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Quase 500 mil crianças podem morrer de Aids até 2030 na África após cortes de Trump na ajuda

Pesquisadores avaliaram o impacto da interrupção do Plano de Emergência do Presidente para Alívio da Aids, que já salvou 26 milhões de vidas desde 2003

Foto: Prakash Mathema/AFP

Uma nova análise conduzida por um time internacional de pesquisadores concluiu que um milhão de crianças podem ser infectadas com o vírus HIV até 2030 na região da África Subsaariana, e quase meio milhão podem morrer pela síndrome da imunodeficiência adquirida ( Aids), devido aos cortes no financiamento de programas assistenciais pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Os cientistas pedem ações urgentes para garantir a continuidade das iniciativas no continente e manter os esforços para prevenir o avanço da doença pelo mundo. O estudo, que avaliou a interrupção específica do Plano de Emergência do Presidente para Alívio da Aids (PEPFAR), dos EUA, foi publicado na revista científica The Lancet nesta semana.

O plano foi estabelecido pelo governo americano ainda em 2003 e, desde então, já forneceu mais de 120 bilhões de dólares, o equivalente a cerca de 727 bilhões de reais na cotação atual, para o tratamento e a prevenção do HIV e da Aids pelo mundo. Estimativas apontam que o programa salvou mais de 26 milhões de vidas e garantiu que 7,8 milhões de bebês nascessem sem o vírus.

No momento, o PEPFAR apoia mais de 20 milhões de pessoas com acesso a métodos preventivos e medicamentos, especialmente na África Subsaariana. Porém, com os cortes recentes de Trump, que pausou por 90 dias o financiamento de todos os programas de ajuda humanitária conduzidos pelo país, é incerto o futuro da iniciativa.

Segundo os pesquisadores, apesar de o PEPFAR ter recebido uma isenção limitada para dar continuidade a algumas ações, muitos serviços realizados pelo programa estão interrompidos ou completamente suspensos desde 20 de janeiro de 2025.

“O futuro dos programas do PEPFAR está em jogo. Perder o apoio estável e de longo prazo faz com que o progresso global para acabar com o HIV/Aids volte à idade das trevas da epidemia, especialmente para crianças e adolescentes”, alerta uma das líderes do estudo e professora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Lucie Cluver, em comunicado.

“Uma retirada repentina dos programas do PEPFAR, especialmente na ausência de uma estratégia de longo prazo para substituí-los, poderia levar a um ressurgimento das infecções por HIV e mortes evitáveis, além de um aumento dramático no número de crianças órfãs devido à Aids nos próximos anos. Um retrocesso que poderia corroer duas décadas de progresso”, continua a especialista.

Ao todo, o trabalho estimou um milhão de novas infecções e 460 mil mortes entre crianças nos próximos cinco anos no continente africano sem o financiamento americano. Além disso, 2,8 milhões podem se tornar órfãs devido à doença.

De forma mais ampla, um outro estudo, conduzido pelo Instituto Burnet, na Austrália, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), analisou dados de 26 países e estimou que o corte de recursos internacionais, especialmente advindos do PEPFAR, podem resultar em um adicional de até 10,75 milhões de infecções e 2,93 milhões de mortes, além do esperado, pelo mundo também durante os próximos cinco anos.

No trabalho mais recente, os autores defendem medidas para tornar os programas mais eficientes e sustentáveis, com modelos de transição para que os países africanos não sejam prejudicados pelo fim do financiamento americano. Segundo os pesquisadores, as nações assistidas já vêm aumentando progressivamente o cofinanciamento de seus sistemas de saúde, saindo de um investimento de 13,1 bilhões de dólares, em 2004, para 40,7 bilhões, em 2021.

“O que é urgentemente necessário agora é uma transição bem planejada para a expansão da propriedade nacional dos programas do PEPFAR, que levará adiante esse trabalho que salva vidas e oferecerá estabilidade e sustentabilidade para os países que atualmente dependem do apoio do PEPFAR agora e no futuro, o que, por sua vez, também beneficia os EUA e solidifica sua posição como líder global no esforço para acabar com o HIV”, argumenta o pesquisador da Universidade de Kwazulu-Natal, na África do Sul, e um dos autores do estudo, Chris Desmond.

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