E o Oscar vai para: Ainda Estou Aqui, Brasil
Por volta da meia-noite do último domingo de Carnaval, dia 2 de março, a atriz espanhola Penélope Cruz anunciou o filme vencedor do Oscar 2025 na categoria Melhor Filme Internacional (em Língua Não Inglesa), no Dolby Theatre, em Los Angeles - EUA, assim: “E o Oscar vai para: Ainda Estou Aqui, Brasil”. De forma instantânea, o anúncio da vitória levou a nossa população a uma explosão de alegria, em todo o País, que estava atraída pela possibilidade de ter em mãos esse importante mérito… Sem dúvida, um sentimento de muito orgulho da cultura brasileira, especialmente da cinematográfica, e de respeito à história levada às telas.
A arte venceu, mais uma vez, e a Sétima Arte, a de maior completude e de maior potencialidade de entretenimento, manteve-se à altura. A 97ª Edição do Oscar, da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (o mais alto prêmio do gênero), realizou uma cerimônia de premiação de encher os olhos. E encheu, não somente os olhos dos cinéfilos, mas os olhos do povo brasileiro, que compreendeu o valor agregado do prêmio conquistado Como disse Leon Tolstói, “a arte é um dos meios que unem os homens”.
E agora estamos aqui, 2025, de coração, nós brasileiros, comemorando essa enorme conquista, com você e eles, do elenco do filme vencedor, Ainda Estou Aqui, capitaneados pelo diretor Walter Salles, que recebeu a estatueta do Oscar, e pela atriz principal, Fernanda Torres (que representou a magistral cidadã Eunice Paiva, protagonista do filme). “Sorriam”, olhemos de frente, com altivez, para esse merecido e inédito prêmio, o Oscar, do nosso aguerrido cinema e da nossa resistente democracia.
O cinema nacional perseguiu esse objetivo durante 80 anos, desde a primeira participação (1944). Um sonho antigo. Nesse período, como exemplo, o conterrâneo cineasta Cacá Diegues (in memoriam, 19/05/1940 - 14/02/2025), de grandes trabalhos, chegou a concorrer ao Oscar com alguns filmes e não conseguiu emplacar um prêmio sequer. Felizmente, neste ano tivemos êxito, em boa hora, quem sabe, também em memória de Cacá, com talento e criatividade, em cima de um tema real, uma história engenhosamente revelada, com fidelidade, para um amplo universo.
Saibamos que a conquista dessa estatueta do Oscar, pelo filme Ainda Estou Aqui, não se limita à entrega e ao valor intrínseco e simbólico da láurea, ela é, fundamentalmente, uma chamada civilizatória à nação brasileira e um exemplo ao mundo. Os fatos narrados na película, ocorridos em um regime autoritário de exceção, não merecem ser repetidos, em lugar nenhum. Que o novo patamar alcançado e o entusiasmo do momento sirvam para revigorar a memória do País e a produção e o hábito do nosso cinema.
Na trajetória até o Oscar, Ainda Estou Aqui recebeu vários prêmios em festivais que gabaritaram a decisão final dos jurados, entre eles o Osella, de Veneza - Itália, Melhor Roteiro; o Goya, Sevilha - Espanha, Melhor Filme Ibero-Americano; o Melhor Filme do Público, Roterdã - Holanda; e o Globo de Ouro, Los Angeles - EUA, Melhor Atriz em drama.
A possível conquista de um pioneiro Oscar foi vislumbrada a partir da estreia do filme do cineasta Walter Salles, em seus primeiros dias de exibição, nos nossos cinemas. No artigo “2025, ainda estamos aqui”, publicado na Folha de Pernambuco, em 08/12/2024, o assunto foi colocado do seguinte modo: [...] Em cartaz, Ainda Estou Aqui escala como protagonistas a atriz Fernanda Torres, no papel de Eunice Paiva, e o ator Selton Mello, no papel de Rubens Paiva, com participação especial, subliminar, da atriz Fernanda Montenegro (que, na realidade, é a mãe legítima de Fernanda Torres), no papel de Eunice Paiva em idade avançada.
O impacto da estreia situou o filme como a mais nova obra de arte ímpar da cinematografia nacional. [...] Assistir a ele foi uma experiência notável, ademais, por perceber, ao término da exibição do filme, na saída da sala de projeções, as pessoas entreolhando-se e sussurrando comentários, num cenário edificante. [...] Existe um reconhecimento crescente sobre o longa-metragem brasileiro, de vários cantos e lados, da crítica especializada e de cinéfilos; mas isto é um tema para 2025.
Enfim, tudo é alegria no Brasil. E tinha que ser. A época é de Carnaval e ela contribuiu no ânimo geral, nos diversos polos momescos, bem como nos de outros tipos, a bel-prazer, espalhados nesta amazônica nação. Jamais vimos tão expansivo e gratificante reconhecimento do nosso povo, autêntico e espontâneo, como aconteceu para o Oscar do filme Ainda Estou Aqui.
Administrador de empresas (UFPE) e cervantista. Autor do livro “Sonho impossível - O Recife e Cervantes” (2024) ([email protected]).
___
Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria antes da aprovação para publicação.