Com bate-boca e hinos religiosos, deputado Sóstenes Cavalcante assume Frente Parlamentar Evangélica
O posto foi transmitido pelo agora ex-presidente da bancada, Cezinha de Madureira (PSD-SP)
O deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) assumiu nesta quarta-feira (9) o comando da Frente Parlamentar Evangélica, uma das mais importantes do Congresso Nacional que congrega 115 deputados e 14 senadores. O posto foi transmitido pelo agora ex-presidente da bancada, Cezinha de Madureira (PSD-SP).
No fim de 2020, Sóstenes e Cezinha fecharam um acordo para revezar a presidência da bancada em 2021 e 2022. O pacto ameaçou ser quebrado por uma rixa interna entre duas lideranças da Assembleia de Deus — o bispo Samuel Ferreira, do Ministério Madureira, e o pastor Silas Malafaia, do Ministério Vitória em Cristo, mentor de Sóstenes.
No fim do ano passado, em um culto no qual estavam presentes o presidente Jair Bolsonaro e o novo ministro do Supremo Tribunal Federal, André Mendonça, o bispo Ferreira defendeu a recondução de Cezinha ao cargo. A fala irritou Malafaia, que cobrou a "palavra e o caráter" dos líderes da Madureira. A partir daí começou nas redes sociais uma troca de ofensas em áudios e vídeos divulgados por Malafaia e o deputado Abílio Santana (PL-BA), que é do Ministério Madureira.
O pastor chamou o parlamentar de "cachorro morto" e "mau caráter", e o deputado retrucou que um "tal de cínico malafeia falava bobagem".
A crise arrefeceu quando Malafaia entrou em contato com o bispo Abner Ferreira, irmão de Samuel, no início deste ano. O pastor lembrou que tem o maior respeito pelo Ministério Madureira, ao qual já fez parte e tem familiares pastores. Ferreira, por sua vez, teria garantido o acordo combinado em 2020 por Cezinha e Sóstenes, que se acertaram e passaram a dizer que nunca tiveram problemas um com o outro, nos últimos dias.
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Apesar das falas sobre a amizade "inabalável" entre os dois, Sóstenes se precaveu e registrou o combinado de 2020 em vídeo e documento lavrado em cartório e com a assinatura de quatro parlamentares da Madureira.
Em sessão nesta quarta-feira, Cezinha confirmou que faria a transmissão de cargo a Sóstenes, mas frisou que o acordo não havia sido formalizado. "O que existe hoje é um combinado entre nós", disse ele.
Sóstenes, logo, reagiu, dizendo que "houve sim o acordo". Ex-presidente da Frente, deputado Silas Câmara interveio para dizer que o impasse já estava "pacificado". "É só uma questão burocrática".
O bate-boca ocorreu logo depois de Cezinha fazer um discurso de união da bancada evangélica.
"Nós somos unidos, não tem nada de dividido aqui. (...) Esta guerra não é contra nós, é contra as potestades malignas, não é um tipo de comentário que vai nos separar. Nada vai nos separar", declarou ele.
A "questão burocrática" esbarrava numa determinação do estatuto da Frente, que definia mandato de dois anos para os mandatários. Com isso, Cezinha teve que renunciar ao posto para passá-lo a Sóstenes. Em sessão, que ocorreu a portas fechadas, os parlamentares aproveitaram para mudar o regimento estabelecendo mandatos de apenas um ano.
A posse do novo presidente foi precedida pelo culto da "Santa Ceia", que tradicionalmente abre os trabalhos legislativos da bancada na Câmara. Durante a cerimônia, uma banda gospel, com violão e teclado, entoou orações e hinos religiosos.
"Derrota não é coisa de cristão", cantaram os parlamentares. Na hora da pregação, Silas Câmara destacou que os deputados presentes eram "a boca de Deus no Parlamento".
"Se Deus é por nós quem será contra nós. Ninguém será nosso adversário", pontuou ele.