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Pernambuco gastou R$ 1,8 bilhão em obras públicas paralisadas em 2023, diz estudo do TCE-PE

O levantamento aponta ainda que, ao todo, existem mais de 1.500 obras com indícios de paralisação no Estado

Coletiva de imprensa sobre as obras paralisadas em PernambucoColetiva de imprensa sobre as obras paralisadas em Pernambuco - Foto: Paulo André Pedrosa/Folha de Pernambuco

O Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE) divulgou, nesta quinta-feira (25), um estudo que constatou: em 2023, foram gastos R$ 1,8 bilhão obras públicas que estão paralisadas ou com indícios de paralisação em Pernambuco.

Segundo o TCE-PE, R$ 19,3 bilhões foram empenhados em contratações públicas no ano. Desses contratos, R$ 5,9 bilhões estão paralisados ou com indícios de paralisação. O valor de R$ 1,8 bilhão que já foi gasto sem a conclusão dos serviços corresponde a 31% desse montante.

O estudo indica, ainda, que, em 2023, havia 1.504 contratos paralisados ou com indícios de estagnação. Desses, 1.185 são de responsabilidade municipal e 319 são estaduais.

Outro ponto de alarme vai para as áreas mais afetadas pelas paralisações. Segundo o tribunal, o setor de mobilidade urbana apresenta o maior índice, com 23,4% do total dos contratos não foram concluídos. Serviços de abastecimento d'água (11,1%) e barragens (8,6%) completam o ranking.

Falhas no projeto, na seleção dos fornecedores e na fiscalização por parte dos contratantes estão entre os motivos mais comuns para a paralisação dessas obras.

"As obras públicas são de extrema importância para todas as pessoas, tanto pelos valores altos investidos, como também para toda a população. Muitas obras são voltadas para transporte, mobilidade e escoamento. A gente tem que avaliar como as obras são feitas e se elas estão impactando bem a população e atendendo às necessidades de todos", afirmou o presidente do TCE-PE, Valdecir Pascoal.

Obras estaduais
Entre as obras estaduais que não foram concluídas com maior volume de gastos estão as dos corredores Norte-Sul e Leste-Oeste, sob responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Pernambuco.

No primeiro, segundo o TCE-PE, foram aplicados R$ 161,8 milhões dos R$ 186,6 milhões previstos no contrato. Já no segundo caso, já foram investidos R$ 131,3 milhões de um contrato de R$ 168,7 milhões. Pelo planejamento inicial, os serviços deveriam ter sido concluídos em maio de 2013.

Outro ponto de destaque vai para o chamado "cinturão de barragens", idealizado para diminuir os riscos de enchentes na Mata Sul do Estado. Ainda assim, segundo o estudo, os serviços apresentam indícios de paralisação.

As principais obras destacadas para esse caso são a da barragem de Igarapeba, em São Benedito do Sul. O serviço, que deveria ter sido entregue em março de 1014, segue sem conclusão, com investimento de R$ 53,7 milhões de um contrato de R$ 136,1 milhões. 

Há ainda a Barra da Guabiraba, no município de mesmo nome, que já investiu R$ 16,6 milhões de R$ 61,1 milhões previstos. O serviço também deveria ter sido entregue em março de 2014.

Em contato com a reportagem, o Governo de Pernambuco informou que, no caso do Corredor Norte-Sul, um trecho retomado foi a Pan Nordestina, nas imediações do Fórum de  Olinda.

Até o ano passado, essa obra estava com os trabalhos em ritmo muito lento. Em 2023, havia  apenas 18% de evolução. "Agora, a intervenção está com mais de 80% de evolução, com  R$16 milhões empregados neste intervalo e com previsão de conclusão para maio de 2024", afirmou o Estado.

Quanto  ao corredor Leste-Oeste, o Estado revelou que " tinha entre suas obras remanescentes a urbanização do entorno do Museu e do Túnel da Abolição". Com isso, a administração atua no momento na "negociação com as companhias de energia, gás e água  e regularização dos contratos". 

Obras municipais
Nas obras municipais inacabadas, Recife aparece em primeiro, tanto em valores contratados (R$ 726,7 milhões), quanto em montantes já pagos (R$ 216,5 milhões). Segundo o estudo, um dos contratos com indícios de paralisação na capital diz respeito à implantação de corredores exclusivos de ônibus. Ao todo, já foram aplicados R$ 19,9 milhões de um total de R$ 39,1 milhões previstos.

O Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, é o segundo município em valores já desembolsados por contratos parados na auditoria. As obras que deveriam ter sido entregues há 10 anos ainda não foram concluídas. Tratam-se da Urbanização da comunidade Nova Era, e de esgotamento sanitário da comunidade Manoel Vigia. Dos R$ 32 milhões investidos, R$ 19,5 milhões já foram gastos.

Em contato com a reportagem, a Prefeitura do Recife se limitou a falar sobre a entrega de obras de 2021 para cá e se ressaltou que "está atenta às normativas que regem as contratações públicas para tornar a cidade mais justa e digna para a população".

Já a Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho afirmou que as obras citadas no estudo fazem parte da antiga gestão e que foi apenas no ano passado que foi sinalizada a participação no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). "Para tanto, estamos na segunda etapa do processo, que consiste na atualização dos projetos e dos orçamentos, a fim de que os serviços sejam novamente licitados e retomados o mais breve possível", concluiu.

Diminuição
O estudo deste ano identificou uma diminuição nos valores. Em 2022, os contratos paralisados somavam R$ 7,4 bilhões, dos quais 33% (R$ 2,4 bilhões) já tinham sido gastos sem a conclusão dos serviços. No levantamento de 2023, o volume pago caiu 8%. Já o número de contratos parados caiu 16,7% - de 1.796 mil, em 2022, para 1.504 mil, em 2023. De acordo com o TCE-PE, desta vez, o estudo já procurou e ouviu os gestores antes da publicação. Isso ajudou o tribunal a corrigir algumas informações e já trazer os dados atualizados.

Veja, abaixo, o quadro geral do levantamento, que começou a ser realizado em 2014.

Gráfico com o valor total das obras paralisadas e o valor pago em Pernambuco de 2014 a 2013Gráfico com o valor total das obras paralisadas e o valor pago em Pernambuco de 2014 a 2013 -  Foto: Arte/TCE-PE

Consequências
Ao constatar que a paralisação decorre de irregularidades graves, o TCE-PE deve procurar o gestor responsável, que poderá ter suas contas rejeitadas, ser multado, e verificado dano ao erário, deverá ressarcir os cofres públicos. Se houver indícios de ilícito penal ou de improbidade, o caso será encaminhado ao Ministério Público de Pernambuco.

"Vale lembrar que não é um problema só de Pernambuco, mas sim de todo o Brasil. É um problema nacional. O Tribunal aprovou uma resolução no ano passado que permite a resolução consensual de contratos. Muitas vezes, o gestor precisa paralisar porque há problemas com o contratante. Com isso, nós podemos abrir mesas de conciliação para tentar, antes de decidir ou responsabilizar, chamamos as partes para mediar uma resolução", explicou o presidente do TCE-PE.

Os auditores também destacaram que o levantamento foi finalizado em fevereiro deste ano. "Com isso, é possível que essas obras apontadas como paralisadas já tenham sido retomadas nesse período. É importante salientar isso para que não haja confusão", explicou o auditor Alfredo Montezuma, supervisor do estudo.

Todos os dados do estudo estão disponíveis para a população e podem ser vistos no site oficial do TCE-PE.

Confira abaixo a nota da Prefeitura do Recife
"A gestão vem promovendo um ritmo intenso de obras com uma entrega média de três delas por dia em toda a cidade e, atualmente, 160 escolas e creches estão sendo reformadas e há 50 encostas definitivas em andamento, além de equipamentos públicos como unidades do Compaz, pontes, parques, unidades de saúde, habitacionais e o Hospital da Criança. Desde 2021, foram concluídas mais de 2,8 mil obras pelo Programa Parceria e realizadas cerca de 100 contenções definitivas. A Prefeitura do Recife ratifica ainda que ainda que está atenta às normativas que regem as contratações públicas para tornar a cidade mais justa e digna para a população."

Confira abaixo a nota do Governo do Estado
"A estratégia da atual gestão do governo do Estado é desembaraçar obras atrasadas.  A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) informa que atualmente avança nas obras de alargamento da Avenida Pan Nordestina, na revitalização do TI Igarassu, na  urbanização do entorno do Museu e do Túnel da Abolição a na execução da infraestrutura viária para implantação do giro de quadra nas imediações da UPA da Caxangá. 

