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'Trumpismo': um movimento efêmero ou um fenômeno que veio para ficar

Se a direção e os poderosos do partido republicano tomaram uma distância Trump, o eleitorado partidário o seguiu

Donald John Trump é um empresário e candidato a presidente dos Estados Unidos nas eleições de 2016Donald John Trump é um empresário e candidato a presidente dos Estados Unidos nas eleições de 2016 - Foto: Spencer Platt/AFP

Para além do resultado das eleições presidenciais da próxima terça-feira nos Estados Unidos, o movimento iniciado e conduzido por Donald Trump, com uma retórica incendiária contra tudo e contra todos, parece ter chegado para ficar no seio do partido republicano.

Quando o bilionário de 70 anos, que nunca ocupou um cargo eletivo, anunciou no ano passado sua candidatura presidencial, a maioria achou piada.

Mas desde esse dia, Trump esmagou todos os seus adversários, inclusive pesos-pesados das fileiras republicanas, pôs de joelhos um partido político centenário e disputa cabeça a cabeça a Casa Branca com a democrata Hillary Clinton.

Mas se a direção e os poderosos cardeais do partido republicano tomaram uma distância prudente de Trump, o eleitorado partidário o seguiu em peso, ao ver nele um porta-voz de sua raiva e de seus medos.

Em outubro, uma pesquisa de opinião para descobrir quem os eleitores americanos identificavam como o mais representativo do ideário republicano, 51% mencionaram Trump contra 33% para Paul Ryan, presidente da Câmara de Representantes.

Eleitores que pertencem a Trump
Mas Trump fez o partido republicano se partir ao meio não apelas pela brutalidade de sua retórica, nem por lhe roubar o eleitorado, mas também por tê-lo feito usando vários argumentos contrários à ortodoxia conservadora.

Trump mostrou ser um inimigo do livre comércio, um isolacionista, radical em temas sobre imigração e mais tolerante nas ajudas sociais. Inclusive chegou ao ponto de propor uma licença maternidade paga, uma verdadeira heresia para o ideário republicano.

"Os líderes dos partido republicano detestam Trump. Eles gostariam de ter esse eleitorado. Mas esses eleitores pertencem agora a Trump", disse Robert Shapiro, professor da Universidade de Columbia, em Nova York.

Jeanne Zaino, do Iona College de Nova York, afirma que Trump "mudou a forma de fazer campanha. É possível que vejamos mais candidatos tentando fazer o mesmo, de passar ao largo dos partidos, com ajuda das redes sociais".

Na opinião de Zaino, "há um fio de enorme populismo no partido republicano e também no partido democrata. Será um desafio para os dois partidos recuperar essa base eleitoral que está realmente frustrada".

O candidato anti-establishment
Essa frustração do eleitoral é precisamente o trampolim de Trump, que baseou sua campanha apresentando-se como o candidato anti-'establishment' e apelando para denúncias de que todo o sistema eleitoral está repleto de armadilhas.

Em sua campanha, Trump insultou as mulheres, os latinos, os muçulmanos, as pessoas com deficiência, os jornalistas e Hillary Clinton.

Seu índice de rejeição supera os 60% e na campanha passou por escândalos espetaculares por apalpar mulheres ou fazer comentários ofensivos contra uma ex-Miss Mundo. E no entanto, seus apoiadores se mantiveram firmes.

O consultor político Roger Stone disse, em entrevista recente, que o partido republicano não será mais "o partido 'country club' de Jeb Bush, nem do 'establishment de Paul Ryan ou Mitch McConnell (líderes das duas câmaras no Congresso) em Washington".

Para Stone, o movimento de Trump será "dominante no partido, será importante e será influente". "Eu acho que se manterá como uma força política", disse Zaino.

Por isso, alguns analistas não descartam, inclusive, que Trump crie seu próprio movimento político, apoiado na gigantesca base de dados eleitorais, acumulada durante a campanha.

Homem completamente imprevisível, Trump também poderá simplesmente voltar aos negócios e proteger a 'marca Trump'.

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