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Polícia indicia João de Deus sob suspeita de violência sexual mediante fraude

A vítima neste inquérito é uma mulher de cerca de 40 anos, que alega ter sido molestada em 24 de outubro

João de DeusJoão de Deus - Foto: Arquivo

A Polícia Civil de Goiás concluiu a primeira investigação sobre o caso João de Deus e o indiciou sob a suspeita de violência sexual mediante fraude. O relatório final do inquérito diz que ele cometeu uma espécie de estelionato, ou seja, propôs um tratamento de cura espiritual com o intuito de cometer uma violação.

A vítima neste inquérito é uma mulher de cerca de 40 anos, que alega ter sido molestada em 24 de outubro. O caso agora será analisado pelo Ministério Público de Goiás, que decidirá se denuncia o médium. Se condenado pelo crime, ele pode pegar entre dois e seis anos de prisão em regime fechado.

Medo e pânico
Uma das mulheres que procuraram a Polícia Civil de Goiás para denunciar supostos abusos sexuais de João Teixeira de Farias, o João de Deus, relatou pânico durante o atendimento e receio de ser agredida pelo médium ou os frequentadores de seu centro espírita, em Abadiânia (GO), se reagisse.

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A reportagem teve acesso ao depoimento da paciente, que embasou o principal inquérito contra João de Deus e seu pedido de prisão.

Entre outros casos sob investigação, consta o de uma mulher que alega ter sido estuprada em 1987, quando tinha 11 anos. E o de outra que, atendida no início de 2018, contou ter sido alertada pelos moradores de Abadiânia do risco de morte se denunciasse violação.

O médium prestou depoimento no domingo (16), dia de sua prisão, e negou ter abusado de mulheres e crianças em seu centro espírita. Ele declarou que os atendimentos individuais são feitos a pedido das pacientes e em locais visíveis para quem está do lado de fora.

No inquérito que embasou a prisão de João de Deus, a denunciante contou ter ido com o namorado e a cunhada à Casa Dom Inácio de Loyola, espécie de hospital de cirurgias espirituais mantido pelo médium, em 24 de outubro. Enquanto aguardava na antessala, ele teria se aproximado e pedido para que os acompanhantes saíssem, pois ela precisava de "atendimento individual".

O médium, então, teria apagado a luz, a colocado de costas e começado a passar as mãos em suas costas, braços e barriga. Em seguida, teria passado a massagear o baixo ventre da suposta vítima, ao mesmo tempo em que pedia que mexesse o quadril.

A suposta vítima contou ter tentado se esquivar e, então, passado a observar as atitudes de João de Deus. Relatou que pedia calma a si própria mentalmente e que determinou que encerraria a sessão se percebesse que o médium tinha uma ereção.

"Desde que houve o desligamento da luz e ficou de costas para o autor, sentiu-se constrangida e, por ser da religião espírita, percebeu que a conduta não era comum em tratamento espiritual", diz transcrição do depoimento à Polícia Civil.

João de Deus teria acendido a luz e perguntado o que a paciente achava estar acontecendo ali. Ela disse ter respondido que acreditava ser um tratamento para seu útero, ao que ele teria novamente deixado o ambiente na penumbra e, na sequência, solicitado que ela massageasse a barriga dele.

Segundo o depoimento, prestado na segunda (10), o médium perguntou se a paciente "queria outro tratamento daquele ou se só aquele bastava". Ela disse ter ficado em silêncio porque temia demonstrar que estava nervosa e gerar alguma situação agressiva por parte dele. Se gritasse, explicou, poderia ser maltratada pelos trabalhadores e frequentadores do local.

"Assim permaneceu em pânico, enquanto massageava a barriga do médium, que pediu para ela continuar e que fizesse a massagem com mais amor, carinho", prossegue o relato.

João de Deus teria pedido para a denunciante abaixar a mão, quando ela teria notado que uma parte do pênis dele estava para fora da roupa. "Ele arrumou as calças, acendeu a luz e pediu para escolher um dos quadros que estavam expostos em cima da mesa", afirmou ela.

A suposta vítima diz ter sido presenteada com duas telas, com imagens de Nossa Senhora, uma escolhida por ela própria e a outra pelo médium.

Ele então teria destrancado o cômodo, pedido que ela saísse e a apresentado ao público de forma elogiosa. "Pediu que ela escolhesse um dos cristais que estavam no salão. E pediu para que ela não relatasse a forma do tratamento para ninguém", concluiu a depoente.

Para os investigadores, esse e outros casos demonstram que João de Deus se aproveitava da vulnerabilidade "psicoemocional" das pacientes - fragilizadas por conta de doenças - para praticar os abusos. Para isso, usaria uma estratégia de intimidação, ao isolá-las dos demais atendidos, além de dar às violações uma roupagem de ritual de fé.

Outro relato sob investigação é o de uma mulher que tinha 11 anos em 1987 e disse ter ido ao hospital espírita com a avó materna. Ela afirmou que, durante o atendimento, João de Deus a fez colocar a mão em seu pênis e com ele tocou suas nádegas. Em seguida, a teria penetrado.

O caso é um dos que, para os policiais, não renderá denúncia ou punição ao médium, uma vez que mais de 30 anos se passaram. Porém, eles sustentam que o relato reforça o quadro probatório contra o médium em investigações de episódios mais recentes.

Outra mulher relatou que no início deste ano foi abordada por João de Deus na Casa Dom Inácio e se ajoelhou na frente dele. O médium teria levado a mão dela ao seu pênis. A suposta vítima contou que, após comentar sobre o registro de ocorrência sobre o atendimento, moradores de Abadiânia a alertaram sobre o risco de morte a que estaria submetida.

Denúncias
As denúncias contra João de Deus têm se avolumado desde o sábado (8), após 13 supostas vítimas relatarem violações à TV Globo e ao jornal O Globo. Na segunda (10), Aline Saleh, 29, contou à Folha de S. Paulo que esteve na Casa Dom Inácio em 2012, foi levada para um banheiro, posta de costas e que João de Deus colocou a mão dela em seu pênis.

Desde então, a força-tarefa montada pelo Ministério Público de Goiás para investigar o caso recebeu 506 relatos sobre supostos abusos cometidos pelo médium. A maioria chegou por e-mail e as denunciantes estão sendo chamadas a prestar depoimentos.

Na última sexta (14), a Justiça decretou a prisão preventiva dele. João de Deus ficou escondido num sítio na zona rural de Abadiânia até se entregar na tarde de domingo (16) e ser levado para a prisão em Aparecida de Goiânia.

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