Logo Folha de Pernambuco
Opinião

Recife: uma cidade fantasma

Parece mentira, mas chegamos ao caos.

Na quinta-feira à noite fui ao bairro da Boa Vista, em um lançamento literário na livraria Jardins e fiquei pasmo com o Recife que vi. Não era tarde, cerca de 20h, ao atravessar a Ponte Velha e caminhar pela Barão de São Borja até chegar a rua Imperatriz prosseguindo pela Manoel Borba, não havia ninguém nas ruas. Lixos amontoados e todas as portas cerradas de grades sem qualquer pessoa nas ruas, mas, ao chegar na praça do antigo Hotel São Domingos, uma pequena multidão assustadora, de, acredito eu, moradores daqueles imóveis velhos e depredados pelo tempo, se juntava a “sem tetos” e viciados da noite, vagando como zumbis, em um quadro sinistro e assustador.

Enquanto a cidade está totalmente parada devido ao trânsito, a Prefeitura só pensa em ciclovias, diminuindo ainda mais os espaços para os carros.

Quando chove, se sucedem vários alagamentos em faixas litorâneas aos rios e córregos, que, facilmente, poderiam ser drenados para seus leitos, no entanto, não observamos qualquer técnico do poder público a observar tais recorrências. E isso volta sempre a acontecer ao cair das chuvas.

Na avenida beira-mar, de Piedade até o Pina, surge uma obra inexplicável, sem qualquer planejamento para além de atrapalhar a mobilidade urbana, que já está um caos, e que faz o trânsito engarrafar a qualquer hora do dia. O Recife aparece em primeiro lugar no ranking nacional de trânsito divulgado pela Terra Brasil Notícias. A antiga ponte giratória, que hoje tem outro nome, está há mais de três anos interditada para reforma estrutural, não se justifica tamanha lerdeza e descaso com os habitantes da cidade.

Se devido ao estresse, quando à noite melhora um pouco o trânsito, você vai jantar na casa de um amigo e toma uma taça de vinho, certamente será apanhado por uma blitz, preso e processado, e somente libertado após o pagamento de uma fiança.

Bastante seria por um policial em uma motocicleta, perseguisse e apreendesse aqueles que dão indícios de ilegalidade, como dirigir além do limite permitido ou os equipamentos do carro demonstrarem defeitos, tais como: luz apagada, escapamentos ensurdecedores ou qualquer outra coisa, assim como fazem nos países civilizados: prevenir o acidente e não se contentar em aplicar-lhe uma multa eletrônica. Fato este que só beneficia as empresas mancomunadas com o poder público na divisão do seu faturamento. Urge coragem e determinação para corrigir o que administração anterior fez, ao sacrificar a já estreita Avenida Boa Viagem, e transportar a ciclovia para o outro lado da calçada, que margeia a praia, para devolver a via de rolamento, que já era estreita à época do Governo anterior.

Existem, ainda, inúmeras possibilidades simples de baixo custo para dar maior fluxo ao trânsito de nossa cidade, mas não notamos nenhuma iniciativa para suavizar o nosso cotidiano.

Posso afirmar, sem medo de errar, que a mobilidade urbana é, sem dúvida, o item inconsciente de maior relevância na cabeça do cidadão. Desta imobilidade, outras coisas começam a tornar-se intoleráveis, e a crítica e o repúdio aos governantes, refletem, embora, timidamente em todos os pernambucanos. Só numa noite fui parado por duas blitz: uma do DETRAN e outra da CTTU, acho que concorrem Estado e Município para ver quem arrecada mais.

 Meu Deus! Quanta insensatez.

Caros conterrâneos e amigos que estão no Poder, basta fazermos "o pão nosso de cada dia", não como essa escandalosa obra que estão fazendo na orla marítima, e estaremos salvos das críticas e do estresse cotidiano, tornando a cidade mais humana e “vivível”.

Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria antes da aprovação para publicação.

 

Veja também

Newsletter