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Guerra

'Só quem quer me matar é a Rússia, mas o Putin todo mundo quer matar', diz Zelensky

Em encontro com a imprensa espanhola em Kiev, presidente ucraniano falou sobre o deslocamento dos mercenários do grupo Wagner para a Bielorrússia e um suposto plano russo para explodir Zaporíjia

Volodymyr ZelenskyVolodymyr Zelensky - Foto: Sergei Supinsky / AFP

A Ucrânia e toda a Europa enfrentam novos desafios no contexto de instabilidade na Rússia. Entre eles, destacam-se o deslocamento dos mercenários do grupo Wagner para a Bielorrússia e o plano que, segundo Kiev, foi implantado por Moscou para dar sinal verde às explosões contra a usina nuclear de Zaporíjia.

Assim o explicou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante um encontro com a imprensa espanhola na véspera da chegada do presidente espanhol, Pedro Sánchez, neste sábado, ao país para inaugurar sua gestão à frente da presidência rotativa da União Europeia (UE).

Zelensky reconhece que, junto com sua comitiva mais próxima, já se "acostumou" a viver sob ameaça, mas deixa claro que o "maior perigo" quem corre são os soldados nas trincheiras e alude pela primeira vez aos riscos enfrentados pelo líder russo, Vladimir Putin, especialmente depois do motim fracassado que ele experimentou no último sábado.

— Só quem quer me matar é a Rússia, mas o Putin todo mundo quer matar — afirma.

O presidente ucraniano falou sobre uma possível Terceira Guerra Mundial se a Rússia vencer a guerra, que já se arrasta por quase 17 meses.

— Se a Ucrânia não resistir e a Rússia avançar em direção à Polônia ou aos países bálticos, isso significaria a Terceira Guerra Mundial — prevê, acrescentando que colocar Kiev sob o guarda-chuva da Otan, a aliança militar do Ocidente, seria a melhor maneira de fazer Putin ver que "não há medo de nenhum agressor".

Zelensky diz que gostaria de receber o convite para ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte na cúpula de Vilnius, a capital lituana, onde a aliança realizará sua próxima reunião nos dias 11 e 12 de julho.

— A Otan é a melhor garantia de segurança [face ao conflito aberto com a invasão russa]. — ele diz. — Não admitimos outra alternativa.

O líder ucraniano calcula que seu exército derrubou cerca de 100 mil paramilitares russos do grupo Wagner (21 mil mortos e 80 mil feridos), baixas "colossais" e um golpe no moral dos invasores. Um dos segredos mais bem guardados pelas autoridades ucranianas é o número de baixas entre suas tropas, que Zelensky se recusa a tornar público.

Explosão de Zaporíjia
As autoridades de Kiev insistem há vários dias que Moscou tem um plano pronto para atacar com explosivos a maior usina nuclear da Europa, localizada na região sul de Zaporíjia e ocupada desde março de 2022 pelos russos. Zelensky tem insistido que "eles planejam explodi-la para gerar uma liberação [radioativa]" e lembra que Kiev já alertou no ano passado sobre o risco de o exército do Kremlin destruir a barragem de Nova Kakhovka, algo que aconteceu em 6 de junho. As primeiras investigações sugerem que a Rússia o dinamitou.

O presidente ucraniano estima que haja cerca de 500 soldados invasores fortemente armados na usina nuclear e que, com um ataque contra instalações tão sensíveis, Moscou busca impedir o avanço do exército local.

— Seu plano é nos apagar da face da Terra — conclui. — Não podemos enviar nossos soldados para a morte certa.

Zelensky descreve como “politicagem” as possíveis dúvidas sobre os avanços que podem existir entre seus parceiros da Otan, a quem culpa por enviar artilharia “atrasado”.

— Nosso povo é nosso tesouro, [por isso] somos muito cautelosos — acrescenta.

O presidente garante que prefere levar quatro ou cinco meses, e poupar baixas, do que tentar ganhar terreno em dois meses com milhares de mortos em uma contraofensiva.

— Alguns membros da Otan riem de mim, mas sei em detalhes o que cada país tem — diz Zelensky, que voltou a pedir aos aliados artilharia, além de sistemas antiaéreos e aeronaves “modernas” para derrotar o domínio russo no céu, porque “têm em quantidade suficiente”.

Ele até reconhece que às vezes criticou seus parceiros e a resposta foi desacelerar o envio de ajuda. Com mais armas, acrescenta, poderiam salvar civis e 95% da infraestrutura crítica que a Rússia ataca, como eletricidade, portos ou ferrovias.

— Sou muito claro, não posso dizer-lhes: “Dêem-me tudo”, mas “sei o que estou pedindo” — ele diz, continuando a agradecer tudo o que a Ucrânia já recebeu.

Tensões regionais pós-levante

A crise desencadeada em território russo entre o chefe do Wagner, Yevgueni Prigojin, e Putin abriu um novo leque de tensões na região com a recepção do líder dos paramilitares na Bielorrússia após a mediação do presidente Alexander Lukashenko, entende Zelensky.

— Eles podem preparar ataques de lá [ou organizar] grupos de sabotagem [que ponham em risco não só a Ucrânia, mas também a Polônia ou a Lituânia, território da Otan] — afirma, antes de mencionar uma “guerra híbrida" embora não acredite que seja um perigo iminente.

No entanto, o presidente afirma que já ordenou aos seus comandantes uma atenção especial a essa fronteira, por ser o ponto mais próximo de chegar a Kiev. Aliás, os russos já se aproveitaram disso na madrugada de 24 de fevereiro do ano passado, quando estourou a grande invasão.

A Rússia é um país dividido entre os "muitos" que apoiam Prigojin, e "aquela grande parte" que continua apoiando Putin, segundo o presidente ucraniano, que acredita que isso trará consequências benéficas para o seu exército no campo de batalha.

— Temos que aproveitar tudo isso para expulsar o inimigo — diz.

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