Ortega põe irmão sob 'cuidados médicos permanentes' em casa após declarações críticas
Medida foi interpretada como prisão domiciliar entre meios de comunicação da oposição exilados
A Polícia da Nicarágua instalou nesta terça-feira uma unidade médica na casa do general reformado Humberto Ortega, irmão crítico do presidente, Daniel Ortega, medida interpretada como prisão domiciliar pelos meios de comunicação da oposição no exílio. A medida foi anunciada dias depois de o ex-chefe do Exército ter dito numa entrevista à imprensa que o seu irmão não tem sucessores e ter previsto que, se ele morrer, a sua comitiva não conseguirá manter o poder no país.
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"Foi instalada uma Unidade de Assistência Médica Especializada para atender as enfermidades que afligiram e continuam a afligir o general Ortega. A equipe de especialistas estará em permanente comunicação, coordenação e visitas", indicou a polícia em seu comunicado.
Por sua vez, o meio de comunicação do exílio Artigo 66 publicou: "O regime de Daniel Ortega e [sua esposa e vice-presidente] Rosario Murillo ordenou 'prisão domiciliar' disfarçada de 'assistência médica permanente' contra o irmão" do presidente. Outros meios de comunicação da oposição publicados no exílio publicaram versões semelhantes.
Os dois irmãos fizeram parte da guerrilha sandinista que lutou contra a ditadura de Anastasio Somoza, último líder de uma dinastia que governou o país com mão de ferro durante quatro décadas.
Após o triunfo da revolução em 1979, Humberto Ortega tornou-se chefe do Exército Popular Sandinista, enquanto Daniel assumiu as rédeas do governo, primeiro de forma colegiada e depois por conta própria. Humberto continuou a liderar a instituição armada após a derrota eleitoral de Daniel em 1990 contra a candidata da oposição Violeta Barrios de Chamorro, que governou até 1997.
A Nicarágua vive um dos mais brutais regimes autoritários da América Latina. Após integrar a guerrilha sandinista contra a ditadura dos Somoza nos anos 1970 e 1980, Ortega, ao lado de sua mulher, converteu-se em um líder de um regime que tem características dinásticas e policiais e onde opositores políticos são perseguidos.
Julgamentos sumários foram realizados desde janeiro do ano passado contra 47 presos políticos presos em 2022 pelo regime, onde o direito de reunião e a liberdade de expressão são severamente cerceados. O governo também conduz uma campanha contra a Igreja Católica, umas das poucas instâncias de resistência pública no país.