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Política

A vitória que escapou pelas mãos em Junqueiro

Candidato chegou a ser anunciado vencedor, com 19 votos de diferença. Mas a alegria foi por pouco tempo

Armando Monteiro, senadorArmando Monteiro, senador - Foto: Folha de Pernambuco

JUNQUEIRO (AL) - Localizado a 118 km de Maceió, no centro-sul de Alagoas, Junqueiro é uma oligarquia da família Pereira, que nas eleições deste ano se uniu à rival Tavares, e que quase veio abaixo no último dia 2 de outubro por muito pouco. Motivados por um falso alarme, de que o candidato da oposição, Leandro Silva (PPS), havia vencido a inusitada união entre os Pereira e Tavares - que se odiavam - os eleitores que apostaram na mudança chegaram a comemorar a vitória por uma diferença de 19 votos.

Mas o sabor de impor uma derrota histórica à velha oligarquia durou apenas 40 minutos, tempo que a Justiça Eleitoral confirmou que o eleito era Carlos Augusto Almeida (PMDB), legítimo representante do clã Pereira, por apenas três votos de diferença. Ninguém entendeu, até porque os advogados que estavam na central de apuração, fiscalizando pela oposição, informaram a Leandro que já estavam de posse do documento em que o juiz eleitoral autorizava o uso das ruas para comemoração.

A explicação para dois resultados até hoje não foi digerida nem compreendida por metade do eleitorado. Oficialmente, a bronca está associada ao procedimento da urna eletrônica. Para uma urna eletrônica estar apta a receber os votos dos eleitores é preciso imprimir a zerésima, documento que comprova que ela não possui nenhum voto registrado para nenhum dos candidatos. Com a zerésima emitida, a urna pode ser utilizada normalmente.

“O que nos informaram é que a última urna apurada havia ficado sem a zerésima”, diz o jovem comerciante Leandro Silva, de apenas 28 anos, que rompeu com o prefeito Fernando Pereira (DEM), de quem foi secretário de Segurança Pública, para se transformar, ao longo de uma campanha que começou desacreditada, num tremendo azarão. Simpático, comunicativo e bem-sucedido nos negócios, Leandro só não conseguiu, porém, o que parecia mais fácil: unir a sua família.

Dois tios - Valmir e Marcos, e um primo, Kiko - foram eleitos vereadores pela coligação adversária. Da familia, ganhou apenas o apoio da irmã Lila Silva, vereadora mais votada do município, com 979 votos. Mas, pela ordem de votação, Kiko, Marcos e Valmir, se tivessem feito opção pela unidade familiar, certamente teriam levado Leandro ao trono, com chances de dar uma surra histórica, porque a soma de suas votações totaliza 2.117 votos.

Na contagem final, Carlos Augusto, o prefeito eleito teve 6.964 votos e Leandro Silva, 6.961. Correndo por fora, o candidato do PMN, Onaldo Tavares, obteve 140 votos, apenas 1% do total apurado. Em 56 seções, 300 eleitores votaram em branco e 839 eleitores anularam os votos. “Meus tios não quiseram romper com o prefeito e eu não forcei a barra”, diz Leandro. “Meu sobrinho fez uma campanha muito competente, caiu na graça do povo, mas não tinha como apoiá-lo. Confesso que foi a pior eleição que enfrentei na vida, vendo um parente tão próximo, com chances de ser prefeito e não poder ajudar”, explica o vereador José Valmir, eleito pela quarta vez pelo PMDB, com 645 votos. Dono de um restaurante, ele confessa que foi objeto de chacota, chamado de Judas. “Meu coração partiu”, avalia.

Mas Leandro não enfrentou apenas familiares. Com apenas 28 mil habitantes e 18 mil eleitores, Junqueiro atraiu forças poderosas, graças à fama dos Pereira, há 50 anos no poder. Além do governador Renan Filho (PMDB), subiram no palanque adversários, os senadoesr Benedito de Lira (PP) - filho da terra - e Fernando Collor (PTB); e o deputado federal Artur Lira (PP). Leandro, agora, promete ir à justiça, para tentar anular o resultado da eleição. O processo, no entanto, não se dará em cima da não leitura das zerésimas das urnas eletrônicas, mas ao que classifica de abuso do poder econômico. “Temos documentos, como vídeos e fotos, de caçambas do PAC entregando areia para eleitores, o que motivou, inclusive, um flagrante nosso levando a promotora para presenciar”, disse.

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