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Primeira reunião de Gabinete de Trump tem protagonismo de Musk e ameaças a aliados

Reunião também teve cobrança de lealdade

Primeira reunião de Gabinete de TrumpPrimeira reunião de Gabinete de Trump - Foto: Jim Watson/AFP

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A primeira reunião do Gabinete do presidente dos EUA, Donald Trump, foi marcada, além de um longo discurso do republicano, pela presença do bilionário Elon Musk, responsável por um controverso departamento de corte de gastos do Estado, e que está no meio de uma polêmica envolvendo alguns dos principais departamentos do governo.

Além dos aplausos ao bilionário, Trump defendeu a intensa agenda adotada em pouco mais de um mês no posto, e não poupou alguns dos principais aliados históricos dos americanos.

Logo após uma breve introdução, na qual reclamou dos preços dos ovos e confirmou a visita do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na sexta-feira, para fechar um acordo sobre os recursos minerais do país, Trump passou a palavra para Elon Musk, que não estava sentado à mesa — segundo a Casa Branca, ele é um “empregado especial do governo”, e não ocupa uma pasta, como os demais secretários.

Usando uma camiseta e um boné, um contraste em relação aos demais membros do Gabinete, Musk, de pé, defendeu as ações de seu Departamento de Eficiência Governamental, ou DOGE, em inglês, sigla que tem o mesmo nome de uma criptomoeda promovida por ele no passado.

Musk exibe a camiseta na primeira reunião de Gabinete de Trump - Foto: Jim Watson/AFPMusk exibe a camiseta na primeira reunião de Gabinete de Trump - Foto: Jim Watson/AFP

Segundo o bilionário, os EUA “vão quebrar” caso sua equipe não leve a cabo o trabalho, que tem a meta de reduzir, até 2026, o déficit público em até US$ 1 trilhão (R$ 5, trilhões) — durante a campanha, a “meta” era o dobro, US$ 2 trilhões (R$ 11, 6 trilhões).

Ao mesmo tempo, reconheceu que alguns dos cortes foram equivocados, citando um programa da agência de ajuda internacional, a Usaid, para a prevenção de Ebola na África: segundo Musk, houve um cancelamento “acidental”, posteriormente revertido. Ele não quis citar quantos funcionários públicos planeja demitir na administração federal como um todo.

Musk citou a polêmica criada no final de semana passado, quando enviou milhares de e-mails a funcionários federais pedindo que explicassem, em até cinco tópicos, suas funções. A ordem, que ameaçava com demissão aqueles que não a cumprissem, levou a uma crise interna no governo, e alguns departamentos, como os de Estado e Defesa, instruíram seus empregados a ignorarem as mensagens.

Ao ser questionado amenizou o tom, afirmando que era uma “verificação” sobre os funcionários, e não uma “avaliação de desempenho”. Na segunda-feira, o Escritório de Gestão Pessoal (OPM, na sigla em inglês), que atua como um departamento de recursos humanos do governo federal, disse que ninguém seria obrigado a responder ao e-mail.

— Achamos que há várias pessoas na folha de pagamento do governo que estão mortas. É provavelmente por isso que elas não podem responder. E algumas pessoas que não são pessoas reais, como se fossem literalmente indivíduos fictícios que estão recebendo cheques de pagamento — afirmou, sem apresentar exemplos. — Então, estamos literalmente tentando descobrir se essas pessoas são reais, se estão vivas e se conseguem escrever um e-mail?

Ele destacou que a ordem foi aprovada pelo próprio Trump, que saiu em defesa do bilionário e, à sua forma, reiterou o poder que lhe foi dado.

— Alguém está descontente com Elon? Se estiver, nós o expulsaremos daqui — disse o presidente, entre risadas sem graça e alguns aplausos. — Eles [membros do Gabinete] têm muito respeito por Elon e pelo que ele está fazendo. E alguns discordam um pouco. Mas eu vou te dizer que, na maioria, acho que todo mundo não está apenas feliz, eles estão emocionados.

Primeira reunião do Gabinete de Trum - Foto: Jim Watson/AFPPrimeira reunião do Gabinete de Trum - Foto: Jim Watson/AFP

Fissuras internas
O descontentamento veladou ou aberto com o papel de Musk no governo não está restrito ao Poder Executivo. No Congresso, alguns republicanos expressam dúvidas sobre a eficácia dos cortes ou mesmo sobre a forma como estão sendo feitos: citado pela CNN, o líder da maioria republicana no Senado, John Thune, disse que os desligamentos “precisam ser feitos de uma maneira respeitosa”.

Também à rede americana, a deputada republicana Nicole Malliotakis disse que tudo está acontecendo “de maneira veloz e furiosa” e pediu um “passo atrás” para que as ações sejam avaliadas de forma coesa e completa.

Após a intervenção de Musk, Trump retomou o protagonismo e deu início a uma fala de cerca de 40 minutos, a começar pela defesa de seu plano para um novo programa de vistos, chamado por ele de “Cartão de Ouro”, que dará o direito de moradia e trabalho, além de abrir o caminho para a cidadania americana, ao custo de US$ 5 milhões (R$ 28 milhões).

O programa substitui o visto conhecido como EB-5, condicionado a um investimento em torno de US$ 1 milhão (R$ 5,8 milhões) nos Estados Unidos. Segundo Trump, o cartão dourado estará disponível em duas semanas.

— Acho que isso vai vender de maneira louca — disse o presidente. — Temos que ser capazes de colocar pessoas no país, e queremos pessoas que sejam produtivas, e eu vou te dizer, as pessoas que podem pagar US$ 5 milhões, elas vão criar empregos.

Ao falar sobre política externa, além de confirmar a visita de Zelensky na sexta-feira, disse que as garantias de segurança exigidas por Kiev não serão muito extensas, que o país “pode esquecer a adesão à Otan”, que o presidente russo “terá que fazer concessões” nas negociações, e que os europeus precisam assumir mais responsabilidades. Em mais uma ataque a Bruxelas, afirmou que "a União Europeia (UE) foi formada para ferrar com os Estados Unidos", antes de anunciar um tarifaço de 25% sobre as importações do bloco.

Sobre a China, não quis responder se defenderia Taiwan, considerada um território rebelde por Pequim, no caso de uma invasão chinesa — o tema é considerado tabu na Casa Branca, embora seu antecessor, Joe Biden, tenha dito, de forma não programada, que poderia mandar ajuda militar, apenas para ser corrigido por assessores posteriormente.

—Eu nunca comento sobre isso, eu não comento nada, porque eu não quero nunca me colocar nessa posição — disse Trump aos jornalistas que estavam na sala. — E se eu dissesse isso, eu certamente não estaria dizendo para você. Eu estaria dizendo para outras pessoas, talvez pessoas ao redor desta mesa, pessoas muito específicas ao redor desta mesa.

Em um outro momento peculiar, o presidente criticou a desastrosa saída americana do Afeganistão, em agosto de 2021, quase 20 anos após o início da invasão. Ele criticou a forma como o governo Biden conduziu a retirada, e defendeu que os militares envolvidos fossem demitidos, omitindo o fato de que a saída ocorreu por causa de um acordo firmado por Trump, em seu primeiro mandato, com a milícia Talibã, em 2020, que voltaria ao poder no ano seguinte.

Ele ainda criticou o repasse da base militar de Bagram, usada pelos americanos, ao Estado afegão, embora sua devolução estivesse prevista no acordo firmado pelo então presidente com os talibãs.

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