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'O importante é saber aproveitar as ocasiões', diz Sérgio Cavalcante

Na experiência do CEO do C.E.S.A.R, planejar cada passo com exatidão e seguir o que for traçado ao pé da letra não é essencial

Sergio Cavalcante, diretor-executivo do CESARSergio Cavalcante, diretor-executivo do CESAR - Foto: Divulgação

Preocupações com o planejamento da vida profissional e pessoal, dificuldades de identificar quando as chances aparecem e incertezas sobre como agir nesses momentos são questões que frequentemente ocupam a atenção de muita gente. Sobre tudo isso, conversei com o engenheiro eletrônico Sérgio Cavalcante, que é CEO do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) e professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, além de presidente do Comitê de Small Business e membro do conselho da Câmara Americana de Comércio – seção Pernambuco.

Para começar, Cavalcante me contou como é importante saber aproveitar as oportunidades. Na experiência dele, planejar cada passo com exatidão e seguir o que for traçado ao pé da letra não é essencial: o importante mesmo é identificar quando e qual o melhor modo de abordar cada ocasião que surge ao longo da vida.

Isso porque é impossível estar sempre plenamente preparado para lidar com todas as oportunidades possíveis durante as trajetórias de cada um. Por isso, mesmo quem tem uma certa dificuldade de se planejar pode lidar com essa característica não como uma falha, mas sim como uma via para o sucesso, aproveitando para seguir os caminhos que se abram inesperadamente. Claro que isso deve ser feito com consideração, observando potenciais riscos e pesando os objetivos a serem cumpridos.

Se correr riscos é parte integrante desse movimento, para lidar com eles de maneira saudável é preciso coragem. Essa virtude deve vir como contrapartida da ousadia que é preciso para mergulhar em uma iniciativa nova ou em um campo ainda inexplorado. O medo pode paralisar tanto quanto a incerteza de não ter algo totalmente planejado, mas ceder ao receio significa abrir mão das chances de crescer – assim, a coragem serve como antídoto nesses momentos. Ter consciência disso é necessário para saber não somente que se deve agir quando certos momentos se aproximam, mas também como proceder nessas horas.

Citando uma frase do professor americano Randy Pausch, que dizia que "sorte é quando a preparação encontra a oportunidade", Cavalcante mostra como às vezes acontece de estarmos no lugar certo na hora certa - ou seja, estarmos prontos para capitalizar em cima das oportunidades que surgem. Mas em outros casos, não é por não termos essa “sorte” que devemos abandonar as chances que se apresentam.

Nessas ocasiões, é importante perseverar. Para ser mais claro, é necessário desenvolver a resiliência e se esforçar para aprender, se adaptar e fazer dar certo. Como diz Sérgio, ao longo de sua vida, ele teve que escolher entre ficar onde estava ou aceitar convites e ocasiões que surgiram. Escolhas como assumir cargos no C.E.S.A.R. lhe permitiram chegar onde chegou, mas para isso teve que se correr atrás, aprender a lidar com o novo e então criar as condições para chegar lá. Nas palavras dele, o importante é ter em mente que “não deu certo ainda, mas vai dar”. A alternativa é que, se nos deixarmos ficar para trás por causa da vontade de estar prontos para tudo, outros tomarão as oportunidades para si.

Outra questão que temos que lidar para melhor aproveitar as chances é a da administração das expectativas. Ao falar das diferenças entre gerações, Sérgio Cavalcante mostra como aquelas das últimas décadas do século XX, que tiveram expectativas muito ruins de futuro mas se depararam com um cenário melhor do que imaginavam, encontraram também a satisfação. Já as gerações dos jovens atuais, que tiveram expectativas de futuro infladas, mais facilmente se frustram quando todas não se realizam.

