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GUERRA NA UCRÂNIA

Zelensky diz ter alertado Ocidente que contraofensiva seria lenta devido à espera por armas

Presidente ucraniano voltou a repetir pedidos permanentes por mais armas ocidentais, fundamentais para as tentativas ucranianas de repelir os invasores russos

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, dá entrevista coletiva em Kiev ao lado do premier da Espanha, Pedro Sánchez Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, dá entrevista coletiva em Kiev ao lado do premier da Espanha, Pedro Sánchez  - Foto: Sergei Chuzavkov/AFP

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse ter alertado os Estados Unidos e a Europa que a contraofensiva para retomar territórios invadidos pela Rússia seria lenta. Em seus apelos perenes por mais armas ocidentais — fundamentais para a resistência após o arsenal de Kiev praticamente se esgotar nos dias iniciais da guerra —, o mandatário afirmou que a demora no avanço seria proporcional ao tempo que levará para os armamentos e munições já prometidos serem entregues.

Os comentários foram feitos por Zelensky em uma entrevista para a emissora americana CNN, transmitida na quarta-feira. De acordo com ele, o desejo era que a operação cujo pontapé inicial veio em 4 de junho tivesse começado antes, mas precisou aguardar a chegada de mais armas de alta tecnologia para tentar recuperar territórios sob controle do Kremlin.

— Eu estou grato aos Estados Unidos por serem líderes do apoio [à Ucrânia], mas disse a ele, assim como aos líderes europeus, que queríamos ter começado antes a contraofensiva, e que precisaríamos de todas as armas e materiais para isso — disse ele. — Por quê? Simplesmente porque se começássemos depois, iríamos mais devagar.

O presidente ucraniano parecia rebater as críticas comuns de aliados e blogueiros pró-Rússia que questionam o sucesso da contraofensiva, apontando para o fato de não ter havido grandes triunfos até o momento. O progresso tem sido devagar: na quarta, o vice-chefe do Departamento Operacional Principal do Estado-Maior ucraniano, Oleksii Hmorov, disse que o território total recuperado desde o início de junho chega a 160 k㎡.
 

Os últimos foram "particularmente frutíferos" para os ucranianos, escreveu o chefe do Conselho Nacional de Segurança e Defesa do país, Oleksiy Danilov, após Kiev admitir que há "intensos combates". O Kremlin construiu uma linha de defesa de 800 km, e a proteção dos territórios tomados parece não ter sido significativamente abalada pelo motim organizado pelo grupo Wagner contra o Kremlin no fim de junho.

No caminho dos ucranianos há campos minados, trincheiras e outras armadilhas para barrar o avanço. Em alguns pontos, há linhas de defesas russas de até 20 km de profundidade. De acordo com o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, as forças do Kremlin destruíram 2,5 mil equipamentos inimigos no último mês. As estatísticas de nenhum dos lados, contudo, pôde ser independentemente confirmada.

Na semana passada, Mark Milley, chefe do Estado-Maior e maior autoridade militar americana, disse que os soldados ucranianos avançam de forma "consistente e deliberada". Ele afirmou não estar surpreso com o fato de a retomada estar levando mais tempo do que o previsto por muitos, completando que não deve haver ilusões:

— [A contraofensiva] será muito longa, e será muito, muito sangrenta, e ninguém deve ter ilusões sobre nada disso — afirmou. — Os soldados ucranianos estão avançando por campos minados e trincheiras, e é literalmente uma guerra pela sua sobrevivência. Então, sim, claro, é um pouco devagar, mas isso é parte da natureza da guerra.

Os ucranianos ainda têm reservistas que podem ser deslocados para a linha de frente, incluindo soldados treinados na Europa no último ano, além de armas da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan). De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Kiel para a Economia Mundial, sediado na Alemanha, a ajuda total dada à Ucrânia chega a US$ 179,55 bilhões (R$ 876,8 bilhões) — quase o Produto Interno Bruto (PIB) inteiro do país em 2021, o último ano antes da guerra, que foi de US$ 200 bilhões (R$ 977,03 bilhões).

Em sua entrevista à CNN, Zelensky repetiu seu apelo perene por mais armas, inclusive caças que dizem serem fundamentais para fazer frente à vantagem numérica dos russos. Desde o início da guerra, países ocidentais hesitam em enviar armas de alta tecnologia e alcance para Kiev, temendo acirrar mais o conflito e caracterizar cobeligerância.

As linhas vermelhas foram alargadas com a passagem dos meses, com o envio de tanques e sistemas modernos de defesa antiaérea, por exemplo. Vários países — com a notória exceção britânica — ainda se recusam a enviar artefatos como mísseis de longo alcance, outro dos pedidos corriqueiros de Zelensky.

— Não podemos sequer começar a pensar em algumas direções — disse ele, referindo-se aos rumos da contraofensiva. — Não temos as armas relevantes. E expor nossos homens para serem mortos pelas armas de longo alcance da Rússia seria simplesmente desumano.

Horas após a entrevista do presidente ucraniano ir ao ar, a Rússia realizou seu primeiro ataque aéreo contra a cidade de Lviv desde o início da guerra, levando Zelensky a tuitar que "definitivamente haverá uma resposta ao inimigo. Uma resposta firme".

O ataque deixou quatro mortos e ao menos 32 feridos, além de destruir dois andares de um edifício residencial, afirmou no Telegram o Ministério do Interior. A apenas 60 km da fronteira com a Polônia, a cidade é um alvo menos frequente para Moscou que outras cidades mais perto da linha de frente, no sul e no leste do país.

Lviv, entretanto, é parte importante da rota de abastecimento para os flancos do oeste, permitindo que as armas ocidentais cheguem aos soldados. Os ucranianos afirmam terem derrubado sete dos 10 mísseis de cruzeiro russos do tipo Kalibr disparados contra a cidade de navios no Mar Negro.

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