Política

Diretor da PF ligado aos Bolsonaros terá dificuldade após nomeação polêmica, diz Maia

O novo diretor-geral da PF era diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e é homem de confiança do presidente e de seus filhos

Rodrigo Maia Rodrigo Maia  - Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta terça-feira (28) que o novo diretor-geral da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, enfrentará dificuldades na corporação pela controvérsia causada por sua nomeação pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O novo diretor-geral da PF era diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e é homem de confiança do presidente e de seus filhos.

Maia concedeu na tarde desta terça entrevista ao programa do apresentador José Luiz Datena, na Band. Na conversa, o deputado afirmou não conhecer Ramagem, mas disse fazer a avaliação de que ele terá "dificuldade na corporação, na forma como ficou polêmica a sua nomeação".

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"A gente sabe que a Polícia Federal é uma corporação muito unida, que trabalha de forma muito independente. Qualquer tipo de interferência é sempre rechaçado. A gente viu em outros governos que foi assim. Mas eu não conheço [Ramagem]", disse.

O escolhido para a PF substitui Maurício Valeixo, que foi exonerado por Bolsonaro em um episódio que levou o então ministro da Justiça, Sergio Moro, a sair do governo.

O ex-juiz acusou o presidente de tentar interferir nas investigações da PF.
Delegado de carreira da Polícia Federal, Ramagem se aproximou da família Bolsonaro durante a campanha de 2018, quando comandou a segurança do então candidato a presidente.

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é um dos seus principais fiadores e esteve diretamente à frente da decisão que o levou ao comando da agência de inteligência em junho passado.

Carlos é investigado pela PF, conforme revelou a Folha de S.Paulo no sábado (25), como um dos articuladores de um esquema criminoso para espalhar fake news. Bolsonaro quer Ramagem à frente da corporação que apura a conduta do próprio filho.

Na entrevista, Maia elogiou André Mendonça, que estava à frente da AGU (Advocacia Geral da União) e que vai substituir Sergio Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública.

"O ministro André fazia um ótimo trabalho na AGU. Vai fazer um ótimo trabalho no Ministério da Justiça. É um quadro preparado, equilibrado", afirmou.

O deputado também elogiou a escolha do procurador-geral da Fazenda, José Lévi, para a AGU. "São duas escolhas que podem, de fato, ajudar o governo do ponto de vista da sua interlocução, principalmente com o Poder Judiciário", afirmou.

Maia voltou a pedir paciência em relação aos pedidos de impeachment que se acumulam na Câmara -já são cerca de 30.

"A gente tem que ter prioridade. Houve um conflito do presidente com o ministro, vai para impeachment... Não é assim. Nós temos que ter equilíbrio, paciência", afirmou.

Maia, hoje rompido com Bolsonaro, é o responsável por analisar de forma monocrática se dá ou não sequência aos pedidos de impeachment. Ele não tem prazo para tomar essas decisões.

Caso seja dada sequência, o caso é analisado por uma comissão especial e, depois, pelo plenário da Câmara. Somente com o voto de ao menos 342 dos 513 deputados é autorizado que o Senado abra o processo.

Nesse caso, Bolsonaro seria afastado até a conclusão do julgamento -ele perderia o mandato caso pelo menos 54 dos 81 senadores votassem nesse sentido.

O Brasil já teve dois episódios de impeachment com base na lei de 1950 que regulamenta o tema: o de Fernando Collor (1992), que renunciou antes da decisão final do Senado, e o de Dilma Rousseff (2016).

Sobre as negociações de Bolsonaro com os partidos do chamado centrão -grupo formado por partidos de centro e de centro-direita que reúnem cerca de 200 dos 513 deputados-, Maia fez avaliação positiva.

O presidente tem se reunido com partidos como PP, PL, Republicanos e PSD para discutir a distribuição de cargos às siglas.

"É bom caminho o governo ter uma base de apoio, aliados, partidos que construam um apoio ao governo, principalmente nesse momento da pandemia", afirmou o presidente da Câmara.

"O importante é o diálogo. Se o governo abriu o diálogo para estar mais próximo de uma parte do Parlamento, dos partidos que representam a Câmara dos Deputados e o Senado, acho que é bom", completou.

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