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Vôlei e basquete brasileiros vivem angústia com futuro

Os principais times de vôlei e basquete do país entenderam que continuar vivendo na incerteza não seria viável

Itambé/Minas (MG) na Superliga feminina 2019/2020Itambé/Minas (MG) na Superliga feminina 2019/2020 - Foto: Orlando Bento/MTC

Enquanto os clubes de futebol brasileiros ainda discutem maneiras de retomar os campeonatos paralisados pela pandemia de Covid-19, os principais times de vôlei e basquete do país entenderam que continuar vivendo na incerteza não seria viável.
Por isso, decidiram encerrar suas competições da temporada 2019/2020 quando elas se aproximavam dos playoffs, sem coroar vencedores, e centrar esforços na busca por continuar existindo.

Os torneios masculino e feminino da Superliga de vôlei já haviam sido finalizados por votação das equipes, e o mesmo ocorreu como o NBB (Novo Basquete Brasil) nesta semana. A LBF (Liga de Basquete Feminino), que diferentemente dos demais havia acabado de dar a largada para o campeonato de 2020, ainda não tomou uma decisão.

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O período que marca o fim de uma temporada e o início de outra costuma ser atribulado nesses esportes. Sem contratos longos, a maioria dos times está acostumada a ter que correr ano após ano atrás de renovações com patrocinadores que garantem sua existência e reformular boa parte do elenco. Agora, o cenário se mostra bem mais ameaçador.

A crise econômica e a perda de apoios já era uma realidade presente principalmente para as equipes que disputavam a Superliga masculina. O Sesc-RJ, um dos quatro times do primeiro pelotão do torneio nacional, anunciou em fevereiro o fim da equipe. Já durante a pandemia, o Sesi-SP, que também figurava nesse grupo de elite, dispensou todo o seu time adulto.

Cruzeiro e Taubaté, vencedores das últimas seis edições do torneio, conseguiram se reforçar e serão candidatos a estender seu domínio pelos próximos anos. Isso não significa, porém, que vivam situações financeiras confortáveis. Os mineiros já anunciaram cortes nos salários dos jogadores, enquanto os paulistas, comandados pelo técnico da seleção brasileira Renan Dal Zotto e que acabam de contratar o levantador Bruninho, chegaram a atrasar pagamentos no início deste ano.

Apesar do retorno de Bruninho, que estava na Itália, vários jogadores ouvidos pela Folha acreditam que a tendência nos próximos meses será de muitos atletas percorrendo o caminho oposto. "Os campeonatos lá fora estão muito fortes, diferentemente da Superliga de vôlei, que há anos está decaindo porque perdeu patrocinadores e onde muitos times não têm condições de ter atletas da seleção. É complicado bater de frente com Polônia, Rússia e Itália", afirma Douglas Souza, 24, do Taubaté.

Marlon, 42, que estava no Sesc-RJ, não vê como o vôlei brasileiro possa absorver tantos jogadores que até meses atrás contavam com um bom padrão salarial. "Gera ansiedade. Gostaria de estar mais otimista, mas não estou, porque as notícias não surgem, as movimentações de mercado não acontecem", diz.

Antes da pandemia, as equipes femininas em geral tinham condições mais estáveis. Agora, mesmo atletas de ponta passam a se preocupar. "Vamos ficar meses sem entrar em quadra e não temos ideia do futuro. Se vai voltar à normalidade. Não é o meu projeto, mas se tiver uma proposta aceitaria sim jogar no exterior", afirma Carol Gattaz, 38, que ainda não teve seu contrato renovado pelo Minas. Segundo Renato D'Ávila, superintendente da Confederação Brasileira de Voleibol, a partir de junho será possível saber quais equipes deverão continuar na Superliga. Nenhum time, inclusive Sesc-RJ e Sesi-SP, formalizaram suas desistências até agora.

Se no vôlei o mercado europeu surge como opção para alguns, no basquete esse caminho é mais complicado. Muitas ligas adotam limite no número de jogadores estrangeiros e é comum que esse espaço seja ocupado por americanos talentosos que não conseguiram chegar à NBA. O ala Betinho, 31, defendia o Pinheiros e até março fazia a melhor temporada da carreira. Antes mesmo de o NBB ser encerrado, porém, o clube comunicou a dispensa do elenco profissional, numa ação motivada não só pela paralisação, mas também pela ampla política de cortes que a entidade tem feito no alto rendimento.

Um dos cotados ao prêmio de melhor jogador do torneio, Betinho talvez não tenha dificuldades para se encaixar em uma nova equipe na próxima temporada, mas sabe que cada equipe vive uma realidade financeira bem diferente. "Existe um receio de não saber se os projetos continuarão. Isso causa aflição entre nós, jogadores. Tenho amigos desde o Flamengo, que tem mais estrelas, até o Pato Branco, último colocado, e todo mundo sente de alguma forma", diz o jogador.

Com muitas interrogações pela frente, a Liga Nacional de Basquete, responsável pelo NBB, já se prepara para organizar uma temporada mais barata no fim do ano.
"Todo o mundo terá que se readequar. E talvez isso represente darmos um passo atrás em alguns pontos em que evoluímos bastante", diz o presidente da liga, Nilo Guimarães.

Betinho acredita que será o momento de as equipes abrirem espaço para os jovens da base, o que futuramente poderá se mostrar positivo para o basquete brasileiro.
A opinião é similar à de Murilo Endres, 39, que vê a mesma possibilidade para o vôlei caso a saída em massa de jogadores de renome se confirme. "Isso aconteceu alguns anos atrás, de 2003 a 2009, quando quase toda a seleção estava na Europa. A Superliga se manteve num nível bom, muitos talentos foram revelados", diz.

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