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Anistia: oposição vai levar proposta de redução de penas que tiraria Bolsonaro do regime fechado

Apesar do discurso oficial pelo perdão amplo, aliados do ex-presidente articulam alternativas nos bastidores

Oposição quer levar ao relator do projeto de anistia sugestão que diminuiria penas Oposição quer levar ao relator do projeto de anistia sugestão que diminuiria penas  - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

A oposição prepara uma sugestão de redução de penas que deve ser apresentada ao relator do projeto de anistia, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), na próxima semana. Na prática, a medida poderia retirar o ex-presidente Jair Bolsonaro do regime fechado, fixado após sua condenação a 27 anos e três meses de prisão.

O desenho em discussão tem dois eixos e prevê mudanças na dosimetria para os cinco crimes pelos quais os réus da trama golpista e os demais envolvidos nos atos de 8 de janeiro já foram condenados. O primeiro deles é o perdão total para os dois crimes menos graves, dano qualificado e deterioração do patrimônio.

O segundo é o corte automático entre 1/3 a 2/3 das penas para organização criminosa, tentativa de golpe e abolição violenta do Estado democrático de direito.

A proposta estabelece que seriam beneficiados aqueles que participaram de manifestações com teor político ou eleitoral, ou que deram apoio financeiro e logístico para atos realizados desde o dia 30 de outubro de 2022, data do segundo turno da eleição, até a data da entrada em vigor da lei.

O mesmo marco temporal foi estabelecido no projeto de lei de Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), cuja urgência foi aprovada na Câmara.

Nesse modelo, a pena de Bolsonaro poderia cair para 7 anos e 4 meses de prisão, o que o levaria para o regime semiaberto, já que a punição seria inferior a 8 anos. Caso seja aplicada uma redução menor, a pena poderia ser de 14 anos e 10 meses.

A pena de Bolsonaro foi estipulada pelo STF da seguinte forma:

Organização criminosa: sete anos e sete meses

Abolição violenta do Estado Democrático de Direito: seis anos e seis meses

Tentativa de golpe de Estado: oito anos e dois meses

Dano qualificado: dois anos e seis meses

Deterioração do patrimônio tombado: dois anos e seis meses

Já a proposta da oposição poderia reduzir a pena de Bolsonaro da seguinte forma

Redução máxima (2/3 nos crimes graves)

Organização criminosa: 2 anos e 6 meses

Abolição violenta: 2 anos e 2 meses

Tentativa de golpe: 2 anos e 8 meses

Dano qualificado: perdão total

Deterioração do patrimônio tombado: perdão total

Total: 7 anos e 4 meses

Redução mínima (1/3 nos crimes graves)

Organização criminosa: 5 anos e 1 mês

Abolição violenta: 4 anos e 4 meses

Tentativa de golpe: 5 anos e 5 meses

Dano qualificado: perdão total

Deterioração do patrimônio tombado: perdão total

Total: 14 anos e 10 meses

Paralelamente, circulam propostas de anistia total para maiores de 70 anos — categoria em que Bolsonaro já se enquadra —, mas a ideia é considerada de baixa viabilidade política. Mesmo com eventuais reduções, a inelegibilidade não seria alterada, ponto já aceito pelo ex-presidente, segundo interlocutores.

Anistia ampla e irrestrita
Apesar das articulações, a oposição mantém em público a defesa de uma anistia “ampla e irrestrita”. O líder do PL, Sostenes Cavalcante (RJ), rejeita a tese de cortes de pena:

— Não vejo fundamentação jurídica para isso. Se alguém tem que discutir pena é o STF, não cabe ao Congresso. O relator que me convença que é essa a saída jurídica.

Carlos Jordy (PL-RJ), por sua vez, também reforçou a posição:

— A gente não aceita nada disso e assume o ônus de não ter nada. Ou é anistia ou é nada.

Nos bastidores, no entanto, aliados admitem que a estratégia é manter o discurso da anistia, negociar com Paulinho da Força reduções específicas e, depois, atribuir eventuais restrições ao STF ou ao próprio Congresso. Assim, preservam o capital político de Bolsonaro e apresentam cada concessão como vitória parcial.

Paulinho já sinalizou que não pretende propor perdão total e renomeou a iniciativa de “PL da Dosimetria”.

Bolsonaro pede calma
O próprio Bolsonaro tem orientado aliados a não se anteciparem e darem tempo para que o relator possa apresentar o seu projeto. Neste contexto, integrantes da oposição têm evitado críticas públicas e afirmado que ainda vão debater o mérito com Paulinho. Em público, a base segue defendendo uma anistia geral para todos os envolvidos nos atos de 8 de janeiro, mas em privado atua para assegurar as maiores reduções possíveis.

Segundo o deputado Sanderson (PL-RS), que visitou Bolsonaro na quinta-feira, o ex-presidente demonstrou satisfação com o resultado da votação da urgência do projeto de Crivella, aprovada com 311 votos.

— Para um tema dessa complexidade, é um ótimo indicativo. Mas ele me disse que não tem como se manifestar sem antes conhecer o relatório a ser apresentado pelo relator — afirmou o deputado.

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