Cansaço imposto a Teich pode virar nova cortina de fumaça
Na segunda, Celso de Mello decide sobre o sigilo do vídeo
A semana teve início com depoimentos de delegados da Polícia Federal, entre eles, Maurício Valeixo, ex-diretor-geral do órgão. As auscultas tornaram mais nítido o impacto dos estilhaços oriundos ainda da saída do ex-ministro Sérgio Moro da gestão Jair Bolsonaro. Na esteira, o vídeo da reunião do último dia 22, que teria potencial para desfazer a versão apresentada pelo presidente, foi exibido para alguns na última terça-feira e fez a semana seguir permeada pelo caso Bolsonaro x Moro. Ontem pela manhã, o presidente admitiu o que vinha negando: que mencionou PF no encontro ministerial, alvo de inquérito no STF. A palavra aparecera em transcrição da própria AGU. As explicações que Bolsonaro foi sendo instado a dar sobre o caso foram dividindo espaço com a discordância externada pelo presidente em relação ao ministro da Saúde, Nelson Teich.
Na segunda-feira, o ministro foi surpreendido com a ampliação do rol das atividades essenciais. Na terça, Teich apresentou ressalvas ao uso de cloroquina no Twitter. Na quarta, o presidente, devoto da cloroquina, alfinetou: "Todos os ministros têm que estar afinados comigo". No mesmo dia, Teich cancelou, de última hora, coletiva em que seriam anunciadas as diretrizes para gestão do isolamento social. Na quinta, Bolsonaro desautorizou Teich em videoconferência com empresários. E, ainda ontem pela manhã, o presidente avisou que mudaria o protocolo do uso da cloroquina. No início da tarde, Teich jogou a toalha, no mesmo dia em que o País bateu recorde de mortes em 24 horas: 824 óbitos e 15.305 novos casos. A pauta virou, do vídeo do encontro ministerial para a saída de Teich de cena. Nos bastidores do Congresso Nacional, a tese de que a exoneração seria mais uma cortina de fumaça ganhou força. Mas ela pode se dissipar em breve, uma vez que Celso de Mello ficou de decidir, na segunda, sobre sigilo do vídeo da reunião, mencionada por Moro como prova de tentativa de interferência na PF. Na política, pesa a máxima, segundo a qual tudo, em política, que você precisa explicar é ruim. Ainda mais quando isso tira o foco do problema maior no País: uma pandemia com 14.817 óbitos.
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