OPINIÃO

Até quando?

“E como nasci? Por um quase. Podia ser outra. Podia ser um homem. Felizmente nasci mulher”. É com esta frase da memorável Clarice Lispector que inicio o meu último que encerra o ciclo 2020, lamentavelmente, impregnado de sentimentos que fazem o meu corpo estremecer de tanta indignação, repúdio e tristeza. Nos últimos dias de um ano tão desafiador e difícil, o qual colocou o mundo em prova, ainda nos deparamos com notícias de mulheres sendo vítimas de violências brutais, perdendo todo o direito de continuar experimentando um dos bens mais preciosos que possuímos “a vida”. 

O nosso país é o quinto no que se refere à violência contra a mulher. No Brasil, feminicídio — tipificado pela Lei 13.104 de 2015 — é definido como um homicídio em contexto de violência doméstica e familiar ou em decorrência do menosprezo ou discriminação à condição de mulher, normalmente praticado por alguém do convívio da vítima, dentro de casa ou em locais onde ela costuma estar. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que 90% dos casos de feminicídio que aconteceram em todo o país em 2019 foram cometidos pelos companheiros e ex-companheiros das vítimas — 4,4% foram cometidos por outros parentes e 3,1% por pessoas conhecidas. Enfim, muitas mulheres tem a vida tirada por pessoas próximas, ou seja, que um dia as vítimas amaram, de quem gostaram ou em quem confiaram: seus próprios violentadores. 

Neste ano, o isolamento social imposto pela pandemia acabou representando um fator que intensificou os casos de violência contra a mulher, ao invés de servir como um importante momento de reflexão para a prática de valores e comportamentos que estimulassem a humanidade para o amor, o respeito e a solidariedade, afinal, a pandemia nos mostrou que somos tudo e ao mesmo tempo nada. Independente da classe social e de diferenças de etnias, muitas pessoas foram vítimas desse inimigo invisível que é a COVID-19. 

Daí o meu questionamento: até quando vamos presenciar ou vivenciar a falta da Lei do respeito, do amor ao próximo e da valorização à vida? Encerro meu artigo levando o sentimento da esperança e coragem para 2021, como mulher, mãe, profissional, mas acima de tudo, um ser humano que luta e defende o direito de viver. É isso! 

*Dany Amorim - sócia da Espalha e coach

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