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EUA

Netanyahu chega aos EUA para reunião com Trump

Apoiador do republicano durante a campanha, premier israelense não mostra disposição para retirar tropas do enclave, mas não quer contrariar o governo americano

Donald Trump e Benjamin NetanyahuDonald Trump e Benjamin Netanyahu - Foto: Reprodução/X

No dia em que devem ser retomadas as negociações sobre o cessar-fogo na Faixa de Gaza, com foco na implementação da segunda fase do acordo, o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, se encontra na terça-feira com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, na primeira visita de um líder estrangeiro neste novo mandato.

Segundo a imprensa israelense, Netanyahu quer obter o aval para “erradicar” o grupo terrorista Hamas, sem se comprometer com a retirada militar do território.

De acordo com fontes do governo israelense, citadas pelo jornal Haaretz, Netanyahu tem deixado claro que não tem interesse em "em encerrar a guerra" e "não está interessado" em adotar a segunda fase do acordo firmado no mês passado, que fala no retorno de todos os reféns e da retirada completa de seus militares de Gaza.

Pelos termos do acordo, a negociação para implementar essa segunda fase deveria começar 16 dias depois da assinatura do plano, ou seja, nesta segunda-feira.

"Sua coalizão vai desmoronar se for aprovada", disse uma fonte ao Haaretz, citando as desavenças entre os membros mais radicais de seu Gabinete.

O premier quer levar a Trump sua ideia de que é necessário “erradicar” o Hamas, o que significaria o retorno aos combates em Gaza — integrantes da Casa Branca acreditam que o grupo terrorista não pode voltar a comandar o enclave, mas não parecem interessados em dar sinal verde para que Israel quebre o acordo e retome a guerra.

Segundo um relatório do Centro Soufan para o Oriente Médio, Washington sinalizou a Israel que "a retomada dos combates no Oriente Médio fará com que a equipe de Trump não aborde o que ele define como prioridades mais urgentes", como "proteger a fronteira dos EUA da imigração irregular e resolver a guerra entre Rússia e Ucrânia".

Na véspera da reunião, Trump não deu detalhes sobre o que planejava falar com Netanyahu.

— As discussões sobre o Oriente Médio com Israel e vários outros países estão progredindo — disse a jornalistas na Base Aérea de Andrews. — Bibi [apelido para Benjamin] Netanyahu vem na terça-feira e acho que temos algumas reuniões muito importantes agendadas.

Ainda sem promessas claras, Netanyahu tenta se adequar às regras.

No sábado, representantes do governo israelense afirmaram ao Haaretz que as negociações sobre a segunda fase do plano ocorreriam entre os chefes das delegações nesta segunda-feira, conforme previsto, no Catar ou em algum país europeu.

Contudo, em uma reviravolta de última hora, Netanyahu disse que a retomada oficial do diálogo ocorreria em uma reunião dele com o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Wittkoff, na capital americana, nesta segunda-feira.

Com isso, ele cumpre os termos do acordo de paz, ao mesmo tempo, em que evita se comprometer com o envio de uma delegação israelense às novas rodadas de conversas, que ainda não têm data ou local para acontecer.

— Ainda não há nada claro sobre onde as delegações virão e quando isso vai acontecer — afirmou o premier do Catar, Mohammed al-Thani, após reunião com o chanceler da Turquia, Hakan Fidan. — Esperamos começar a ver algum movimento nos próximos dias. É fundamental que façamos as coisas andarem a partir de agora.

O acordo de cessar-fogo firmado no mês passado está centrado em três fases para o fim da guerra e a pavimentação de uma paz sustentável no enclave palestino.

Na primeira, em vigor há duas semanas, previa o fim dos combates, o retorno de 33 dos reféns sequestrados em 7 de outubro de 2023, a entrada de ajuda humanitária, o retorno da população civil às suas casas e o reposicionamento interno de tropas israelenses. Esta fase tem a duração prevista de 42 dias.

Na segunda, que deve começar a ser discutida nesta segunda-feira, ao menos oficialmente, está previsto o retorno de todos os reféns — incluindo os restos mortais dos que perderam a vida —, a libertação de um número ainda a ser determinado de prisioneiros palestinos e a declaração de uma “calma sustentável”.

Contudo, esta fase, também prevista para durar 42 dias, estabelece ainda que todas as tropas israelenses deverão deixar Gaza, algo que o premier já se declarou contrário, assim como outros membros de seu Gabinete.

De acordo com o Haaretz, Netanyahu vai delegar um maior papel nas negociações ao ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, e ao chefe do Mossad, David Barnea, dois aliados que devem seguir suas ordens à risca.

— A nomeação de Dermer é preocupante porque ele é o homem do primeiro-ministro para missões especiais. Netanyahu confia nele implicitamente, em contraste com as críticas que ele fez sobre a conduta da atual equipe de negociação — disse uma fonte do governo israelense ao Haaretz. — Israel não precisa sabotar o acordo em si, mas pode estabelecer condições que farão o Hamas explodi-lo.

Existe a expectativa de que Trump avance em sua proposta para que os países da região recebam cerca de um milhão de moradores de Gaza durante o processo de reconstrução do enclave — a terceira fase do acordo prevê o estabelecimento de planos futuros para o território.

A ideia foi rechaçada por governos árabes, mas recebeu apoio de integrantes mais radicais da coalizão de Netanyahu. Até o momento, o premier diz não ter planos para autorizar colônias judaicas em Gaza.

Netanyahu ainda espera sair de Washington com acenos relacionados ao hoje estagnado processo de normalização de laços com a Arábia Saudita, nos moldes dos chamados Acordos de Abraão, firmados por Trump em seu primeiro mandato.

Riad afirma que só retomará as conversas após o fim dos combates em Gaza, e estipula que qualquer acordo definitivo com os israelenses só ocorrerá após o estabelecimento de um Estado palestino.

Um dia após sua posse, no mês passado, Trump mostrou confiança em um acerto.

— Acho que a Arábia Saudita acabará entrando nos Acordos de Abraão em breve. Não vai demorar muito — disse aos jornalistas no Salão Oval.

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