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Verdadeiros heróis mantêm o remo vivo no Recife

Esporte de grande relevância no passado, o remo está escanteado pelos grandes clubes e luta para sobreviver

Clubes atuantes no remo têm grande dificuldade em atrair público jovem para a modalidadeClubes atuantes no remo têm grande dificuldade em atrair público jovem para a modalidade - Foto: Brenda Alcântara/Folha de Pernambuco

Acordar com o céu ainda escuro para estar na água muitas vezes antes de o sol nascer é parte da rotina de um remador. O ritmo de treinos é puxado, fora a preparação física e todos os cuidados inerentes à vida de atleta. Todo esforço, porém, desgasta menos do que as dificuldades enfrentadas pela modalidade. O remo é um dos esportes mais antigos de que se tem registro, se funde com a história da civilização, de quando não havia velas ou motores para impulsionar as embarcações, movidas à base da força humana com o auxílio justamente de um remo. Assim como toda atividade passível de competição, o que fora transporte por décadas se tornou esporte. No Brasil, o remo chegou antes do futebol. Era o lazer da juventude carioca em 1893, com Vasco e Flamengo ditando as tendências. E, sendo sensação lá, logo se popularizou no País.

No Recife, o remo era dono absoluto das manhãs dos domingos, levava mais de 500 pessoas à beira do rio Capibaribe. Entre 1910 e 1930, o futebol tentava se firmar, mas tinha de se contentar com o horário vespertino, uma tradição que ficou até os dias de hoje. Na década de 50, era o remo que estampava os jornais. Naquela época, afora a disputa em si, havia todo um charme por trás do esporte. Era a chance de os homens se exibirem em trajes esportivos. Ao mesmo tempo, era evento esportivo e social, burburinho na Cidade.

Três homens são considerados os responsáveis por sustentar a magia do remo local por anos: Josemir Corrêa e Aloysio Monteiro, atletas protagonistas da rivalidade entre Náutico e Sport, e o jornalista Edvaldo Leandro, que não deixava de noticiar nada da modalidade. Ao longo das décadas, contudo, o brilhantismo do esporte foi sendo ofuscado por uma série de fatores. A poluição nas águas teve sua parcela, bem como as próprias mudanças culturais. “Hoje tem a necessidade de mais estudo, mais horas de trabalho, o tempo do esporte diminuiu. Antes quem queria ficar forte ia para o remo, hoje são inúmeras as academias. Com a internet, os jovens dormem de madrugada, quando o treino está começando”, aponta o experiente treinador Marcos Melo, hoje no Cabanga.

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Outro grande problema é o descaso dos clubes com as modalidades “amadoras”. As equipes de remo estão escanteadas. O Sport não compra um equipamento há quase duas décadas. Os itens que chegaram recentemente, usados, foram através de cotinha entre amantes da modalidade. Na garagem do Leão, há apenas nove barcos em condições de ir à água. No Náutico, 14. “Aumentar a escolinha é uma meta, mas como fazer isso se não tem barco?”, questiona o técnico rubro-negro, Bruno França.

No Alvirrubro, dos cinco funcionários que trabalhavam na garagem, na rua da Aurora, só restam três. O treinador não recebe salários do ano vigente há cinco meses - fora os vencimentos, férias e décimos de outros anos. O departamento abriga um estaleiro que já produziu barcos para toda a região, mas funciona agora apenas para reparar as velhas embarcações. Os equipamentos de musculação são “restos” de outros setores do clube e alguns feitos à mão por quem reluta deixar em a modalidade morrer. Há cerca de cinco anos, a equipe ensaiou um renascimento. O Conselho Deliberativo destinava R$ 3 mil mensais e o Executivo R$ 6 mil. Hoje, a receita são R$ 2 mil oriundos do Conselho, usados para pagamentos de contas fixas, como água, luz e outras taxas, compra de materiais para reparo nos barcos e abastecimento da cozinha. No Sport, segundo os profissionais, a receita mensal oriunda da direção é R$ 500.

“Os principais clubes do País têm ligação com o Remo em sua história. Hoje, pensam que só o futebol os levará adiante. Mas se fosse tão bom assim não viveriam endividados. Não nego que o futebol dá audiência, mas não se deve renegar os outros esportes. São os olímpicos que dão vida ao dia a dia de um clube”, critica o ex-remador e ex-vice-presidente de esportes olímpicos do Sport, Aloysio Monteiro. “O remo perdeu muito nos últimos 20 anos. Tem a poluição do rio, a dificuldade para atrair os jovens, o sucateamento dos clubes. Falta gestão profissional”, destaca o vice-presidente da Federação Pernambucana de Remo, Guilherme Rodrigues. Os dirigentes de Náutico e Sport foram procurados pela reportagem. Exaltado quando abordado sobre o remo, Edno Melo, presidente alvirrubro, disse que “o clube paga a folha salarial, embarcações e taxas de competição”. “Não estou eximindo o clube, mas acho que falta incentivo e investimento público”, completou. Já Arnaldo Barros, do Sport, não atendeu às ligações.

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