A estratégia do governo para acelerar obras em ritmo lento é semelhante à aplicada nos habitacionais: focar nos pontos de entrave com as entidades envolvidas, cobrar das empreiteiras contratadas o cumprimento dos prazos assumidos e garantir fluxo financeiro para as obras.

A equipe técnica da Seduh reavalia os projetos para dar celeridade nas  retomadas. Essa tática tem se mostrado eficaz no setor de habitação, que já possibilitou a entrega de três conjuntos residenciais em 2023, beneficiando cerca de 700 famílias com moradias dignas. 

No caso do Corredor Norte-Sul, um trecho retomado foi a Pan Nordestina, nas imediações do Fórum de  Olinda. Até o ano passado essa obra estava com os trabalhos em ritmo muito lento. Em  2023, havia  apenas 18% de evolução. Agora, a intervenção está com mais de 80% de evolução, com  R$16 milhões empregados neste intervalo e com previsão de conclusão para maio de 2024.  

As obras do agenciamento (pavimentação, sinalização e segurança viária) das estações de BRT Cecon e Paulista foram finalizadas este ano.  

Esses trechos fazem parte do chamado Corredor Norte-Sul, que  abrange uma extensão de 33 quilômetros, estendendo-se desde o Terminal Integrado (TI) de Igarassu até a Estação Forte do Brum, localizada no Recife Antigo, em frente à Prefeitura do Recife. Na referida estação, ocorre a interseção entre os dois corredores, Norte-Sul e Leste-Oeste. O valor inicial estimado para a obra era de R$ 151.113.293,56 e o contrato foi rescindido em 2018, permanecendo obras remanescentes para execução.

Atualmente, o canteiro do TI Igarassu está sendo tocado pelas mãos de 68 operários distribuídos em nove equipes de trabalho. O objetivo é entregar o terminal até o final do ano e acabar com a espera de mais de uma década.   Os resultados já são visíveis com mais de 50% de evolução.

Já o corredor Leste-Oeste, tinha entre suas obras remanescentes a urbanização do entorno do Museu e do Túnel da Abolição. Um problema resolvido pela atual administração através de adaptações no projeto, gestão transparente e ativa com as empresas executoras dos projetos,  negociação com as companhias de energia, gás e água  e regularização dos contratos. 

A obra de execução de serviços remanescentes de urbanização na praça Conselheiro João Alfredo e praça sobre o Túnel da Abolição, execução da iluminação e adequação da instalação elétrica do sistema de drenagem da praça, previa um custo inicial de R$ 1.718.462,26 e com os aditivos e reajustes concedidos ao longo do tempo a obra passou a ter um custo aproximado de R$ 2.235.649,41. 

Outra obra prevista no corredor é a execução da infraestrutura viária para implantação do giro de quadra nas imediações da UPA – Caxangá em Recife/PE, com valor de R$ 3.848.869,96, atualmente encontra-se em andamento com previsão de conclusão em junho de 2024. 

O Corredor de transporte público de passageiros Leste-Oeste prevê 16 km de vias, começando na  Estação Forte do Brum até o TI Camaragibe, a obra previa um desembolso inicial de R$ 145.380.016,61, neste contrato, estava contemplada a construção da estação elevado Bom Pastor, estação Benfica, alargamento da Av. Caxangá, obras no Túnel da Abolição e Alargamento da Av. Belmino Corrêa. Foram gastos R$ 136.257.718,04 , contudo, o contrato foi rescindido em 2015."

Confira abaixo a nota da Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho
"As obras citadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) fazem parte de um convênio iniciado em 2012, o qual, em 2020, na gestão anterior, teve seu contrato distratado pelo prefeito da época. Com a entrada da nova gestão, foi necessário iniciar articulações em Brasília, junto ao Ministério das Cidades e à Caixa Econômica Federal, para discutir a retomada das obras.

Apenas no ano passado, a retomada das obras foi sinalizada positivamente com sua inclusão no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Para tanto, estamos na segunda etapa do processo, que consiste na atualização dos projetos e dos orçamentos, a fim de que os serviços sejam novamente licitados e retomados o mais breve possível."

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