Energia limpa

Transição econômica muito lenta para enfrentar a mudança climática

As energias renováveis são agora a segunda fonte de eletricidade do mundo, com 26% do total

Placas de captação da luz solarPlacas de captação da luz solar - Foto: Pixabay

Desde a assinatura dos acordos de Paris em 2015, a transição para energias mais limpas progrediu, mas de uma forma muito lenta para limitar o aquecimento a 2 °C e, se possível, a 1,5 °C, em comparação com o final do século XIX. E nada aponta que a crise da Covid-19 tenha acelerado o movimento.

PROGRESSOS

Boom das energias renováveis

As energias renováveis são agora a segunda fonte de eletricidade do mundo, com 26% do total em 2019, atrás do carvão, mas à frente do gás e do setor nuclear.

Os setores eólico e solar viram seus preços caírem e cresceram desde 1990 a taxas médias de 22% e 36%. Mesmo em 2020, ano da Covid-19, somaram 260 gigawatts (GW) de capacidade, metade deles na China, que superou o recorde anual anterior de 30%, segundo a Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA).

Mas isso não é suficiente. A porcentagem dos combustíveis fósseis no consumo final da energia (eletricidade, combustíveis, gás e carvão usados diretamente nas fábricas...) é igualmente alta como dez anos atrás: carvão, petróleo e gás representavam 80,2% em 2019 (80,3% em 2009).

Mudança no setor automobilístico

Pressionados pelas normas e o declínio do diesel, os fabricantes se encontram na etapa pós-motor térmico.

Volvo, Jaguar e Lancia serão em breve 100% elétricos e Stellantis (Peugeot, Fiat...) não desenvolve mais seus motores de combustível.

Mas os veículos elétricos representam menos de 5% das vendas de carros novos (7,5% na Europa). A estrela continua sendo o SUV (veículo utilitário esportivo): 42% do mercado em 2020, um recorde que aumentou a emissão de CO2 em relação ao ano anterior, quando os outros setores viram sua redução, afirmou a Agência Internacional de Energia  (AIE).

Ambições no hidrogênio

China, Japão, UE, Austrália... dezenas de países e várias empresas se lançaram na descarbonização do hidrogênio, ou seja, sua produção sem recorrer a hidrocarbonetos, o que torna a indústria e o transporte pesado verdadeiramente mais verdes.

No entanto, a demanda e a queda dos preços devem ser mais sustentados, afirma a AIE, e os investimentos precisam quadruplicar até 2030.

O preço do carbono

Em meados de 2021, 47 jurisdições (países, províncias ou grupos de países/províncias), que correspondem a 60% do PIB mundial, possuíam um preço para o carbono (taxa ou quota de mercado), segundo o instituto de economia para o clima I4CE.

Esse preço, entretanto, oscila entre 1 e 123 dólares por tonelada de CO2 e é menor que 10 dólares para mais de 75% das emissões cobertas. Os preços deveriam ser de entre 40 e 80 dólares para evitar suficientemente o uso de fósseis.

Ambundância de compromissos

As empresas multiplicam as promessas e, como os Estados, se comprometem à neutralidade do carbono para 2050. Seu impacto, porém, é difícil de avaliar.

PREOCUPAÇÕES

Reativação moderada

Para a rede de especialistas Ren21, "2020 poderia ter mudado a situação", mas os planos de reativação dos Estados concedem às energias fósseis seis vezes mais investimentos que as renováveis.

As emissões de CO2, após uma queda de 7%, devem alcançar um nível recorde até 2023 caso os investimentos não sejam redirecionados.

Emergentes em apuros

O investimento em energias verdes desacelera há alguns anos nos países emergentes e em desenvolvimento (exceto a China) e a Covid-19 não ajudou.

Esses países exibem apenas 20% dos investimentos necessários para sua descarbonização, segundo a AIE: "Abrigam dois terços da população mundial, geram 90% do crescimento das emissões, mas recebem 20% dos financiamentos consagrados às energias limpas".

Carvão, o rei intocável

Com a reativação, a demanda do carvão - o primeiro vetor do aquecimento climático - voltaria ao seu nível de 2019, devido às necessidades de energia elétrica da Ásia.

Hoje, 82% dos projetos de usinas estão concentrados na China (55%), Índia, Vietnã, Indonésia, Turquia e Bangladesh.

No entanto, desde 2015 o número de projetos caiu 76%, segundo o 'think tank' E3G e 44 países prometeram não abrir mais fábricas deste tipo. A China, o primeiro patrocinador público, anunciou em setembro que não vai construir mais usinas de carvão em outros países.

"É hora de o setor privado - que financia 87% do carvão no exterior - se juntar a nós", afirma Kevin Gallagher, da Boston University.

Redução das florestas tropicais

As florestas tropicais primárias perderam em 2020 uma superfície equivalente à Holanda, segundo a Global Forest Watch. Os responsáveis são a agricultura, a indústria madeireira, a atividade de mineração e os incêndios.

Na Amazônia brasileira, o desmatamento em 2020 transformou esse fundamental receptor de carbono em emissor líquido de CO2.

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