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Uruguai se torna primeiro país a vender maconha estatal

Apenas cidadãos uruguaios, ou residentes legais no país, são autorizados a comprar a erva nas farmácias

Fila para comprar maconha em frente a farmácia no UruguaiFila para comprar maconha em frente a farmácia no Uruguai - Foto: MIGUEL ROJO / AFP

O Uruguai começou a vender em farmácias, nesta quarta-feira (19), maconha para uso recreativo, produzida sob controle do Estado, um sistema aplicado pela primeira vez no mundo e que aponta para uma mudança na política de combate às drogas.

Às 8h (hora local e de Brasília), o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA) publicou a lista de farmácias que vão participar do programa. São 16 em todo país.

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Em uma farmácia da Cidade Velha de Montevidéu, no centro da cidade, uma fila de compradores se formou logo cedo esta manhã. Assim que o estabelecimento foi aberto, cinco pessoas compraram a maconha estatal.

"Fumo desde os 14 anos. Vamos provar", declarou à AFP um homem de 37 anos que não quis se identificar.

Assim como o comprador, a farmacêutica responsável não quis fornecer sua identidade e se limitou a declarar que a venda de maconha com fins recreativos é "apenas mais um serviço".

Os farmacêuticos estão céticos em relação à rentabilidade do negócio. Para fazer a compra, é preciso se registrar, e cada pessoa inscrita tem direito a comprar 40 gramas mensais, a US$ 1,30 o grama.

Desde o início de maio, cerca de 5.000 pessoas se inscreveram para comprar a droga por meio desse sistema.

O governo não conseguiu firmar acordos com as grandes redes de distribuição, e o número de pontos de venda não cobre todo o território deste país de 3,4 milhões de habitantes.

Em Montevidéu, onde vive a metade da população uruguaia, há apenas três pontos de venda.

Maconha estatal

Produzida por duas empresas privadas em áreas sob vigilância oficial e sujeitas a um monitoramento da qualidade do produto, a maconha de uso recreativo é vendida ao público em recipientes branco e azul, contendo cinco gramas da droga.

Há duas variedades do produto disponíveis em embalagens seladas: "Alpha I" e "Beta I", correspondentes às variedades "Indica" e "Sativa" da planta.

Compradores, com os quais a AFP conversou, adquiriram - em todos os casos - 10 gramas da droga, sendo 5 gramas de cada variedade.

O registro do cliente é comprovado por meio de um sistema que lê suas impressões digitais, sem a necessidade de apresentar seu documento de identidade.

O cronograma para a venda de maconha ao público em farmácias foi o ponto mais conflituoso e complexo dessa lei, apresentada e aprovada durante o mandato do então presidente de esquerda José Mujica (2010-2015) como estratégia de luta contra o narcotráfico.

A legislação habilita três vias para se ter acesso à cannabis: cultivo em lares, cultivo cooperativo em clubes e venda em farmácia de maconha produzida por empresas privadas controladas pelo Estado.

Apenas cidadãos uruguaios, ou residentes legais no país, são autorizados a comprar a erva nas farmácias, o que elimina a possibilidade de comercialização para turistas.

Segundo dados oficiais, há 63 clubes de produção em funcionamento, 6.948 cultivadores privados e 4.959 consumidores em farmácias registrados oficialmente.

O ex-presidente do país, José Mujica, que promulgou a lei da legalização, disse nesta quarta-feira a um canal local de televisão que "não se pode ter preconceitos. O Uruguai está ensaiando um caminho".

"Não existe nenhum vício que seja bom, mas me parece terrível condenar uma planta maravilhosa", completou.

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