A praça e Karenine - 2ª Parte
A praça, equipamento que surgiu na Grécia Antiga, sempre desempenhou um papel importante no desenvolvimento da humanidade. De espírito fundacional e transformador, a praça é um espaço de encontro livre, de convivência social e bem-estar. Toda cidade tem uma. Algumas são repletas. Há as célebres, como a de São Pedro (Vaticano), a do Rossio (Lisboa), a Vendôme (Paris), a Mayor (Madrid), a da Paz Celestial (Pequim) e a cervantina medieval Plaza del Potro (Córdoba), citada em um diálogo no livro Dom Quixote de la Mancha.
No Brasil, destaca-se a Praça Batista Campos (Belém), onde se faz uma agradável caminhada madrugadora com a natureza, e a Praça do Marco Zero (Recife), eclética, de belo cenário.
E foi uma praça, com seus fenômenos, a base para a elaboração deste texto (segunda parte), em virtude das várias manifestações que recebemos de leitores e leitoras (exemplo: ”um refúgio de sombra e tranquilidade”), referentes à primeira parte. De forma que agradecemos a existência da Praça Fleming.
Prosseguindo com o descrito na crônica anterior, afirmamos que, com o decorrer do tempo, a Praça Fleming tornou-se o ponto culminante do mencionado projeto original da construção do conjunto residencial, no atual bairro da Jaqueira, com uma praça (sem nome) no meio, marco da arquitetura moderna e do idealizador do projeto, o arquiteto Acácio Gil Borsoi, de tantos outros projetos criativos que embelezam a cidade do Recife, como o prédio do Hospital da Restauração; memória de um estágio de mudanças pujantes. O nome Borsoi passou a representar a boa arte, entregou um legado que deve ser preservado e lembrado.
Quanto à enigmática Karenine, ultimamente não a tenho encontrado. Que pena! Ela voltará. Estou convicto… Karenine despertou curiosidades ao ser apresentada na primeira parte deste assunto. Talvez pela sua personalidade, pela inteligência demonstrada e pelas particularidades físicas, ou, quem sabe, através de um alter ego identificado, no estilo de Sissi, da Áustria, ou no estilo de uma personagem brasileira mesmo, da Iracema, de José de Alencar, da Gabriela, de Jorge Amado ou da Capitu, de Machado de Assis.
Como estamos em período de férias, suponho que Karenine tenha viajado para conhecer a cultura de outras colônias de Garças Brancas, independentes, nos bairros, que no nível de admiração de seus moradores são verdadeiras repúblicas e principados, situados à beira do meandrante Rio Capibaribe, na região recifense… Karenine, partindo do seu berço, a Jaqueira, tem as seguintes opções de visitas às colônias: rio acima, nas cercanias do Parnamirim, da Torre, de Santana, do Cordeiro, do Poço da Panela, do Monteiro, da Iputinga, de Apipucos, da Caxangá e da Várzea; e, rio abaixo, nas cercanias das Graças, da Madalena, do Derby, da Ilha do Retiro, da Joana Bezerra, dos Afogados, da Ilha do Leite, dos Coelhos, da Boa Vista, de Santo Amaro (onde se junta ao Rio Beberibe), de Santo Antônio, de São José e do Recife Antigo, onde termina para dar vida ao Oceano Atlântico. Imaginem a beleza da coreografia de Karenine voando e sobrevoando os céus desses lugares.
A propósito, pouco importam outros rios… Danúbio, Tibre, Reno, Sena, Tajo/Tejo… O Rio Capibaribe é especial; colonizador, uniu o “país de Pernambuco” e modelou as terras do Recife, nas quais circula, sob diversas pontes… não anda em linha reta. Na margem das Graças, o Capibaribe cria um majestoso Baobá, árvore sagrada, nascida há mais de trezentos anos. Ele, que também inspira trovadores, enfeita o Natal, participa do Carnaval, alberga as mais belas Garças Brancas e apoia deslumbrantes passeios de barcos em seu leito gris. Que pôr do sol!
Ao tomar conhecimento do conteúdo da primeira parte deste escrito e da recomendação feita ao projeto “História nas Paredes”, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano - IAHGP reagiu com fortuna, e por meio de membros da entidade, inclusive os atuais presidente e vice-presidente, falou: os tópicos são pertinentes, haverá mobilização.
*Administrador de empresas (UFPE). DA Asociación de Cervantistas. Autor do livro “Sonho Impossível - O Recife e Cervantes (2024) ([email protected])
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