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Opinião

Os pangarés recifenses merecem indulto

Dedico este artigo do poeta Carlos Pena Filho, “pois é do sonho dos homens que uma cidade se inventa”. 

MONTANHAS DA JAQUEIRA – Carta ao prefeito Joao Campos. 
Olá, João Campos, prefeito desta cidade lendária chamada Recife, na melodia de Capiba; a cidade cruel no dizer do estadista Agamenon Magalhães; cidade da evocação da infância de Manuel Bandeira, onde tudo parecia impregnado de eternidade; “cidade noturna” em cujas águas o poeta Joaquim Cardoso vislumbrava uma “catedral imersa, imensa, deslumbrante, encantada”, onde “ao esplendor das noites velhas, as almas dos heróis antigos vão rezar”. 
                                       
Este floreio poético, chamado de nariz de cera no jargão jornalístico de antigamente, é para chamar a atenção do prefeito sobre o transporte de tração animal, uma realidade que está se tornando cruel nesta lendária aldeia dos mascates. Transporte de tração animal — carruagens, charretes, tílburis, cabriolés, seges, carroças — veio dos tempos feudais e sobreviveu até o advento da era automobilística no início do século passado. Portanto, estamos atrasados há pelo menos 120 anos. As carruagens eram elegantes e os animais tratados com pão de ló. Os coitados dos pangarés de hoje são tratados com chicotadas e sequer usam ferraduras para proteger os cascos. 

Neste caso, a Mauritsstad tem traços de uma cidade feudal. Imagine se você, prefeito, estivesse passeando pelas ruas elegantes dos Jardins em São Paulo ao lado da sua noiva Tabata Amaral para comprar um presente do Dia dos Namorados ou Dia das Mães para Renata Campos. Ao avistar uma carroça movida por um pangaré, você diria: Oxente, Sinhazinha Tabata, ainda existe transporte primitivo nesta Pauliceia Desvairada?! Ela daria o troco: Sinhozinho João, cuide você primeiro de erradicar as carroças da Nova Lusitânia.

A informação é de que o fim do transporte de tração animal foi aprovado pela Câmara de Vereadores e a matéria hiberna na gaveta do prefeito, desde os tempos de Geraudo Julho, à espera de regulamentação. 

Existe uma solução tipo ovo de Colombo: substituir os cavalos de carne e osso por cavalos mecânicos, motos com bagageiro de duas rodas para transportar mercadorias. Outras cidades do País já adotam esse sistema. Os carroceiros teriam garantido o ganha-pão e os pangarés ficariam felizes, com direito à degustação de capim-gordura e mel de rapadura. 

Você, prefeito João Campos, deveria conceder indulto aos pangarés recifenses para livra-los do suplício das carroças e das chicotadas, pois eles não participaram de nenhuma manifestação antidemocrática e são inocentes. Todos nós ficaremos contentes com esta graça. Construa o Parque da Tamarineira. Você ficaria inscrito na galeria dos prefeitos recifenses mais arrojados e modernos. 

A patota da Jaqueira aguarda você para inaugurar o busto de Joaquim Francisco. Hasta la vista, Johnny!



*Bicho-grilo periodista neo-digital influencer com milhões de seguidores 
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