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ONG no Recife recebe cumpridores de pena alternativa

Em 30 anos de funcionamento, Centro Educacional, Social e Cultura (Cesc) recebeu 32 cumpridores de pena

Israel de Souza foi um dos 32 cumpridores de pena alternativa no CescIsrael de Souza foi um dos 32 cumpridores de pena alternativa no Cesc - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

“Eu morria de medo de ir para a cadeia, mas a vida me deu uma chance real de aprendizado.” O desabafo é de Israel de Souza, 22 anos, que cumpriu uma pena alternativa com trabalho solidário em uma escola na comunidade de Coqueiral, Zona Oeste do Recife. Durante três meses, ele teve que assistir crianças do Centro Educacional, Social e Cultura (Cesc) em aulas de balé, ministrar oficinas de materiais artísticos, entreter idosos com partidas de dominó e auxiliar nos processos de triagem.

Há uma semana, a pena de Israel terminou e ele começou a fazer tudo isso voluntariamente. “O encarceramento é bastante severo. Aqui na escola, a gente tem a liberdade de planejar, desenvolver, ter esperança. Lá dentro, você se diminui. Aqui fora, apesar de ser uma lição, nos engrandece.”

Elisângela Leão, 27, também conseguiu cumprir sua pena com trabalho comunitário. Dos três meses que trabalha no Cesc, apenas dois deles foram por obrigação. “Isso me mostrou que, algo que eu pensava como obrigação, tornou-se um prazer.” Ela trabalha fazendo distribuição do leite que chega nas doações, assistindo na secretaria e ministrando oficinas. Segundo ela, a experiência é transformadora. “É importante você estar em sociedade para conseguir voltar para ela. Eu ia ficar encarcerada por um momento em que eu estava fora de mim. Hoje, estou bem por ter tido essa oportunidade. Descobri que fazer o bem faz bem.”

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A escolinha “Tia Bethy”, como é conhecido o Cesc, é uma ONG que atende famílias, crianças, adolescentes e idosos. Em 30 anos de funcionamento, já recebeu 32 cumpridores de pena. Sem financiamento, encontra na pena alternativa e no trabalho voluntário uma forma de sustentar as atividades da comunidade de Coqueiral. A gestora do Cesc, Elizabeth Oliveira, está sempre de braços abertos para receber cumpridores: “Cada vez mais a gente se surpreende o que eles podem fazer. São cidadãos que erraram e pararam aqui. Eles abrem o coração quando chegam e ficamos surpresos com cada realidade que trazem. Realmente assumem o compromisso.”

A escola é uma das 721 instituições cadastradas na Gerência de Penas Alternativas e Integração Social (Gepais). São 266 na Região Metropolitana do Recife e 455 no interior do Estado. Os cumpridores são encaminhados pelo sistema de Justiça às Centrais de Apoio às Medidas e Penas Alternativas (Ceapas), órgão da Secretaria De Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco (SJDH).

A gerente da Gepais, Raquel Brandão, explica: “É uma pena integradora, que busca a cidadania. Não é a punição pela punição, eles podem se sentir úteis à sociedade e nós quebramos a questão do encarceramento.” De acordo com ela, conservar o convívio social aumenta o índice de ressocialização. “Apesar de ainda ser uma punição, é muito acolhedora.”

Só no primeiro semestre de 2019, mais de 12 mil cumpridores foram acompanhados pela Gepais. O número representa um aumento de 45% em relação ao mesmo período do ano passado, que somou 8.708 atendimentos. Atualmente, são acompanhados 2.366 cumpridores de penas alternativas.

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