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Pesquisa mostra que solidariedade é maior entre moradores de favelas

Estudo foi feito com 3.321 moradores de favelas de todos os estados

Pesquisa indica maior solidariedade entre moradores de favelasPesquisa indica maior solidariedade entre moradores de favelas - Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Enquanto 49% dos brasileiros fizeram algum tipo de doação durante a pandemia do novo coronavírus, esse índice atingiu 63% nas favelas do país. O dado consta da pesquisa inédita Pandemia na Favela - A realidade de 14 milhões de favelados no combate ao novo coronavírus, realizada pelo Data Favela, parceria do Instituto Locomotiva, da Central Única das Favelas (Cufa) e da Favela Holding.

O fundador e presidente do Instituto Locomotiva, também fundador do Data Favela, Renato Meirelles, destacou, em entrevista à Agência Brasil, que “a pandemia está deixando claro que o asfalto tem muito a aprender com a favela”.

Diretor executivo da Favela Holding, fundador da Cufa e do Data Favela, Celso Athayde disse que “quem vive em favela sabe que a solidariedade é uma marca muito forte. É uma característica sólida por causa das necessidades daqueles territórios”.

Segundo Athayde, quem mora em favela depende muito dos vizinhos, que se prestam, por exemplo, a tomar conta dos filhos de outras pessoas, enquanto aos pais saem para trabalhar. “Esse tipo de coisa não acontece, geralmente, em outros territórios. A favela acabou desenvolvendo uma solidariedade muito grande, que não se encontra em nenhum outro território”.

O fundador da Cufa disse que é impossível alguém passar fome na favela, porque as pessoas se solidarizam o tempo todo. Quem ganha uma cesta básica costuma dividir com o vizinho se ele não tiver nada para comer, afirmou. “Eu diria que a solidariedade, a resiliência são características desenvolvidas nos sentimentos das pessoas que moram em favelas. E a pesquisa apenas confirma isso”.

Efeitos da pandemia
A pesquisa foi feita com 3.321 moradores de 239 favelas de todos os estados do país, entre os dias 19 e 22 deste mês. A sondagem mostra que o vírus não é democrático, disse Renato Meirelles. “Ele pode até atingir pobres e ricos mas, na prática, os anticorpos sociais fazem com que o vírus afete mais os moradores das favelas que têm condição pior de resistir, do que os moradores do asfalto”. Isso vai desde o acesso a plano privado de saúde até ter água potável dentro de casa.

O presidente do Instituto Locomotiva destacou que 46% dos lares das favelas não têm água potável e que 96% dos moradores não possuem plano de saúde, dependendo quase exclusivamente do sistema público.

Metade dos entrevistados disse viver com alguém do grupo de risco para a covid-19. Desses, 32% vivem com maiores de 60 anos de idade. Sessenta por cento dos moradores de favelas coabitam com quatro ou mais pessoas. O Brasil tem 13,6 milhões de pessoas vivendo em favelas que, se formassem um estado, seria o quinto maior do país em termos populacionais. O ranking é liderado por São Paulo e Minas Gerais, com 46 milhões e 21 milhões de habitantes, respectivamente.

Para 52% dos moradores das favelas, a pandemia ainda está no meio de sua evolução. Indagados sobre o grau de preocupação na pandemia, 89% disseram que é com a saúde de parentes mais velhos e 88% com o risco de perder o emprego ou a renda. Setenta e um por cento se preocupam com a saúde dos mais jovens e 70% com a sua própria saúde. Quarenta e nove por cento afirmaram que procuram seguir as medidas de prevenção contra o novo coronavírus; entre os que não conseguem, 72% alegaram necessidade de trabalhar e de gerar dinheiro para a família.

Filhos
Cinquenta e três por cento dos moradores das favelas têm filhos. A média é de 2,7 filhos por família. Oitenta e sete por cento das famílias indicaram que o fato de os filhos não estarem indo à escola aumentou os gastos em casa. Para 81% dos consultados, ter os filhos em casa dificulta a alguém da família conseguir trabalhar ou obter renda. Oitenta e quatro por cento das mães das favelas acham que os filhos não estão estudando em casa como deveriam. A maioria das crianças não tem computador em casa e as que acessam a internet o fazem pelo celular.

O emprego formal hoje entre os moradores economicamente ativos das favelas (17%) equivale à metade dos que vivem no asfalto (31%). Já o desemprego nas favelas (20%) é quase o dobro do que no asfalto (9%). A preocupação com a renda familiar aumentou 14 pontos percentuais nas favelas durante a pandemia, passando de 75%, em março, para 89%, em junho. Oitenta por cento das famílias das favelas estão sobrevivendo com menos da metade da renda pré-pandemia e dois terços dos moradores (66%) afirmaram que só têm reservas fnanceiras para aguentar uma semana em casa sem trabalhar. Isso ocorre, segundo Renato Meirelles, por causa da informalidade, “que é muito maior, por conta da dificuldade de conseguir o auxílio emergencial”.

Para 76% dos entrevistados, pelo menos em um dia faltou dinheiro para comprar comida durante a pandemia. Oitenta e nove por cento disseram ter recebido algum tipo de doação durante a crise, sendo 91% em alimentos, 79% em cesta básica, 55% em produtos de higiene e 53% em produtos de limpeza. As organizações não governamentais (ONGs) e empresas são as que mais doaram na pandemia, com 69% das respostas, seguidas por vizinhos, amigos ou parentes (52%) e governos (36%).

Auxílio
Quase sete em cada dez famílias recorreram ao auxílio emergencial do governo federal, mas 41% não receberam nenhuma parcela até o momento. Meirelles salientou que há muito a ser feito em prol dessa parcela da população que é tão vulnerável.

"Favela é majoritariamente negra e os negros ganham menos do que os brancos. Favela tem metade dos lares chefiados por mulheres e elas ganham menos do que os homens. Favela tem escolaridade média menor do que o restante da população brasileira e isso interfere diretamente na renda. É como se a favela concentrasse geograficamente todas as desigualdades do Brasil”, comentou.

Entre os que receberam o auxílio emergencial, 96% usaram os recursos para a compra de alimentos, 88% para a compra de artigos de higiene, 87% para a compra de produtos de limpeza, 68% para o pagamento de contas básicas, 64% para compra de remédios e 62% para ajudar familiares e amigos.

Dentro do projeto Mães da Cufa, elas  informaram ter recebido 91% de doações em dinheiro ou tíquete, que foram destinados para a compra de alimentos (96%), de produtos de higiene (75%) e de artigos de limpeza (69%). Sem a doação, 80% das famílias não teriam condições de se alimentar, 80% não poderiam pagar as contas básicas e 72% não poderiam adquirir produtos necessários para higiene e limpeza. 

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