Putin não comparecerá à cúpula dos Brics na África do Sul, afirma governo sul-africano
Federação Russa será representada pelo ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov
Leia também
• Lula diz que Boric é "sequioso" e "apressado" por críticas a países quem condena Rússia por guerra
• Se venezuelanos chegarem a acordo sobre eleições, haverá "autoridade" para fim das sanções, diz Lula
• Presidente sul-africano diz que prender Putin durante cúpula do Brics seria 'declaração de guerra'
O presidente russo, Vladimir Putin, não comparecerá à cúpula dos países dos Brics na África do Sul em agosto, informou nesta quarta-feira (19) a Presidência da nação africana, encerrando meses de especulações.
"Por acordo mútuo, o presidente Vladimir Putin da Federação Russa não participará da cúpula, mas a Federação Russa será representada pelo ministro das Relações Exteriores, o senhor [Sergei] Lavrov", disse Vincent Magwenya, porta-voz do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, em um comunicado.
Putin foi convidado para o encontro que acontece entre os dias 22 e 24 de agosto, em Joanesburgo, mas é alvo, desde março, de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra. O governo sul-africano — que enfrenta uma batalha judicial em casa — pediu autorização ao TPI, com sede em Haia, para não prender o presidente russo.
Prender Putin seria uma declaração de guerra à Rússia, afirmou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, em um documento publicado na terça-feira pela Justiça de seu país, em pleno debate nacional sobre a visita do presidente russo durante a próxima cúpula do Brics — acrônimo formado pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
O TPI acusa Putin pela "deportação ilegal" de crianças ucranianas após a invasão da Ucrânia, o que o Kremlin nega. Como país que integra o TPI, a África do Sul teria, em teoria, que prender o presidente russo ao entrar em território sul-africano. Este se tornou um grande dilema diplomático para o governo de Ramaphosa, que se recusa a condenar a Rússia desde o início da guerra.
O caso entrou na esfera judicial local, depois que o principal partido de oposição no país — a Aliança Democrática (DA) — procurou os tribunais para forçar o governo a garantir que o líder russo seja detido e entregue ao TPI se colocar os pés na África do Sul. Em documento que faz parte do processo e foi publicado nesta terça-feira, Ramaphosa chamou o pedido do partido de "irresponsável".
"A Rússia indicou claramente que qualquer prisão de seu presidente equivaleria a uma declaração de guerra. Não seria coerente com nossa Constituição arriscar envolver o país em uma guerra com a Rússia", escreveu.
O texto diz ainda que a detenção de Putin pode ameaçar "a segurança, a paz e a ordem do Estado", especificou Ramaphosa no documento assinado em junho e classificado inicialmente como confidencial, antes de ser divulgado pelo tribunal.
De acordo com a agência de notícias Reuters, o pedido do governo sul-africano ao TPI se baseia no artigo 97 do estatuto de Roma, que fundou o tribunal, que prevê que os países signatários possam pedir autorização para não cumprir um mandado alegando problemas que impeçam sua execução.