Pentágono investigará secretário de defesa de Trump por discussão de planos militares no Signal
História veio a público após o editor da revista The Atlantic ser acidentalmente incluído em um grupo no aplicativo de mensagens onde autoridades debatiam ataque no Iêmen
O escritório do inspetor-geral do Pentágono investigará o uso do aplicativo de mensagens Signal pelo secretário da Defesa americano, Pete Hegseth, para discutir planos militares no Iêmen, informou um memorando divulgado nesta quinta-feira.
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O anúncio é mais um capítulo do escândalo que atingiu o governo do presidente Donald Trump na semana passada, quando mensagens discutidas no grupo foram vazadas por um jornalista incluído acidentalmente no bate-papo.
A investigação avaliará “até que ponto o Secretário de Defesa e outros funcionários do Departamento de Defesa cumpriram as políticas e os procedimentos do Departamento de Defesa para o uso de um aplicativo de mensagens comerciais para assuntos oficiais”, disse o memorando do inspetor geral em exercício, Steven Stebbins.
“Além disso, analisaremos a conformidade com os requisitos de classificação e retenção de registros”, de acordo com o memorando, que diz que a investigação é uma resposta a uma solicitação dos dois principais membros do Comitê de Serviços Armados do Senado, um republicano e um democrata.
A revista americana The Atlantic revelou na semana passada que seu editor Jeffrey Goldberg, um conhecido jornalista americano, foi inadvertidamente incluído no bate-papo do Signal, no qual autoridades, incluindo o assessor de segurança nacional de Trump, Mike Waltz, e Hegseth discutiram detalhes de horários de ataques aéreos e inteligência.
Os ataques tiveram como alvo os rebeldes Huthi do Iêmen — o grupo, aliado do Irã, foi responsável por ataques a embarcações na entrada do Mar Vermelho e contra o território de Israel, como retaliação pela guerra em Gaza.
Entenda o caso
Em reportagem publicada no site da revista, Goldberg afirma ter recebido, no dia 11 de março, um pedido de conexão de uma pessoa identificada como Michael Waltz no aplicativo de mensagens Signal, considerado mais seguro do que serviços como o WhatsApp ou o Telegram.
O jornalista inicialmente pensou se tratar de um assessor do conselheiro de Segurança Nacional de Trump, ou alguém querendo se passar por ele.
Foi quando a lista dos membros começou a surgir, e quando Goldberg percebeu que teria acesso a uma discussão de segurança nacional que nenhum jornalista deveria acompanhar.
O primeiro a digitar e indicar um representante foi um usuário identificado como MAR, iniciais do nome do secretário de Estado Marco Rubio.
Em seguida, outro usuário, identificado como JD Vance — vice-presidente dos EUA — fez sua indicação, seguido por chefes de serviços de inteligência, dos Departamento do Tesouro e de Defesa, além do Conselho de Segurança Nacional.
No dia seguinte, o grupo foi cenário de uma discussão intensa sobre a justificativa da ação militar. Vance jogou dúvidas sobre a real necessidade de atacar os houthis, sugerindo que a operação fosse adiada em um mês. Pete Hegseth, secretário de Defesa, foi contra, apontando dois riscos com a demora: “isso vazar e parecemos indecisos” e “Israel tomar uma atitude primeiro – ou o cessar-fogo em Gaza desmoronar”.
Vance pareceu ceder, e completou: “Eu simplesmente odeio salvar a Europa novamente”, se referindo ao elevado volume de embarcações europeias que passam pela região.
Na manhã do dia 15 de março, horas antes das bombas começarem a cair sobre o Iêmen, Hegseth compartilhou dados sobre o ataque no grupo — na reportagem em que conta o incidente, Goldberg disse que não tornaria essas informações públicas “porque poderia ter sido usado para prejudicar militares e pessoal de inteligência americanos, particularmente no Oriente Médio”.
Goldberg deixou a conversa um dia depois do ataque, e enviou mensagens a alguns dos presentes no grupo questionando sua veracidade. De Brian Hughes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, ouviu que o diálogo parecia ser autêntico, e que havia iniciado uma investigação sobre “como um número inadvertido foi adicionado”.
Horas depois da publicação, a Casa Branca confirmou que as mensagens parecem ser autênticas, e Trump disse a jornalistas não ter informações sobre o incidente.
— Não sei nada sobre isso — afirmou. —Não sou um grande fã da The Atlantic. Para mim, é uma revista que está saindo do mercado. Acho que não é uma revista muito boa. Mas não sei nada sobre isso.
No Congresso, as críticas à forma como integrantes do governo usaram um aplicativo para discutir temas de segurança nacional, dando acesso a um jornalista que não tem as credenciais necessárias para tal, se acumularam.
— Parece uma grande confusão —, disse o senador republicano John Cornyn. — Existe alguma outra maneira de descrever isso? Posso usar uma palavra diferente, mas você entendeu. Espero que a [inteligência] interagências analise isso. Parece que alguém deixou a bola cair.
Advogados consultados pela The Atlantic afirmaram que Waltz, ao criar o grupo para discutir temas sigilosos e de defesa nacional, pode ter violado a Lei de Espionagem.
Eles apontaram ainda que as normas do governo federal impedem que temas do tipo sejam tratados em aplicativos de mensagens, e que os textos, sejam eles sigilosos ou não, não poderiam ser apagados, como aconteceu no grupo coordenado por Waltz.

