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Política

A apatia que brotou das urnas

Abstenções, votos brancos e nulos cresceram em 2016. Reflexo claro da insatisfação do eleitorado nacional

Deputado estadual Waldemar Borges (PSB)Deputado estadual Waldemar Borges (PSB) - Foto: Roberto Soares/Alepe

 

No dia 2 de outubro, o 1º turno das eleições foi realizada. Ciente da data, mas sem enxergar significado nela, a consultora de Recursos Humanos, Juliana Ferreira, 31 anos, aproveitou o domingo para visitar e divertir-se na praia de Porto de Galinhas, no litoral Sul de Pernambuco. Lá, apenas justificou a ausência, por receio de “futuramente vir a ter problemas, caso quisesse fazer concurso público”. “Não vi nenhum candidato que valesse a pena votar”, explicou ela, antes de emendar: “ com o impeachment, percebi que o voto não valeu de nada”.

Descrente, Juliana foi uma das 25 milhões de pessoas que não compareceram às urnas no 1º turno das eleições. Os votos brancos ou nulos somaram 16,3 milhões. No 2º turno, em 30 de outubro, a consultora de RH optou por votar em branco, assim como 936 mil brasileiros, dos 32,9 milhões de eleitores aptos a votar em 57 municípios, onde ocorreu a segunda consulta. Deste total, 7,1 milhões não compareceram às urnas e outros 2,7 milhões de brasileiros anularam os votos. Em alguns municípios, os votos não válidos superaram os vencedores, como nos dois maiores colégios eleitorais do País, São Paulo e Rio de Janeiro.

Abstenção
A média de abstenção nas eleições municipais brasileiras é de 15,54%, considerando os primeiros e segundos turnos das votações de 2000, 2004, 2008 e 2012. Entretanto, a média dos votos brancos e nulos nos pleitos municipais vem sendo de 7%, considerando os primeiros e segundos turnos das quatro últimas eleições municipais.

No balanço após o 1º turno, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, considerou o índice de ausência “relativamente baixo”. Na ocasião, avaliou que os votos foram mais de desinformação do eleitorado do que uma forma de “protesto”. Já no 2º turno, demonsrou preocupação: “Alguma coisa ocorre no que diz respeito a esse estranhamento ou esse distanciamento entre o eleitor e os políticos que, eventualmente, o representam. Alguma coisa se traduz nessa ausência ou também na opção pelo voto nulo”, declarou Mendes.

Voto nulo
Desestimulada, a estudante de Design, Emanuele Alves, 22, também votou nulo nos dois turnos do Recife. Não como protesto, mas como um exercício de consciência. “Não consigo confiar em quase nada (do que eles dizem). Vejo corrupção por todos os lados e partidos. Sei que há alguns (políticos) que não são (corruptos), mas quando não acho que seja corrupto, não concordo com as propostas”, ponderou a estudante. “Achei que seria mais sincera comigo não votar em alguém só por votar ou votar no menos ruim”, completou.

No Recife, 126,5 mil eleitores se abstiveram no 1º turno, enquanto mais de 119 mil optaram pelos votos brancos e nulos. No 2º turno, 147 mil não compareceram às urnas e os votos não válidos somaram 110 mil.

O cientista político Tulio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco avaliou que o eleitorado recifense tendencialmente se envolve mais no pleito do que o de outros centros. “Historicamente, no Recife, há uma abstenção menor e, consequentemente, tem uma participação mais efetiva”, afirmou ele. Paradoxalmente, em relação aos votos brancos ou nulos, não se pode dizer que não há participação.

Os índices em Jaboatão dos Guararapes, segundo maior colégio eleitoral do Estado, também chamaram a atenção. No primeiro turno, 75,5 mil eleitores se abstiveram, enquanto 77,5 mil pessoas optaram por votos brancos e nulos. Na segunda consulta, 90,5 mil não compareceram às urnas, 60,9 mil eleitores não votar em nenhum candidato. 

 

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