Denúncias complicam Temer
Situação do chefe do Executivo se agrava com revelações feitas pelo Ministério Público Federal e pelas delações de Joesley
Na mesma hora em que os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgavam a cassação do mandato da chapa Dilma-Temer, na manhã de ontem, no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer demonstrava um inusitado otimismo.
Aproveitando o lançamento do Plano Agrícola e Agropecuário 2017/2018, afirmou à plateia presente se sentir motivado para “conduzir o governo até 31 de dezembro de 2018”. Um bom-humor que não deve ter resistido às novas denúncias divulgadas durante o dia. Episódios que insinuam que o presidente talvez não tenha motivos robustos para se preocupar com o TSE, mas terá que ter muito cuidado com as acusações que lhe vêm sendo feitas no âmbito do Ministério Público Federal, que pautam o inquérito apresentado ao Superior Tribunal Federal.
O primeiro episódio a acender o alerta no Palácio do Planalto relaciona-se ao uso do avião da JBS pelo presidente, registrado no diário de bordo da aeronave, em 12 de janeiro de 2011. O governo já havia reconhecido, no início do dia de ontem, que Temer utilizara um avião particular para levar a família a Comandatuba, no litoral norte da Bahia, e não um jato da FAB, como tinha afirmado na terça. Mas os assessores palacianos enfatizaram que o peemedebista não sabia que se tratava de um jato de propriedade de Joesley Batista nem tinha feito “pagamento pela viagem”. Foram, novamente, surpreendidos pela delação do empresário.
Na confissão feita ao MPF, Joesley descreveu que, além do registro do diário de bordo, o próprio Temer telefonou para ele, na ocasião, a fim de agradecer o envio de flores para enfeitar a aeronave que seria usada pela sua família. A afirmação de Joesley foi confirmada. Nos bastidores, auxiliares e assessores do presidente reconhecem que o avião era do empresário. O prefixo da aeronave do executivo é PR-JBS, ou seja, contém o nome da empresa.
Segundo a assessoria presidencial, Temer prestará explicações sobre o caso “no devido momento”, dentro do inquérito aberto contra ele. Para justificar o recuo, a equipe do presidente disse que cometeu um erro e que pesquisou a agenda de 12 de janeiro, mas não encontrou o compromisso. Segundo auxiliares de Temer, o próprio peemedebista não se recordava da viagem e só se lembrou após conversa com Marcela na noite da última terça-feira.
Propina
A segunda denúncia a abalar o Palácio do Planalto foi feita quase no final da tarde de ontem, quando o MPF divulgou que a empreiteira OAS pagou R$ 500 mil em valores ilícitos ao ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), por meio da conta de campanha do então candidato a vice-presidente Michel Temer (PMDB) em 2014. Henrique Alves foi preso na última terça, em Natal em uma operação relacionada à Lava Jato. Segundo o MPF, da conta de Temer, o dinheiro foi destinado ao diretório do PMDB potiguar, que teria repassado o valor à campanha de Alves. Todas as transações foram feitas em 11 de setembro daquele ano.
Na prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral, consta a movimentação de R$ 500 mil em 11 de setembro de 2014 em uma doação do diretório estadual do partido, citando que o “doador originário” é a OAS. Segundo denúncia do MPF, Alves teria recebido propina fruto de contratos superfaturados de empreiteiras. Um deles foi a construção da Arena das Dunas, em Natal, feita pela OAS. O Palácio do Planalto negou que a transferência tenha sido realizada pela campanha do vice-presidente.
A avaliação do Palácio é que há uma estratégia deliberada por parte do MPF para minar Temer ao longo dos dias e que o órgão ainda tem “cartas na manga” não divulgadas.
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