Tuto Quiroga, o rival de Morales que promete liberalizar a Bolívia
Ex-engenheiro da multinacional IBM, formado nos Estados Unidos, Quiroga se define como um defensor fervoroso da democracia
Jorge Quiroga foi presidente da Bolívia por 12 meses por acaso, mas agora este neoliberal e montanhista amador está perto de vencer sua primeira eleição presidencial e, de quebra, se vingar de Evo Morales, seu adversário político.
Ex-engenheiro da multinacional IBM, formado nos Estados Unidos, Quiroga se define como um defensor fervoroso da democracia.
Ele tinha 41 anos quando, em 2001, assumiu a chefia de Estado como vice-presidente de Hugo Banzer, um militar reformado eleito democraticamente que teve que renunciar devido a um câncer terminal.
Foram necessários 24 anos e duas candidaturas fracassadas (2005 e 2014) para que Quiroga estivesse tão perto de voltar à Presidência.
As pesquisas o apontam como favorito para o segundo turno de domingo (19) frente ao candidato de centro-direita Rodrigo Paz. Curiosamente, foi ministro do ex-presidente Jaime Paz Zamora, pai de seu adversário.
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Se vencer no domingo, Jorge "Tuto" Quiroga, apelido que incorporou legalmente à sua identidade, assumirá a Presidência aos 65 anos.
Seus adversários do Movimento ao Socialismo (MAS), até recentemente liderado por Morales, o veem como um tecnocrata "pró-gringo" e "racista".
O candidato se define como um liberal que acabará com 20 anos de socialismo, e não apenas na Bolívia. "Estou envolvido na luta pela democracia em meu país, na Venezuela, em Cuba", destaca.
Rival político
Quiroga exalta sua disciplina esportiva. É um "vício mental", afirma. Ele corre quase todos os dias e escalou três dos picos nevados mais altos da Bolívia, segundo imagens que compartilha nas redes sociais, nas quais é muito ativo.
Orador articulado, o candidato vinculou sua trajetória à de seu maior adversário. Ele tem sido o mais fervoroso opositor de Evo Morales, desde que o líder indígena era deputado até se tornar presidente (2006-2019).
Quiroga frequentemente critica o ex-mandatário em suas redes sociais, classificando-o como "depravado, fraudulento e covarde". Afirma, ainda, que prenderá Morales, em cumprimento a uma ordem de prisão por um suposto caso de tráfico de pessoas.
Também repreende o governo de Luis Arce.
Além disso, exibe como "medalhas de condecoração" a proibição de entrar em Cuba (em 2018) e na Venezuela (em 2024), países cujos dirigentes são aliados de Morales.
Segundo Ramiro Cavero, chefe da equipe econômica, o candidato "é uma pessoa que trabalha muito, vendo os resultados que devem ser alcançados", mas que sabe delegar.
No entanto, entre um setor indígena, Quiroga é sinônimo de vingança e racismo, o que desperta temores de uma divisão na Bolívia se for eleito.
"A extrema-direita para mim é o Tuto, porque mais do que tudo discrimina os collas", como são chamados os aimarás, diz o engraxate Daniel López, de 43 anos, em uma rua de La Paz.

