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Com sintomas de gripe, Lula encurta agenda na França após discurso em conferência da ONU

Com a voz rouca, brasileiro deveria ficar até a sessão plenária da 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, mas saiu mais cedo

Lula discursa na 3ª Conferência dos Oceanos das Nações UnidasLula discursa na 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas - Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encurtou sua agenda na França nesta segunda-feira, último dia da visita oficial ao país, devido a sintomas de um resfriado. Lula participou pela manhã da abertura da 3ª Conferência da ONU sobre os Oceanos (UNOC3), em Nice, mas deixou o evento antes da plenária, como inicialmente previsto.

Com a voz rouca e pigarros durante a fala, Lula discursou com atraso de quase duas horas em relação ao horário divulgado pelo Palácio do Planalto. No palco principal do evento, o presidente fez uma brincadeira sobre o nome da cidade anfitriã — disse que imaginava que “Nice” fosse uma homenagem a uma mulher, mas que aprendeu se tratar de uma palavra derivada de niké, que significa “vitória” em grego.

— Temos orgulho de ser uma nação oceânica — afirmou o presidente, ao mencionar o conceito de “Amazônia Azul”, referência à costa brasileira. — As duas Amazônias sofrem o impacto das mudanças do clima.

A participação de Lula na cerimônia de abertura não estava prevista inicialmente. A antecipação foi mencionada por Rodrigo Chaves, presidente da Costa Rica e atual presidente da conferência. Ao fim do discurso, Lula reforçou o convite para a COP30, marcada para novembro em Belém, afirmando que é preciso convencer as lideranças a acreditar nas mudanças climáticas e a investir na educação sobre o tema.

— Quem defende a Amazônia precisa ver a nossa COP30.

Na mesma sessão, o presidente da França, Emmanuel Macron, dirigiu-se diretamente ao “caro Lula” e destacou a convergência entre os objetivos da UNOC3 e da COP30. Em tom crítico, fez uma provocação indireta ao bilionário Elon Musk, ao afirmar que é preciso explorar “nossa última fronteira, os oceanos, em vez de nos precipitarmos para Marte”. Macron também reagiu a iniciativas de anexação de territórios, ao citar de forma velada o presidente americano, Donald Trump:

— A Groenlândia não está aí para ser tomada — declarou o francês, em referência à proposta de Trump de adquirir o território da Dinamarca.

Ainda na manhã desta segunda-feira, Lula encerrou sua passagem pela França com uma visita à sede da Interpol, em Lyon. O encontro, previsto originalmente para a tarde, foi antecipado em função do mal-estar do presidente. Recebido pelo secretário-geral da organização, o brasileiro Valdecy Urquiza, Lula destacou o ineditismo da visita:

— É a primeira vez que um presidente brasileiro visita a sede da Interpol. É motivo de orgulho ser recebido por outro brasileiro que chegou ao cargo mais alto da organização, [que] atua na busca da pressão de alguns dos criminosos mais perigosos do planeta. Combate o terrorismo, resgata vítimas de tráfico e de exploração sexual e protege o meio ambiente.

Agenda carregada
Lula, que completa 80 anos em outubro, já havia demonstrado sinais de indisposição no domingo, durante participação no Fórum de Economia e Finanças Azuis, em Mônaco. Durante o discurso, tossiu e assoou o nariz. Mais tarde, o governo informou o cancelamento de sua presença em um jantar de gala e anunciou as alterações na agenda de segunda-feira.

A passagem pela França começou em 4 de junho e foi marcada por uma agenda intensa. No dia seguinte, mesmo sob chuva fina e temperatura de 15°C, o presidente participou de uma cerimônia com Macron e as primeiras-damas diante da Torre Eiffel iluminada com as cores do Brasil.

Coorganizada por França e Costa Rica, a UNOC3 reúne até sexta-feira líderes políticos, organizações internacionais e representantes da sociedade civil. O objetivo é fortalecer o compromisso com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 da ONU: conservar e usar de forma sustentável os oceanos e seus recursos até 2030.

Dados recentes alertam para a urgência da pauta: o nível médio do mar subiu 20 cm entre 1901 e 2018; a temperatura dos oceanos aumentou 1,5°C no último século; e a acidificação oceânica já cresceu 30% desde a era pré-industrial. Além disso, 37,3% dos estoques pesqueiros estão sobre-explorados.

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