Voos dos EUA com imigrantes para a base de Guantánamo ''estão a caminho'', afirma Casa Branca
Presidente Trump sinalizou que local, conhecido por abrigar acusados de terrorismo desde 2001, estaria sendo preparado para receber até 30 mil pessoas
Menos de uma semana depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar que enviaria imigrantes detidos para a base militar de Guantánamo, a Casa Branca confirmou que os primeiros voos militares para a instalação “já estão a caminho”, e devem pousar ainda nesta terça-feira.
O anúncio ocorre em meio a dúvidas sobre a legalidade da transferência dos imigrantes para a base, que se notabilizou por abrigar acusados de terrorismo após a Guerra ao Terror lançada no início do século.
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No final da manhã, fontes militares revelaram a veículos de imprensa que ao menos um voo militar estava a caminho da base, que fica em Cuba. Horas depois, em entrevista à rede Fox Business, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt confirmou que “os primeiros voos dos EUA para a Baía de Guantánamo com imigrantes ilegais estão em andamento”. Ela não deu detalhes sobre o número de pessoas a bordo.
Na semana passada, em meio à ofensiva anti- imigração lançada desde sua chegada ao cargo, Trump acenou com a possibilidade de usar a base de Guantánamo para receber até 30 mil pessoas detidas em solo americano. Na ocasião, ele disse que as instalações seria usadas para "prender os piores criminosos ilegais que ameaçam o povo americano”.
— Alguns deles são tão ruins que nem confiamos nos países para mantê-los presos porque não queremos que eles voltem, então vamos mandá-los para Guantánamo. Isso dobrará nossa capacidade imediatamente, certo? — disse o presidente, durante declarações a jornalistas na Casa Branca.
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A base militar já tem instalações destinadas a imigrantes, conhecida como Centro de Operações para Migrantes de Guantánamo (GMOC), e que há décadas recebe pessoas vindas do Haiti e de Cuba, mas em um número bem menor do que o pretendido pelo presidente: a capacidade atual seria de cerca de 200 pessoas, e a rede CNN afirmou que tendas devem ser usadas ao menos na etapa inicial.
Ao ser questionada quanto custaria a reforma para abrigar os novos detentos, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, não quis dar valores, e afirmou apenas que trabalharia junto ao Congresso para garantir a operação.
A base de Guantánamo, operada pela Marinha, se notabilizou logo após os ataques de 11 de Setembro de 2001 contra Nova York e Washington, ao servir como centro de detenção para milhares de pessoas acusadas de terrorismo, capturadas em operações realizadas em diversos países e durante as guerras travadas no Iraque e Afeganistão.
Segundo organizações de defesa dos direitos humanos, Guantánamo era um “buraco negro” nas leis internacionais, onde detentos eram mantidos por anos sem qualquer acusação formal, sem acesso a advogados e submetidos a torturas brutais. Criada no governo de George W. Bush (2001-2009), o fechamento da prisão militar foi uma promessa descumprida de campanha pelos presidentes democratas Barack Obama (2009-2017) e Joe Biden (2021-2025).
Segundo as autoridades do governo Trump, os imigrantes serão mantidos em instalações separadas da prisão militar, controladas pela agência responsável pelo controle migratório, a ICE.
Pouco antes da chegada dos voos, muitas questões jurídicas já se acumulavam. A começar pelo tempo de permanência dos imigrantes nas instalações. Afinal, as memórias dos prisioneiros (por vezes inocentes) mantidos em condições brutais na prisão militar ainda povoam a memória coletiva. Até agora, Noem diz que o plano não é mantê-los ali de forma indefinida.
— O plano é ter um processo que seguimos que esteja estabelecido em lei e, garantir que estamos lidando com esses indivíduos apropriadamente de acordo com o que o Estado e o que a lei nacional determinam — afirmou em entrevista à NBC no fim de semana. — Então, trabalharemos com o Congresso para garantir que estamos abordando nossas leis de imigração legal e usando a Baía de Guantánamo apropriadamente.
Um dos pontos questionados, inclusive por ex-integrantes do governo, é se transportar pessoas detidas nos EUA, com base na Lei de Imigração, para outros países seria uma violação das próprias regras imigratórias locais, que se aplicam apenas ao território americano. Até agora, as pessoas ali mantidas chegaram à base por conta própria, na maior parte das vezes em balsas improvisadas.
No ano passado, um relatório da ONG Projeto Internacional de Assistência de Refugiados afirmou que as instalações ofereciam condições “desumanas”. Em resposta, a Casa Branca, então sob comando de Joe Biden, afirmou que as instalações “não são uma unidade de detenção, e que nenhum dos imigrantes ali estava detido”.