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Reforma traz o ensino médio brasileiro ao século XXI

Atualmente, o ensino médio brasileiro tem 13 disciplinas obrigatórias. Com a reforma, uma parte da grade curricular será comum e obrigatória a todos e outra parte será flexível

Mozart Neves poderá assumir a pasta da educação no governo BolsonaroMozart Neves poderá assumir a pasta da educação no governo Bolsonaro - Foto: Maria Nilo/Folha de Pernambuco

O ensino médio brasileiro está prestes a dar um salto de qualidade e entrar definitivamente no século XXI. A Lei 13.415, sancionada em fevereiro, instituiu uma modernização na arquitetura atual do ensino médio. A Lei propõe uma flexibilização no currículo e reserva parte das aulas a itinerários que serão escolhidos pelo próprio aluno.

É a melhor aposta que o Ministério da Educação (MEC) poderia realizar, de acordo com o diretor de Inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. O ex-reitor da UFPE enumerou os diversos motivos. A mudança, segundo ele, atende uma necessidade premente e já deveria ter acontecido há muitos anos. "Os dados educacionais em relação ao aprendizado de português e matemática são muito baixos. Se você pega os dados dos últimos 20 anos, percebe que o modelo está falido”, argumentou Mozart. O professor explicou que apenas 7% das pessoas egressas do ensino médio aprendem o mínimo esperado em Matemática. Em relação ao ensino de português, o número melhora, mas continua ínfimo. São 29% das pessoas que aprendem, mas não alcançam resultados satisfatórios. Os números valem tanto para as escolas públicas quanto particulares.

Atualmente, o ensino médio brasileiro tem 13 disciplinas obrigatórias. Com a reforma, uma parte da grade curricular será comum e obrigatória a todos e outra parte será flexível, possibilitando ao aluno escolher a área que tem maior interesse para seguir seus estudos. As disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática permanecerão obrigatórias durante os três anos do ensino médio. Todas as outras estarão contempladas no currículo e terão peso diferente de acordo com a escolha dos alunos.

A reforma reorganiza o ensino médio para que o aluno possa estudar de maneira focada na sua área de atenção, de acordo com o seu projeto de vida. “O Ensino Médio é como a jabuticaba, uma fruta que só existe no Brasil. Nenhum outro estudante do mundo estuda de 12 a 13 disciplinas nessa época. Como focar em engenharia estudando 2 ou 3 horas de física na semana? ”, questionou o especialista. “Defendo a flexibilização do currículo desde muito antes da reforma. Porque ela vai fazer com que a quantidade de pessoas que estão abandonando diminua”. O modelo atual, comprovadamente falido, contabiliza ainda 600 mil abandonos anualmente. “Isso significa que, se os que estudam até o fim não aprendem o mínimo, os que abandonam têm ainda menos chances”, comentou Mozart.

O novo modelo do ensino médio vai ficar mais atraente para os jovens. A flexibilização do estudo também abarca a pessoa que quer trabalhar logo assim que sair da escola. O trabalho técnico é essencial para a sociedade, mas a qualificação necessária para que as pessoas preencham as vagas disponíveis é muito escassa. Atualmente, um terço das pessoas que frequentam o ensino médio estudam à noite. São 2,3 milhões de pessoas e quase 70% dessa população já está trabalhando.

A mudança se mostra ainda mais necessária quando se observam as experiências de outros países. Cingapura, por exemplo, um país asiático pouco lembrado quando o tema é educação, conseguiu chegar ao topo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) flexibilizando o currículo e agindo de maneira semelhante ao que o MEC está planejando. A Polônia, por sua vez, é um país mais pobre que o Brasil, mas conseguiu chegar ao mesmo nível dos Estados Unidos.

Mas o Brasil ainda tem um caminho a percorrer. Esse modelo novo depende ainda da Base Nacional Comum Curricular que vai definir as competências e o conteúdo essencial que todos os alunos deverão aprender na educação básica. O Ministério da Educação (MEC) promete entregar uma proposta para a base curricular do ensino médio até o fim deste ano. E, a partir da sua aprovação, todas as escolas no País deverão adequar seus currículos às novas normas e começar a implantação do novo ensino médio. O Brasil, apesar de atrasado, está finalmente chegando ao século XXI.

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