Trump quer condicionar envio de ajuda à Ucrânia ao fornecimento de terras raras aos EUA
Presidente americano é crítico dos bilionários pacotes militares e financeiros enviados a Kiev, e parece disposto a cobrar um preço dos ucranianos
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira buscar algum tipo de acordo com a Ucrânia para condicionar o envio de ajuda, especialmente militar, a garantias para o fornecimento de “terras raras e outras coisas”, sugerindo que quer encontrar uma forma para cobrar p elos bilionários pacotes de apoio a Kiev na guerra contra a Rússia.
— Quero ter segurança para obter terras raras. Estamos investindo centenas de bilhões de dólares. Eles têm ótimas terras raras. E eu quero segurança para obter terras raras, e eles estão dispostos a fazer isso — disse Trump a jornalistas na Casa Branca. — Estamos procurando fazer um acordo com a Ucrânia, onde eles vão garantir o que estamos dando a eles com suas terras raras e outras coisas.
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Citadas pelo presidente americano, as terras raras são um grupo de elementos considerados cruciais em indústrias como a aeroespacial e, no que parece interessar Trump, de alta tecnologia — a Ucrânia tem reservas consideráveis, e era uma das principais exportadoras europeias antes da guerra.
Além delas, o país tem, segundo estimativas, 500 mil toneladas não exploradas de lítio, um mineral usado em baterias de carros elétricos, telefones e computadores. Hoje, dos quatro principais depósitos já identificados em solo ucraniano, dois estão em áreas controladas pela Rússia.
Segundo especialistas, o controle de parte das reservas minerais ucranianas pode ter sido uma das motivações para a guerra de Putin.
Trump não deu detalhes sobre como seria o suposto acordo, mas externou nas rápidas declarações sua insatisfação com o envio da ajuda militar a Kiev, iniciado pouco depois da invasão russa, há quase três anos.
De acordo com o Conselho de Relações Internacionais, dos US$ 175 bilhões (R$ 1,01 trilhão) de ajuda autorizados pelo Congresso americano até setembro do ano passado, US$ 106 bilhões (R$ 615 bilhões) beneficiaram diretamente o Estado ucraniano, incluindo na forma de ajuda financeira e, especialmente, militar.
O restante do dinheiro financiou atividades dos próprios EUA, ligadas à guerra, e apoiaram outros países da região.
Ser o responsável por um acordo para encerrar o maior conflito em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial é, ao lado de sua própria ofensiva tarifária e da batalha anti-imigração, uma prioridade para Trump, que na campanha disse que conseguiria um acordo de paz “em 24 horas”.
Depois de empossado, disse que o prazo agora era de "100 dias".
Nesta segunda-feira, ele disse que “está lidando com a Ucrânia e a Rússia”, e que “tem reuniões e negociações planejadas com várias partes”, mas as conversas ainda estariam longe de tratar de temas específicos, como os termos iniciais para um cessar-fogo.
Na véspera, seu enviado especial para a Ucrânia, Keith Kellogg, disse em entrevista à Fox News que “os dois lados precisam ceder um pouco”.
Hoje, a Ucrânia rejeita qualquer tipo de concessão territorial à Rússia, e exige um caminho claro e aberto para sua entrada na Otan, a principal aliança militar do Ocidente, liderada pelos EUA.
Já os russos querem garantias de que os ucranianos não se juntarão à organização, além de manter as áreas ocupadas, que correspondem a cerca de 20% do território ucraniano.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também rejeita dialogar diretamente com seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, chamado por ele de “ilegítimo” — o mandato presidencial de Zelensky terminou oficialmente em maio do ano passado, mas como a lei marcial em vigor veta a realização de novas eleições, ele permanecerá no cargo até a revogação da medida, sem qualquer ilegalidade segundo a lei da Ucrânia.