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Política

[EM APURACAO] PSL tenta colocar panos quentes em racha, mas não pacifica alas descontentes

Nas últimas semanas, o presidente tem avaliado a possibilidade de deixar o PSL e se filiar a uma outra sigla pequena ou a um partido em formação

Presidente Jair BolsonaroPresidente Jair Bolsonaro - Foto: Isac Nóbrega/PR

Deputados do PSL começaram um movimento de colocar panos quentes no racha deflagrado após a crítica pública do presidente Jair Bolsonaro ao partido. A bancada, no entanto, segue em conflito.

Os parlamentares fizeram uma longa reunião na noite desta terça-feira (8). De lá, saíram com um "pacto de silêncio". Segundo deputados ouvidos pela reportagem, houve um acordo para que não se falasse publicamente, à imprensa ou nas redes sociais sobre o que foi discutido na sala da liderança do partido na Câmara.

Nesta terça-feira, Bolsonaro afirmou a um apoiador para esquecer o PSL e disse que o presidente do partido, Luciano Bivar (PE), está "queimado para caramba" em seu estado.

Nas últimas semanas, o presidente tem avaliado a possibilidade de deixar o PSL e se filiar a uma outra sigla pequena ou a um partido em formação. Na segunda (7), Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto a advogada Karina Kufa, que está em embate interno dentro do PSL contra o grupo de Bivar.

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A declaração do presidente gerou reação forte de líderes da legenda. O senador Major Olímpio (PSL-SP), líder do partido na Câmara, afirmou que o PSL foi pego de calças curtas e que estava perplexo.

O líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), disse à revista Época que o "quintal de Bolsonaro também está sujo", em referência à investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, investigado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa -os crimes supostamente praticados estão ligados ao gabinete dele na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Na Câmara, os deputados que se pronunciaram adotaram tom apaziguador. Coronel Tadeu (SP) afirmou que a bancada está pacificada e que não há discussão sobre o assunto. Delegado Waldir (GO), líder do PSL na Casa, chegou a afirmar que o partido é "100% Bolsonaro e 100% Bivar".

Nelson Barbudo (MT) saiu da sala dizendo que não queria ser abordado pela imprensa e brincou fingindo não conseguir falar. Os parlamentares seguiram para jantar com o ministro da Justiça, Sergio Moro, em encontro sobre o pacote anticrime patrocinado por ele.

O presidente da legenda, porém, não foi ao encontro, que, por outro lado, contou com a presença de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Os dois representam grupos opostos do PSL, um mais ligado à sigla e outro mais ligado ao próprio presidente.

Apesar da tentativa de pacificar a legenda, parlamentares ainda demonstram insatisfação com a fala do presidente e também com a reação do partido de abafar o caso.

Segundo um deputado que participou da reunião, os congressistas adotaram postura pró-Bolsonaro por causa da presença de Eduardo e reclamou que, na presença de Bivar, o discurso era o oposto, o que demonstraria falta de lealdade dos correligionários.

Após a reunião, Delegado Waldir minimizou o desconforto entre Bolsonaro e Bivar e afirmou que este último está "tranquilíssimo" e disse que será marcado um encontro entre a bancada e o presidente para "aparar as arestas".

Já o deputado pernambucano evitou circular nas dependências da Câmara durante todo o dia, não compareceu à reunião e não quis comentar as críticas.

Em reportagens publicadas desde fevereiro, o jornal Folha de S.Paulo revelou esquema de desvio de verbas públicas do PSL por meio de candidatas femininas de fachada, caso que atinge não só o ministro do Turismo de Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio, mas também Bivar.

O presidente da sigla começou a ser investigado pela Polícia Federal após a Folha de S.Paulo revelar que ele patrocinou a destinação de R$ 400 mil de verba eleitoral do partido para uma secretária da sigla em Pernambuco, a quatro dias da eleição.

Maria de Lourdes Paixão oficialmente concorreu a deputada federal e, apesar de ser a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, obteve apenas 274 votos.
O PSL foi criado em 1998 por Bivar e, nos 20 anos seguintes, foi uma sigla nanica, de baixíssima expressão política nacional.

Somente no começo de 2018 a sua história mudou ao acertar a filiação de
Bolsonaro, que desistiu de ingressar no Patriota e sacramentou a sétima mudança de partido em sua carreira política.

Com a onda que deu a vitória a Bolsonaro em outubro de 2018, o PSL foi a sigla mais votada e acabou elegendo a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados.

Os cofres do partido também ficaram recheados. Em 2018 a sigla recebeu pouco mais de R$ 9 milhões do fundo partidário, que é a fonte pública de receita das legendas. Com os votos recebidos na onda Bolsonaro, o partido terá essa verba multiplicada por 12 neste ano, sendo a número 1 do ranking, com cerca de R$ 110 milhões.

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