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Opinião

Por sobrevivência, não se envolva no caos

Dia sim, outro também, as escaramuças entre poderes nos são apresentadas pela imprensa, em letras garrafais, embora algumas vezes as informações sejam desprovidas de filtro de razoabilidade.

A população, fatigada da jornada pela sobrevivência, deixa de analisar as notícias e aquieta-se com as informações difusas promovidas por detentores da chave que abre e fecha o fluxo da realidade factual.

Para melhor compreensão do termo, recomendo a leitura do livro Engenheiros do Caos (EDITORA VESTÍGIO, 2019), escrito por Giuliano da Empoli.

O paradigma da informação, no qual o excesso de dados disponíveis impede o conhecimento completo do problema, faz com que o domínio da opinião pública esteja nas mãos desses operadores, que divulgam a seus seguidores apenas o que resulte em berrante para a manada.


E ela, rotinada a seguir seu rumo sem avaliar de onde vem o som e se ele a levará a bom pasto, avança para o entabulamento e posterior sacrifício.

Hoje, no campo de batalha nacional, onde as forças políticas se desdobram para conquistar o estandarte maior do poder, muitos operadores estão atuando vigorosamente para convencer a opinião pública de suas boas intenções, de sua ética pura e de seu desejo de servir sem olhar a quem.

Há sete séculos, Sun Tzu, estratego chinês que sobreviveu com seus escritos até nossos dias, sistematizou várias ideias que permitiram aos generais a obtenção de sucessos em suas campanhas militares. 

As lições do velho mestre servem, todavia, para vários ramos da gestão, desde o primacial que é a atividade militar, até o rotineiro nos lares mais simplórios.

Retomei a leitura do pequeno tratado e trago-lhes, caro leitor, algumas passagens que podem colaborar para a análise da conjuntura, afastando-lhe dos guias oniscientes e salvadores (engenheiros do caos), e para a tomada de decisão sobre qual é o melhor caminho a seguir para sobreviver à tentativa da conquista de sua inteligência e coração.

Eis alguns trechos.

Quando seu adversário vier com palavras conciliadoras, mas estiver organizando diligentemente preparativos, está prestes a avançar. 

Se usa linguagem chula, violenta e arremete em desordem e ruidosamente parecendo atacar, está em retirada. São os cachorros que latem, mas não mordem.

Se o antagonista for de temperamento exaltado, procure irritá-lo. Simule fraqueza para que ele se torne arrogante. Afinal, quem nos irrita nos vence.

Um general é hábil no ataque, quando o seu oponente não souber o que defender e na defesa, quando o outro não tiver como atacar. Dissimulação ajuda a dividir o inimigo e concentrar seus recursos.

Se desejar combater, force o oponente ao encontro, mesmo que ele esteja protegido por trincheiras profundas. Ataque um ponto diferente, um em que ele seja obrigado a mover-se para defendê-lo. Ofenda algo que lhe seja emocionalmente precioso.

Enquanto os oponentes se ocupam em conceber desordenadamente o que você vai fazer, pense objetivamente no que você realmente fará. Manter o foco, poupa vidas e dinheiro.

No capítulo Sinais Significativos, aspectos emocionais são tratados por Sun Tzu: 

- Havendo agitação no acampamento é fraca a autoridade do general; 

- Soldados cochichando uns com os outros, em pequenos grupos, e falando em voz baixa é sinal de descontentamento no seio da tropa; 

- Recompensas muito frequentes denota que o chefe inimigo está com medo, carece de apoio, chegou ao limite e tem poucos recursos;

- O general que abusa de bravatas e depois treme diante do inimigo impassível revela a suprema falta de inteligência.

Esses aforismos se encaixam na sua vida pessoal, caro leitor. E podem, principalmente, servirem como manual para avaliar suas escolhas diante das lutas fraticidas que se desencadeiam pela tomada do poder em nosso país. 

A batalha se aproxima. Esteja com os planos em dia, as tropas preparadas e conheça o inimigo. É por sua sobrevivência. E não se deixem envolver pelo caos.

Paz e bem!
 

*General de Divisão da Reserva


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