Fake News

Pesquisadores aconselham tratar desinformação da Covid como se trata a pandemia

Em todo o mundo, as teorias conspiracionistas e os movimentos que negam a pandemia ganharam fôlego principalmente nas redes sociais.

Em meio a cenário de pandemia, disseminação de notícias falsas aumentouEm meio a cenário de pandemia, disseminação de notícias falsas aumentou - Foto: Hector RETAMAL / AFP

A pandemia da Covid-19 trouxe, além dos desafios do enfrentamento do vírus e tratamento de doentes em hospitais, uma onda de desinformação e fake news que atentam contra as medidas necessárias para conter a doença.
Em todo o mundo, as teorias conspiracionistas e os movimentos que negam a pandemia ganharam fôlego principalmente nas redes sociais.

Informações falsas como as que colocam em dúvida a quantidade de mortes pelo coronavírus, questionam a seriedade e integridade de pesquisadores e instituições públicas e causam medo e desconfiança na população quanto às vacinas contra a Covid atrapalham a condução da pandemia.

Por isso, pesquisadores do Centro de Políticas Públicas de Annenberg, da Universidade da Pensilvânia, da Faculdade de Medicina Weill Cornell e da ONG Critica (Bronx), de Nova York, que realiza estudos para auxiliar na tomada de decisões para políticas em saúde e segurança, publicaram no último mês um artigo na revista científica NEJM (The New England Journal of Medicine) defendendo "tratar" a infodemia -conjunto de informações falsas disseminadas sobre a pandemia de Covid- da mesma maneira como são tratadas as epidemias.

Na medicina, tão importante como buscar medicamentos ou vacinas para tratamento ou prevenção de doenças infecciosas são a vigilância epidemiológica (monitoramento de novos casos) e a ação rápida em locais de surto, que ajudam a conter a propagação de mazelas.

 

No caso da infodemia, os autores sugerem ações parecidas: vigilância em tempo real dos "casos" de desinformação, diagnóstico certeiro -incluindo a procedência do texto falso e se foi produzido ou não por órgão oficial- e resposta imediata.

As ações para prevenção da epidemia de fake news dependem de respostas rápidas para evitar o alastramento da desinformação, mas sem também agir rápido demais, ecoando inadvertidamente aquela notícia falsa.

Para monitorar os casos de textos falsos em redes e a propagação de mensagens, os autores sugerem usar dados estatísticos de plataformas e sites -como Facebook ou YouTube- para rastrear tags ou termos nas buscas no Google associados à desinformação. Avaliar acessos ou procura acima do normal de determinados temas pode também acionar um alerta para eventos "super espalhadores", à semelhança dos surtos de Covid.

Um exemplo citado foi a publicação, em outubro de 2020, de um texto em um blog republicano de extrema direita que afirmava que um estudo do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA concluiu que máscaras são "ineficazes na prevenção do coronavírus" e que "85% dos casos de Covid no país em julho foram de pessoas usando máscaras".

Na verdade, o estudo citado usou um grande número de pessoas que diziam "usar máscara sempre" e, em número menor, pessoas que "usam máscaras às vezes" para avaliar quantos casos de Covid surgiram em cada coorte e medir, assim, a eficácia de diferentes tipos de protetores faciais. Em nenhum momento o estudo dizia que as máscaras não eram eficazes contra o vírus.

Mas o conteúdo falso foi divulgado horas depois pela Fox News, onde foi visto por mais de 4 milhões de espectadores.

Três dias depois, o então presidente americano Donald Trump repercutiu a notícia em um pronunciamento para um público de 13 milhões de apoiadores, alegando que máscaras eram danosas à saúde e não protegiam. Quando as autoridades de saúde do país perceberam o uso indevido da pesquisa do CDC como notícia falsa, o estrago já estava feito.
Até hoje, as máscaras são um dos principais temas da pandemia com o maior número de publicações falsas e desinformação na internet.

Uma forma de controlar isso teria sido agir no momento em que a nota foi apropriada pelo site republicano. O sistema de vigilância deve agir no ponto de inflexão da curva infodêmica antes da notícia falsa viralizar, defendem os autores.

A cooperação de empresas como Facebook e Twitter é fundamental nessa etapa para fornecer dados sobre a criação das postagens e rastreio de IPs das máquinas usadas pelos usuários propagadores de fake news.

O segundo mecanismo de ação é o diagnóstico correto: a classificação das notícias falsas em diferentes categorias é fundamental para proporcionar acurácia no diagnóstico.

No Centro de Políticas Públicas de Annenberg, foi criado um sistema para classificar as notícias falsas existentes segundo os diferentes tipos de conteúdo: origem do vírus, existência (da pandemia) e virulência, transmissão, diagnóstico e rastreio de contatos, prevenção, tratamentos profiláticos e de intervenção e vacinação.

No caso das máscaras, são cinco os tipos principais de notícias falsas sobre o equipamento protetor: distorção de estudos científicos (uso de informações publicadas fora do contexto), indagações sobre a eficácia das máscaras não ter ainda sido comprovada, declarações de que as máscaras são ineficazes, insinuações que máscaras geram riscos à saúde e teorias conspiratórias (por exemplo, de que as máscaras são "camisas de força" ou são usadas para rastreamento das pessoas).

Como cada um desses conteúdos são diferentes, determinar qual o tipo de notícia falsa produzida pode ajudar na mitigação e comunicação adequada sobre o assunto.

Por fim, da mesma maneira que o tratamento de doentes é feito pelos profissionais de saúde, a resposta às notícias falsas cabe aos profissionais de comunicação, que devem contra-atacar a desinformação e usar informações baseadas em evidência científica.

Nessa ação podem ser incluídos métodos como aproximação com o público, propagandas e campanhas veiculadas nacionalmente na rádio e TV, entrevistas coletivas, interlocutores representados por líderes comunitários com as populações mais vulneráveis, dentre outras.

Podem ainda ser utilizados sistemas de monitoramento dos governos para saber quais os locais onde os "surtos" da infodemia são maiores, geralmente ocorrendo em paralelo onde há alta no número de casos da doença, e focar no tratamento da desinformação nesses lugares.

Locais onde há baixa adesão na campanha de vacinação estão em geral associados a maior desinformação sobre vacinas, como ocorreu com alguns países europeus e estados nos EUA. Agir localmente, com campanhas de conscientização sobre a importância e a segurança dos imunizantes contra Covid, podem ajudar a reduzir casos tanto da doença do coronavírus quanto de fake news.

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