Opinião

O NÁUTICO de " Meu tio "

O Náutico de " meu tio " é o Náutico das impecáveis mesas de sinuca, cuidadas por um velho murrento e exigente, que não admitia a menor indisciplina e desrespeito àquele seu departamento. Tão bem cuidado como se fosse sua própria casa. Lá, só era permitido jogar sinuca quem fosse maior de 15 anos, e " meu tio" como todos o chamavam, sempre estava vigilante para que mostrássemos nossa carteira de estudantes, pra conferir nossa maioridade de adolescência.

Como morávamos nos Aflitos, mais precisamente nas cercanias da rua do Futuro, éramos frequentadores assíduos daquele salão. Embora ferrenho torcedor do Sport, guardava com certa discrição minha paixão para Waldemar, o porteiro, não me proibir de entrar. Pagávamos por hora de uso das mesas e muitas vezes, com o "liseu espartano" que permeava todos amigos da época, cotizávamos para pagar ao Meu Tio e depois comer um pudim delicioso no bar da sede. Ali, frequentemente encontrava Gilson Calado, Hélio Rezende, Josemir, Maurício Goes, conhecido como nosso Curura, o melhor dos sinuqueiros, Saldanha, Dr João Burro e tantos outros.

Mais adiante, passando pela quadra multiuso de basquete, onde se via Alceu Valença, Jeronomo e outros mais, alcançávamos as quadras de tênis. Como garoto entusiasta daquele esporte, via jogar com olhos de desejo, Mário Dubeux, Lula Falbo, Aurino Wanderley, Lula Dubeux , Cacá e tantos outros. Naquelas quadra de tênis, eu e a turma da rua do futuro, Tatão, Marcílio Brotherhood, Flávio Amorim, e outros mais, só jogávamos na coréia, como era chamada a última quadra,sem iluminação noturna e esburacada, pois o bolero que atendia por "casquinha", mais tarde conhecido por Braulino, bloqueava de jogarmos na primeira quadra, sempre reservada para os tradicionais e mais velhos.

Os anos se passaram. Quando me tornei presidente do Sport, levei Braulino para cuidar do nosso parque de tênis, até sua partida pro céu. Guardo com muito carinho e emoção a sua memória. Mas o escopo desse artigo, não é a reminiscência de um passado memorável, mas um apelo que não deixemos que nossos clubes, percam a pujança social e o registro de um passado glorioso que sempre existiu.

Escolhi escrever sobre o Náutico, porque está em voga nas resenhas esportivas, e nos comentários de torcedores alvi-rubros mais apaixonados, que os dirigentes recentes e atuais fossem responsáveis pelo endividamento do clube.

Não é verdade.

E vou dizer por quê.

Mais precisamente, em artigo publicado pelo Jornal do Commercio em 27-9-00, denunciava os riscos catastróficos que a famigerada Lei Pele, viria causar ao futebol brasileiro, principalmente aos clubes fora do eixo Rio/São Paulo. A morte das receitas dos clubes , tinha hora e data para acontecer: 26 de março de 2001, data do fim da "vacatio legis" do art 28, parágrafo 2, da lei 9.615/98.

Nossos clubes tinham três rubricas de receitas, que os mantinham o ano inteiro:bailes de carnaval, mensalidades dos sócios e venda de passes dos atletas.

Os bailes de carnaval, saíram dos clubes para os políticos fazerem festas, à custa de nossos impostos. As mensalidades esvaíram-se em consequências dos sócios preferirem outras opções a frequentarem seus clubes. O terceiro e mortal tiro no coração foi a Lei Pele acabar com o principal ativo das entidades, que era a propriedade do passe dos atletas. Hoje pertencem a procuradores e empresários de futebol, muitas vezes inescrupulosos.

Vivemos agora, essencialmente de cotas de televisão que só valorizam os clubes do sul, e mesmo assim, todos endividados pela Justiça Trabalhista esportiva, que é tremendamente draconiana, com relação ao clube empregador. Pior que a CLT.

Ou nós, amantes do futebol, nos juntamos para alterar essa lei, ou com o passar do tempo, um a um, sem exceção, irá a bancarrota.


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