta permite evitar as lutas de clãs nas universidades

Câmara Municipal do RecifeCâmara Municipal do Recife - Foto: wikipedia

A decisão de conceder ao presidente Recep Tayyip Erdogan o poder de nomear os reitores das universidades na Turquia, após o fracassado golpe de Estado, provoca inquietação nos campi, onde professores e estudantes temem a interferência do governo.

Na semana passada, Erdogan designou Mehmed Özkan para substituir a muito popular Gülay Barbarosoglu, que havia sido eleita com folga para comandar prestigiosa Universidade do Bósforo, símbolo da elite do país.

O governo afirma que substituir as eleições de reitores por uma nomeação direta permite evitar as lutas de clãs nas universidades.

Os opositores à medida acusam o governo de querer reforçar seu controle sobre os campi, redutos da liberdade de opinião, e comparam a iniciativa à nomeação de administradores para governar os municípios curdos no sudeste do país.

Após a tentativa de golpe de 15 de julho, as eleições de reitores nas 181 universidades do país foram suspensas. Agora o presidente da República escolhe uma pessoa entre três candidatos propostos pelo Conselho de Ensino Superior (YÖK).

No prazo de um mês após a apresentação da lista de candidatos do YÖK, o presidente pode, se assim desejar, escolher outro nome para ocupar o cargo.

À primeira vista, a tranquilidade reina na Universidade do Bósforo, mas um olhar mais atento comprova a inquietação.

"Se estou inquieto? Sim, muito. E os estudantes também", confessa um professor que pede anonimato.

Após o golpe frustrado, o expurgo
Após a tentativa de golpe de julho, o governo executou um expurgo que afetou em particular as universidades, com a detenção de centenas de professores.

Poucos dias depois do golpe frustrado, o YÖK exigiu a demissão de 1.577 decanos de universidades públicas e privadas.

Após a nomeação de Özkan para como seu substituto, Barbarosoglu - eleita em 12 de julho com 86% dos votos para comandar a Universidade do Bósforo - anunciou o fim de sua carreira acadêmica.

Seu sucessor, que tem um irmão deputado que pertence ao partido governista AKP, não havia apresentado a candidatura à disputa.

Após a substituição, protestos foram registrados e dois estudantes detidos, mas já liberados.

"Nosso combate não é político. Defendemos a autonomia acadêmica para que as universidades permaneçam à margem da política", afirmou à AFP Mert Nacakgedigi, diretor do Comitê de Estudantes da Universidade de Bósforo.

"A universidade não foi consultada antes da nomeação de Ozkan. Não houve debate", lamentou.

O governo alega, sem convencer os opositores, que o novo processo permite evitar a polarização dos corpos acadêmico e de estudantes nas eleições para o posto de reitor.

O novo reitor da Universidade do Bósforo se comprometeu a "redobrar esforços" para proteger a liberdade de opinião no campus, ao tomar posse nesta segunda-feira.

Mas a promessa não tranquilizou muitos estudantes, que temem o fim da diversidade política e de opiniões no ambiente universitário.

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