Sem remédios, doentes se viram para sobreviver
Falta de medicamentos na Farmácia do Estado aumenta o drama de pessoas com doenças crônicas

Assim como ele, outros pacientes que precisam fazer diálise denunciaram à Folha de Pernambuco a falta de duas drogas nos estoques do Estado: as Sevelamer e Hemax. “Não tenho condições financeiras para ficar mantendo o tratamento. Mas, também sinto pânico só em pensar que meus rins podem parar de funcionar”, desabafa Januário.
Por R$ 70, ele compra 260 cápsulas do Sevelamer combinado com carbonato de cálcio, o que só dá para mantê-lo por um mês. O problema também se reflete nos pacientes soropositivos, que têm se queixado da ausência de antirretrovirais nas prateleiras da Farmácia do Estado.
Nessas pessoas, a situação se torna ainda pior, visto que o vírus do HIV fica ainda mais resistente e tende a se multiplicar sem o devido controle. Na lista de antirretroviraris, estão em falta o Raltegravir, Lamivudina e Efavirenz.
"Todo mês é isso. Quem é soropositivo precisa ter segurança médica, pois se a imunidade baixa, a gente fica doente. Uma gripe para a gente é fatal. Eu uso o (coquetel) AZT e o Lamivudina, mas esses já estão entrando na lista vermelha", preocupa-se o paciente José Cândido da Silva, representante da Rede Nacional das Pessoas com Aids.
O prazo acordado entre o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e a Secretaria de Saúde para regularizar o estoque da Farmácia do Estado termina em 20 dias. “A gestão estadual ainda está dentro do prazo do cronograma apresentado por ela à promotoria. A partir de 1º de março, esse cronograma já perde a validade”, salienta a promotora de Justiça Ivana Botelho.
Caso a SES não cumpra com o acordo, o MPPE entrará com ação pedindo o bloqueio de verbas para comprar os medicamentos. Em novembro foi registrado pelo Ministério Público um déficit de 46% do estoque da farmácia.
Em nota, a SES esclarece que “os medicamentos Sevelamer e Hemax são fornecidos pelo Ministério da Saúde. No caso do primeiro, a Farmácia encontra-se com o estoque do medicamento normalizado. Já em relação ao Hemax, o Ministério informou que está finalizando a aquisição do produto par a enviar o insumo aos estados”.
Já em relação aos antirretovirais, o órgão estadual afirma que “nos últimos meses, o Ministério da Saúde tem feito a entrega de forma irregular” e acrescenta que “a Farmácia vem dialogando com o órgão para regularizar a situação”.
Em relação aos medicamentos citados (Raltegravir, Lamivudina e Efavirenz), já foi solicitada a reposição pelo Ministério da Saúde. Sobre o Tenofovi, a SES assegura que não há medicamentos vencidos. “Alguns lotes distribuídos em janeiro e fevereiro venciam no fim dos respectivos meses, podendo ser consumidos normalmente pelo paciente dentro do período da validade. Uma nova remessa deve chegar ao Estado nos próximos dias”, conclui. A reportagem entrou em contato com o MS, mas não obteve retorno.
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