No meio do caminho...
Reflexões drummondianas de um arrependido
No meio do caminho não tinha obstáculo, mas eu o enxerguei.
No meio do caminho não tinha um inimigo, mas eu o criei e o cultivei.
No meio do caminho não tinha preguiça, mas minha indolência me fez parar, parar devagar, tão devagar que, pelas minhas próprias pernas, caí.
No meio do caminho tinha uma carta de amor, que nunca li.
No meio do caminho, tinha um diário, que eu não escrevi.
Tinha um segredo, que nunca contei. Na ignorância vivi.
No meio do caminho tinham amigos, muitos amigos!
Com esses amigos eu nunca chorei, nunca sorri e nem nunca confiei.
No meio do caminho tinha alguém.
Tive medo e não me entreguei.
No meio do caminho tinha um desafio. Bolsa no exterior. Dois anos de batalha e, depois, o incerto.
Não fui, fiquei e não arrisquei.
No meio do caminho tinha uma música, a qual eu nunca senti.
A emoção perdi.
No meio do caminho tinha uma perda. Perda enorme de um ente querido.
Com medo de sofrer, não deixei doer.
Perdi de aprender.
Parecia também ter morrido.
No meio do caminho havia o vento na pele e nos cabelos, o gosto salgado do mar, um peixe dourado fisgar meus dedos na busca do pão molhado, o susto de um trovão, a gripe da chuva, a dor de um tornozelo contundido, areia no olho, água no ouvido.
Porque me preservei, nada foi por mim foi sentido.
Ai, Drummond!!! Quem dera eu tivesse a sua pedra no meu caminho!
Talvez eu tropeçasse e acordasse para a vida!