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Rio de Janeiro

Novo Canecão terá espaço para até seis mil pessoas; obras da casa de shows devem começar em junho

Complexo cultural integrado será construído no lugar da antiga casa de espetáculos, em Botafogo. Espaço será transformado em prédio de três andares, com linh

Prédio do novo Canecão terá três andares, linhas curvas e fachada envidraçada: sala de espetáculos poderá abrigar até seis mil pessoas de pé ou 2,7 mil sentadas Prédio do novo Canecão terá três andares, linhas curvas e fachada envidraçada: sala de espetáculos poderá abrigar até seis mil pessoas de pé ou 2,7 mil sentadas  - Foto: Divulgação

Um prédio de três andares, com linhas curvas e fachada envidraçada de frente para a ampla praça arborizada. Essa será a visão do público na chegada ao novo Canecão, no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Praia Vermelha.

A versão definitiva do projeto, em fase de licenciamento na prefeitura, prevê a construção de um complexo cultural integrado, com diferentes ambientes, para oferecer desde óperas e grandes shows a espetáculos mais intimistas. A previsão do consórcio — que venceu a concessão em 2023 para implantar e explorar o espaço por 30 anos — é iniciar as obras até junho. O espaço, fechado há 14 anos, deve ficar pronto no primeiro trimestre de 2026.

Assinado por João Niemeyer, sobrinho do arquiteto Oscar Niemeyer, o projeto é bem diferente do modelo conceitual que orientou a licitação. A proposta no edital previa que o painel de Ziraldo, instalado em 1967 quando a casa de shows foi inaugurada, fosse restaurado e ficasse em um ambiente em separado. Agora, a obra ficará exposta no hall de entrada do prédio, perto do acesso à grande sala de espetáculos.

— A proposta é ter um novo conceito de entretenimento no país, que se mantenha atualizado por 30 anos. Isso se dará não apenas com a construção de um prédio moderno, mas também com a tradição, na forma de restauração do painel do Ziraldo — explicou João Niemeyer.

Salas de aula e bandejão
O custo total das intervenções chega a R$ 170 milhões. O investimento inclui a contrapartida definida na concessão. A empresa vai erguer um novo prédio com 80 salas de aula para a UFRJ e um bandejão com capacidade para preparar até 2,5 mil refeições por dia. Todas as novas instalações, da universidade e do complexo cultural, serão abertas simultaneamente.

O projeto também prevê um restaurante com dois pavimentos, onde ocorrerão performances musicais, e estúdios que serão administrados por uma gravadora. As atrações que vão se apresentar no complexo — de bandas de rock a óperas — terão à disposição um palco bem diferente daquele do velho Canecão, que fechou as portas em definitivo em outubro de 2010. Já a sala de espetáculos — ao todo, são 3,3 mil metros quadrados — poderá ser usada para receber um público de seis mil pessoas de pé, ou 2,7 mil acomodadas em torno de mesas no térreo. A lotação da antiga casa era de 3,5 mil.

— Os artistas se apresentarão em um palco italiano (de formato retangular, com uma abertura de frente para o público), e teremos espaço para orquestras se apresentarem ao vivo. A proposta é levarmos para lá atrações nacionais e internacionais, com agendas em pelo menos 160 dias por ano — disse o CEO da concessionária, André Torós.

O passado do Canecão não será esquecido. No subsolo, um museu interativo de mil metros quadrados contará a história de uma das casas de espetáculos mais emblemáticas do país. Originalmente, os empresários pensavam em ter uma espécie de memorial do antigo reduto de shows na própria sala de concertos. A proposta evoluiu. Boa parte do acervo — incluindo fotos de shows, originais de contratos com artistas e gravações feitas na época — será cedida pelo Instituto Ricardo Cravo Albin, que recebeu o material do fundador do Canecão, Mário Priolli, logo após a casa fechar as portas.

— Além disso, vamos usar inteligência artificial para complementar esse memorial — acrescentou Torós.

Ricardo Cravo Albin, por sua vez, diz que há duas semanas contratou um pesquisador para fazer a catalogação do material que irá para o museu. Entre 1967 e 2010, o Canecão recebeu da portuguesa Amália Rodrigues e do norte-americano James Brown à companhia francesa Moulin Rouge. Fora nomes tarimbados da MPB, como Roberto Carlos, Chico Buarque e Cazuza.

— O Canecão é um marco cultural do Rio. Seu valor foi reconhecido por restrelas internacionais que em temporadas no Brasil exigiam se apresentar na casa. O museu vai preservar essa memória — diz Cravo Albin.

André Torós revelou que o antigo Canecão não estará só em lembranças: a estrutura de madeira do palco será reaproveitada na obra de alguma forma. Ele contou ainda que, apesar da inauguração estar longe, haverá atividades já este ano para que a população entre no clima de contagem regressiva. Ainda sem data, será lançado até dezembro o documentário “Canecão: Tantas Emoções”, com depoimentos de artistas e ex-funcionários gravados em 2023.

— Durante as obras, vamos criar um espaço com maquetes e outras informações para que o público acompanhe a execução das obras — prometeu Torós.

 

‘Uma dívida com a cidade’
O Canecão fechou em 2010 em meio a uma disputa entre o empresário Mário Priolli e a UFRJ, dona do imóvel. O casa de shows ocupava o espaço há anos, sem autorização formal da universidade.

— Agora, a UFRJ quita uma dívida com a cidade, com a cultura e, especialmente, com a MPB. Ainda mais depois de tantos ataques que tivemos recentemente contra a cultura. É uma satisfação como reitor e compositor devolver esse templo da música — diz o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, que é parceiro de Noca da Portela e foi um dos fundadores do bloco Simpatia é Quase Amor.

Medronho lembrou que, na concessão, foi previsto que a universidade poderá usar a grande sala 50 dias por ano. Entre as ideias da reitoria estão apresentações de orquestras e artistas populares, a preços simbólicos ou gratuitas.

— A escola de música da universidade tem 170 anos e a orquestra da UFRJ comemora seu centenário este ano. As artes e a cultura também são nossa vocação, não só a produção de ciências — acrescentou o reitor.

Vagas em discussão
Como previsto originalmente, não haverá vagas para carros — estuda-se a criação de bolsões de estacionamento nas proximidades. Outra opção seria usar as vagas do shopping RioSul.

Essa indefinição é motivo de preocupação para a população do entorno. O presidente da Associação de Moradores da Rua Lauro Muller, Abílio Tozini, diz que tem conversado com os empresários responsáveis pelo empreendimento, mas que o impacto da futura casa no trânsito não foi resolvido.

— O público do Canecão se desloca de carro próprio ou de aplicativo, não de ônibus ou metrô. Essa é a cultura do carioca de classe média. A gente espera que a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) disponibilize vagas próximas, ou há o risco de termos congestionamentos na Urca e em Copacabana, como na época do velho Canecão.

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