Opinião

Vaidades, rejeições e partidarismos explicam o sofisma de composição

Algumas reflexões vêm à tona quando foco no embate eleitoral. Destaco um processo antecipado e guiado por uma polarização não muito desejada por parte do eleitorado. Sem planos anunciados e pautado por contradições de apelos populistas, o quadro se sustenta. Prática que só consagra uma "entropia distópica", na qual a perda de energia retira o que resta de utopia realista. Afinal, o que explica a inércia dos eleitores que rejeitam esse maniqueísmo entre o bem e o mal?

A teoria econômica costuma aplicar um conceito para elucidar essas situações: o sofisma de composição. Trata-se de um modo errado de raciocínio, que atribui ao conjunto teses válidas apenas para uma parte do todo. É dizer que um princípio útil para o indivíduo, nem sempre costuma ser válido para a sociedade. O esforço individual de poupar pode ser uma virtude, mas quando ratificado por muitos agentes econômicos poderá significar um menor nível de atividade.

Atualmente, a política exprime situações semelhantes onde o sofisma de composição se faz presente. Primeiro, num exercício em que o sofisma parece explicar a inércia desse mal conceito chamado de "terceira via". Depois, pela tentativa de entender que há alguma luz, capaz de atender algumas premissas de uma candidatura mais preparada para a realidade.

Ao validar essa tese, preciso evidenciar certos comportamentos facilitadores, que levam à insistência por uma polarização que só  empobrece o debate. Em primeiro, uma postura individualista, que pouco ou nada contribui para a democracia e o interesse público. O sinal disso é a excelência das vaidades, quando certas candidaturas parecem se colocar mais à vontade num "quintal de pavões", do que mesmo num  mero "terreiro de aves comuns". Por outro lado, mesmo que o exemplo se verifique entre os líderes, também é fato que as altas rejeições são desafios maiores para quem já poderia tar deslanchado e não conseguiu, o que cria uma inércia, capaz de fortalecer a tese de que a polarização pareça definitiva. Por fim, a falta de uma percepção de que o sistema partidário nacional precisa ser apoiado, mesmo que por corrigir erros estruturais. Essa conversa fiada de forjar "outsiders" como políticos, tem-se revelado um fiasco. Não bastasse o velho e condenável "raposismo", de políticos viciados e sem escrúpulos, ainda há esse outro extremo de pura ignorância política. Afinal, são tolices as ressalvas sobre a relevância da institucionalidade democrática dos partidos políticos, uma vez que estes jamais foram revistos como solução dentro das regras democráticas. 

Sobre o tal sofisma em si, é fácil entendê-lo na atual disputa. Se parte do eleitorado não almeja a polarização, por que o receio de rejeitá-la agora? Por que se contentar com a fotografia das pesquisas? Será que a dúvida desse eleitorado vai considerar algum critério de escape, para não anular uma escolha  no instante do voto? Em síntese, ainda vale apostar que s rejeição à polarização parece ser também eleitoralmente competitiva. É preciso agir com coerência e evidência como reação aos pólos, para que se valide a disputa em algum nome convergente. Faria jus ao terço do eleitorado que almeja fugir dos riscos de populismos repetitivos e nada efetivos.

O ideal seria que esse nome, compusesse uma pauta inovadora, mas realista. Que se mostrasse como um contumaz ouvidor dos anseios de uma sociedade em mutação, que se libere de erros e omissões estruturais. Longe do massacre promovido pelos próprios discursos da polarização, mantidos por protagonismos   políticos já manjados e soluções econômicas fracassadas.

Se o momento ainda é capaz de apontar para reflexões, basta superar as velhas cenas e ir fundo na direção das alternativas. Nessa circunstância de olhar para o equilíbrio e de se buscar uma espécie de ouvidoria geral, a etimologia reserva uma boa coincidência. É que  Simone quer dizer "aquela que ouve", ou melhor, "aquela que é capaz de escutar" para tomar decisões. Claro que isso é um simples recurso de retórica. No entanto, parece-me reforçar a percepção de que, pelos exemplos de preparo e pelas experiências públicas no executivo e legislativo, existe nome novo e preparado na fila. Alguém capaz de transformar o "beco escuro" da saída da polarização, numa "estrada de sol", onde o brilho esteja ao alcance dos eleitores, sobretudo, os órfãos dessa configuação polarizada.

E por que Simone agregaria como opção de equilíbrio no jogo contra dois pesos pesados? Considere-se: i) um nome que representa bem a expressão feminina nessa disputa; ii) digna representante da institucionalidade política, pois dentro do sistema sempre participou com senso ético, disciplina partidária e competência técnica; iii) preparo intelectual que lhe garante uma visão de Brasil bem mais atial; iv) comprometida com as pautas dos problemas estruturais, através do olhar para um futuro apoiado por outro padrão de desenvolvimento.

Se a parte da sociedade que nega a polarização "cobrar" dela um compromisso de encarar o desafio por meio de propostas com o grau de consistência desejaso, o sofisma de composição não terá ganhos de escala. E Simone poderá ser uma grata surpresa. 

  
*Economista e colunista da Folha de Pernambuco

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