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População relata clima de insegurança nos BRTs do Grande Recife

Dois crimes recentes acendem o alerta sobre a violência neste tipo de transporte público. A Folha ouviu relatos de passageiros assustados

Dois crimes recentes em Bus Rapid Transit (BRT) acendem o alerta sobre a insegurança neste tipo de transporte público no Grande Recife. Na tarde da última quinta-feira (8), uma adolescente denunciou que, durante uma viagem de BRT, um homem tocou na vagina dela próximo ao terminal da PE-15, no bairro de Ouro Preto, em Olinda. Na mesma noite, um homem foi baleado durante um assalto numa estação de BRT na PE-15, no bairro de Jatobá, também em Olinda.

As primeiras estações de BRT foram inauguradas em 2014, para a Copa do Mundo. 
O novo modal prometia equipamentos com espaço maior do que os veículos convencionais, podendo transportar até 160 passageiros, e viagens mais rápidas. Só que a melhoria na infra-estrutura não veio acompanhada de mais segurança, segundo a população. A Folha de Pernambuco visitou estações de BRT no Centro do Recife e escutou depoimentos de passageiros assustados com a violência.

A dona de casa Vanda Maria de Brito, 57 anos, nunca foi assaltada, mas já ouviu muitos relatos de assalto. “Eu não ando muito de BRT, só quando vou para o Centro, que é mais rápido, mas veja que a segurança é zero”, disse. A estudante Alice Santos, 15 anos, acredita que deveria haver pelo menos um policial em cada estação. “À tarde e à noite fica mais vazio e mais perigoso pegar ônibus”, comentou.

A comerciante Isabela Lira da Silva, 22 anos, diz que não se sente segura em nenhuma hora do dia. “Uma vez eu estava descendo do BRT e vi dois homens entrando com uma faca, não sei o que aconteceu depois. Lá perto de onde eu moro, em Salgadinho [em Olinda], tem assalto direto”, afirmou. A cozinheira Regina de Fátima Silva, 56 anos, relatou o clima que toma conta dos passageiros atualmente. “Quando estamos no ônibus, todo mundo fica olhando quem entra, quem senta do lado, preocupado. Eu mesma não saiu mais de casa à noite para pegar ônibus, com medo.”

No dia 12 de junho desde ano, a Folha noticiou que já estava em 737 o número de assaltos a ônibus desde 1° de janeiro, o que dava uma média de 5,5 assaltos por dia. O número, no entanto, era diferente do contabilizado pelo Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, que na época apontava 1.850 ocorrências, no mesmo período.

Além dos assaltos, as mulheres ainda correm risco dos abusos sexuais nos coletivos. “Hoje, a violência está a pior de todos os tempos, fora que os ônibus estão sempre lotados e os passageiros do sexo masculino se aproveitam”, disse. No site da Secretaria de Defesa social, o balanço mais recente aponta que 674 mulheres foram estupradas no Grande Recife, em 2016. Não há dados de 2017. A página também não mostra os locais onde os estupros ocorreram.

Combate ao assédio

Há um ano, o Comitê de Combate ao Assédio Sexual no Sistema de Transporte Público lançava uma campanha para alertar a população sobre o assédio sexual nos coletivos. A iniciativa afixou três mil cartazes nos ônibus e terminais do Grande Recife para coibir esse tipo de crime, estimular a denuncia e esclarecer como as vítimas devem proceder.

A estratégia estimula que mulheres vítimas de importunação ofensiva ao pudor ou, até mesmo, estupro tentado e ou consumado efetuem denúncias pela Ouvidoria das Mulheres/Cidadã Pernambucana, que atende no telefone 0800.281.8187. Durante o contato a denunciante deve informar o máximo de características que ajudem a identificar o agressor, como aparência física, além da linha e número de ordem do ônibus (numeração geralmente com três dígitos), data e horário em que ocorreu o fato e as imediações em que o transporte passava no momento do assédio.

Esses dados ajudam a Ouvidoria das Mulheres a solicitar imagens das câmeras de segurança dos coletivos, que ajudam ainda a investigação policial dos casos. A Campanha de Enfrentamento ao Assédio Sexual no transporte público é encabeçada pelo Grande Recife Consórcio, secretarias da Mulher e Defesa Social, além do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros (Urbana-PE) e Frente de Luta pelo Transporte/Movimento Mulher e Sindicato dos Rodoviários.

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