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EUA

Trump quer condicionar envio de ajuda à Ucrânia ao fornecimento de terras raras aos EUA

Presidente americano é crítico dos bilionários pacotes militares e financeiros enviados a Kiev, e parece disposto a cobrar um preço dos ucranianos

Equipes de resgate trabalham em escombros de prédio atingido por míssil russo em Poltava, na Ucrânia Equipes de resgate trabalham em escombros de prédio atingido por míssil russo em Poltava, na Ucrânia  - Foto: Sergey Bobok / AFP

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira buscar algum tipo de acordo com a Ucrânia para condicionar o envio de ajuda, especialmente militar, a garantias para o fornecimento de “terras raras e outras coisas”, sugerindo que quer encontrar uma forma para cobrar p elos bilionários pacotes de apoio a Kiev na guerra contra a Rússia.

— Quero ter segurança para obter terras raras. Estamos investindo centenas de bilhões de dólares. Eles têm ótimas terras raras. E eu quero segurança para obter terras raras, e eles estão dispostos a fazer isso — disse Trump a jornalistas na Casa Branca. — Estamos procurando fazer um acordo com a Ucrânia, onde eles vão garantir o que estamos dando a eles com suas terras raras e outras coisas.

Citadas pelo presidente americano, as terras raras são um grupo de elementos considerados cruciais em indústrias como a aeroespacial e, no que parece interessar Trump, de alta tecnologia — a Ucrânia tem reservas consideráveis, e era uma das principais exportadoras europeias antes da guerra.

Além delas, o país tem, segundo estimativas, 500 mil toneladas não exploradas de lítio, um mineral usado em baterias de carros elétricos, telefones e computadores. Hoje, dos quatro principais depósitos já identificados em solo ucraniano, dois estão em áreas controladas pela Rússia.

Segundo especialistas, o controle de parte das reservas minerais ucranianas pode ter sido uma das motivações para a guerra de Putin.

Trump não deu detalhes sobre como seria o suposto acordo, mas externou nas rápidas declarações sua insatisfação com o envio da ajuda militar a Kiev, iniciado pouco depois da invasão russa, há quase três anos.

De acordo com o Conselho de Relações Internacionais, dos US$ 175 bilhões (R$ 1,01 trilhão) de ajuda autorizados pelo Congresso americano até setembro do ano passado, US$ 106 bilhões (R$ 615 bilhões) beneficiaram diretamente o Estado ucraniano, incluindo na forma de ajuda financeira e, especialmente, militar.

O restante do dinheiro financiou atividades dos próprios EUA, ligadas à guerra, e apoiaram outros países da região.

Ser o responsável por um acordo para encerrar o maior conflito em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial é, ao lado de sua própria ofensiva tarifária e da batalha anti-imigração, uma prioridade para Trump, que na campanha disse que conseguiria um acordo de paz “em 24 horas”.

Depois de empossado, disse que o prazo agora era de "100 dias".

Nesta segunda-feira, ele disse que “está lidando com a Ucrânia e a Rússia”, e que “tem reuniões e negociações planejadas com várias partes”, mas as conversas ainda estariam longe de tratar de temas específicos, como os termos iniciais para um cessar-fogo.

Na véspera, seu enviado especial para a Ucrânia, Keith Kellogg, disse em entrevista à Fox News que “os dois lados precisam ceder um pouco”.

Hoje, a Ucrânia rejeita qualquer tipo de concessão territorial à Rússia, e exige um caminho claro e aberto para sua entrada na Otan, a principal aliança militar do Ocidente, liderada pelos EUA.

Já os russos querem garantias de que os ucranianos não se juntarão à organização, além de manter as áreas ocupadas, que correspondem a cerca de 20% do território ucraniano.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também rejeita dialogar diretamente com seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, chamado por ele de “ilegítimo” — o mandato presidencial de Zelensky terminou oficialmente em maio do ano passado, mas como a lei marcial em vigor veta a realização de novas eleições, ele permanecerá no cargo até a revogação da medida, sem qualquer ilegalidade segundo a lei da Ucrânia.

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