Cursivo e oblíquo
Pra começar, arrisco dizer que a educação era de melhor qualidade entre o final dos anos 50 e início dos 70, mesmo com problemas semelhantes aos de hoje. Tanto no curso primário (hoje chamado de “anos iniciais”) quanto no ginásio (hoje, “anos finais”), havia escolas públicas e privadas de boa e má qualidade. Nas públicas de melhor nível era preciso passar por um “funil” para conseguir uma vaga. Para se ter uma ideia, no Ginásio Pernambucano (que teve nome provisório de Colégio Estadual de PE durante um período), havia 50 vagas para quase 3.000 inscrições. A primeira prova era de Português, que eliminava entre 70% e 80% dos inscritos.
Voltando à questão qualidade do ensino, já no primário, os pais com melhores condições optavam pelas escolas particulares que, em tese, preparavam melhor os alunos para a etapa seguinte (ginasial), e assim por diante. Alcancei, mas não passei por dois instrumentos (se é que posso chamá-los assim). Com ajuda das irmãs, resgatei os nomes de quatro professoras de duas escolas: Ivone, Maria do Carmo (Carminha), Terezinha e Hercília - que adotavam o caderno de caligrafia para melhorar as letras dos alunos. Não vou dizer qual, mas uma delas falava: não quero aluno meu escrevendo que nem médico! Milton(*) e eu fomos dispensados do caderno.
Da mesma época - mas não nas “minhas” escolas - havia outra ferramenta que era destinada aos alunos não estudiosos eou indisciplinados: a palmatória - uma espécie de régua de madeira com uma das extremidades em formato circular, com cinco furos em cruz. Quem tiver curiosidade, pode comprar pela Internet, por “módicos” US$18, para “decorar” a casa. Nos EUA, a partir de 1977, o uso da palmatória foi autorizado pela Suprema Corte. Alguns estados (19) podem usá-las nas nádegas e mãos dos alunos, desde que os pais autorizem a medida.
No mesmo país, no estado da Califórnia, autoridades determinaram o aprendizado da letra cursiva nos “anos iniciais”, sob o argumento de que “facilita a compreensão, é um exercício para o cérebro (estimula a mente mais que os textos impressos) e amplia a habilidade motora do aluno”. “Os pequenos movimentos resultam num melhor desenvolvimento da psicomotricidade”, afirmam alguns neuropediatras. Do ponto de vista dos educadores, “é mais rico a criança aprender a diferenciar a letra ‘b’ da letra ‘d’, caso se compare com a escrita digital”. Um professor de História, do Rio, já faz isso: leva textos manuscritos para leitura de alunos com 1112 anos de idade. Importante: não provoca coceiras nem causa traumas de qualquer ordem.
*Executivo do segmento shopping centers
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