Bairro do Recife

Rua do Bom Jesus: prédio que gerou polêmica tem fachada 'moderna' há quase 70 anos

Alteração nas características originais da construção data da década de 1950, segundo o Iphan

Prédio azul e branco virou centro do debatePrédio azul e branco virou centro do debate - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

A aparência “moderna” de um prédio localizado no número 147 da rua do Bom Jesus, no Bairro do Recife, área central da capital pernambucana, gerou polêmica nos últimos dias por causa do contraste com o restante do conjunto arquitetônico da via, com construções em estilo colonial. No entanto, o edifício tem esse aspecto há, pelo menos, 70 anos.

O edifício de três andares tem a fachada voltada para a rua do Bom Jesus em arquitetura “moderna” desde uma reforma feita na década de 1950, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan). Antes do tombamento do Bairro do Recife, oficializado em 1998, portanto.

Proprietária do prédio, Ivânia Barros Melo explica que o comprou em 2003 já com essa fachada. “Já era daquele jeito, com aquela cara horrível. Não é porque o prédio é nosso que achamos que é maravilhoso. Por mim, teriam feito uma intervenção para que ficasse com a cara da rua do Bom Jesus”, explicou.

“Quiseram dar um ar de modernidade ao prédio, creio. Quando adquirimos não pudemos fazer nada. Queríamos ter feito alguma coisa que se adequasse mais à rua, mas não tem jeito, não se pode discutir. As pessoas não entendem que a coisa não é do proprietário. Somos donos do prédio, mas tem algumas restrições”, acrescentou Ivânia.

Recentemente, o prédio passou por uma nova intervenção que mudou a cor de sua fachada, que tinha aparência desgastada, de amarelo para azul. Já o lado da construção voltado para a rua Domingos José Martins guarda sua feição colonial. 

“Recuperamos a fachada porque estava gasta e aparecendo os ferros em alguns lugares. Tratamos o ferro e a fachada e tinha que ser pintada, mesmo que tivesse aquele amarelo. O Iphan aprovou aquela cor, não fazemos nada que não seja de acordo com o Iphan, preservamos muito a questão cultural”, detalhou a proprietária.

Imagens do Google Street View mostram fachada antiga do prédio - Foto: Reprodução

O Iphan ressalta que os tombamentos não têm efeito retroativo, visto que a mudança na estrutura foi anterior. O tombamento de estruturas resguarda possíveis intervenções, que só podem ser feitas mediante autorização do instituto patrimonial.

"O imóvel já estava descaracterizado quando houve o tombamento do Bairro do Recife, em 1998. Como o direito não tem efeito retroativo, não há o que se fazer quanto a ações de descaracterização prévias ao tombamento", explicou o Iphan, por meio de nota enviada à reportagem. 

Ivânia, que também é diretora da Faculdade Barros Melo Recife, explica que pediu a autorização ao Iphan para a reforma atualmente em curso. Segundo ela, a partir de agosto deste ano, o edifício receberá aulas dos cursos de Design Gráfico e Design de Animação.  

Sobre as alterações recentes, o Iphan esclareceu que recebeu o processo que solicitava mudanças na cor e no revestimento da estrutura. "Essa solicitação foi aprovada. Cabe ressaltar que a configuração moderna da fachada não foi aprovada neste processo, posto que é anterior à proteção federal", concluiu o Iphan.

Rua do Bom Jesus
Considerada uma das 20 ruas mais bonitas do mundo pela revista especializada Architectural Digest, a rua do Bom Jesus, recentemente, tornou-se exclusiva para pedestres.

No passado, a rua já foi porta de entrada para o Recife. A Bom Jesus é endereço da sinagoga mais antiga das Américas, fundada no século XVII, a Sinagoga Kahal Zur Israel. 

A rua também é um dos destinos mais procurados pelos turistas que visitam o Recife e conta com a estátua de Antônio Maria, cronista, locutor, produtor de rádio, caricaturista, compositor e repórter, com ampla atuação nacional e também eternizado por ser o pai de canções como o Frevo Nº 1 do Recife e ainda Valsa de uma Cidade.

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