A lição a ser tomada dessa história poderia ser simplista e reduzir as felicidades e frustrações das pessoas a seus perfis geracionais. Mas a experiência de Sérgio foi outra. Em sua iniciativa no N.A.V., uma escola pública em que o C.E.S.A.R. age pra ensinar a parte de programação e design de jogos, o professor encontrou alunos vindos de camadas populares. Apesar de a idade os colocar no perfil gerações mais jovens, eles vinham de contextos sociais que punha suas expectativas abaixo – e os fazia mais próximos nisso das gerações mais velhas e pessimistas em relação ao futuro. Mas seu período de aprendizado no N.A.V. ajudou muitos deles a se destacarem, seguirem para a faculdade ou direto ao mercado de trabalho. Com isso, eles viram se abrir novas possibilidades e elevou-se as perspectivas de futuro que eles agora creem ser possível conquistar.

O diferencial é que eles lidam com essas novas oportunidades e expectativas de maneira mais saudável, com plena noção do esforço que tiveram que fazer para conquistar suas chances de crescimento. Eles sabem que não dá para esperar que o sucesso venha sem trabalho e em períodos tão curtos quanto muitos outros desejam. Suas trajetórias os fizeram ter a perspectiva necessária para valorizar a perseverança que toda iniciativa demanda – algo que, como nota Cavalcante em sua vivência como professor, pode ser minado também pelos caminhos que alguns trilham sem a persistência e adaptabilidade necessárias para superar os desafios antes de chegarem onde esperam ir.

Diante disso, Cavalcante diz como é importante não descuidar de manter um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Primeiro porque a administração de expectativas e a construção da resiliência são processos muito pessoais, que precisam de tempo e atenção para serem conduzidos com sucesso. É claro que, às vezes, o trabalho exige um pouco mais de nós, mas não se deve perder de vista os limites, pois se nos descuidarmos, as atividades profissionais podem tomar não só o espaço que lhe é devido na vida de trabalho, mas também aquele que deve ser reservado ao cuidado pessoal, ao lazer e à família.

O primeiro passo para evitar essa situação é estabelecer suas prioridades. Para Cavalcante, isso significa fazer um trabalho bem-feito e eficiente, que o permita ter a tranquilidade de reservar seu tempo para o almoço sem ter que resolver problemas naquele momento específico. Outros limites que ele tenta manter envolvem exercer um certo controle sobre um horário “razoável” para chegar em casa em certos dias da semana, ter a certeza de parar de trabalhar a partir desse horário, e ainda não levar serviço para o fim de semana sempre que possível. Ele teve que afirmar essas prioridades em suas relações nos ambientes de trabalho que já frequentou, mas sua dedicação o permitiu fazer isso.

Isso tudo nos leva a um ponto essencial: a administração do tempo entre o trabalho e a família. Cavalcante deixa claro como, ao tentar balancear essa equação, é importante saber dividir os papéis familiares. Ele relata como quando a esposa precisa viajar ou se dedicar mais intensamente ao trabalho, por exemplo, ele assume as funções da casa para manter a família nos eixos – e vice-versa. A parceria – que também envolve os filhos - é essencial para manter o equilíbrio e satisfazer a todas as responsabilidades. E isso resulta na possibilidade de todos fazerem suas funções de maneira bem-feita e terem sempre tempo para dividirem momentos de qualidade e se dedicarem uns aos outros.

Minha Conversa com Sérgio Cavalcante me deixou com algumas dicas importantes para quem precisa lidar com planejamentos e oportunidades: não é possível se planejar para tudo, o importante é saber aproveitar as ocasiões; é preciso persistir, adaptar e aprender para poder ter sucesso nas novas iniciativas; e é importante saber administrar expectativas, volume de trabalho e tempo pessoal e da família. Espero que te ajudem a lidar melhor com essas questões.

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* Graham Tidey, que atua no consulado britânico do Recife há pelo menos três anos e está no Recife desde 2012. Com formação em música, até chegar ao consulado, Graham Tidey trilhou caminhos diversos. De estoquista de supermercado a empreendedor, até ser nomeado cônsul em 2015, uma trajetória encarada com proatividade e ensinamentos que lhe deram ferramentas para assumir a função de representante do Reino Unido no Nordeste. No Estado, Graham firma parcerias nas áreas de pesquisa, investimento em empresas, turismo e desenvolvimento de projetos.

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